Por uma sexualidade livre e responsável
O Grupo Parlamentar vai reapresentar na próxima Legislatura o seu projecto de lei sobre a despenalização do aborto a pedido da mulher.
Estava-se em pleno debate sobre o planeamento familiar, que ocupou na íntegra a pedido do PSD a agenda de uma das sessões plenárias da passada semana, quando o anúncio foi feito pela deputada comunista Odete Santos. Por si invocado, entre outras consabidas razões que justificam o relançar do diploma, foi um relatório preliminar ao Inquérito à Fecundidade e Família, no qual se conclui pela existência de uma significativa percentagem de gravidezes que terminam em interrupção voluntária.
A questão do aborto
clandestino, enquanto grave problema de saúde pública, acabou,
aliás, por ser uma das questões a polarizar o debate, por
intervenção directa das deputadas comunistas Odete Santos e
Luísa Mesquita.
Rompendo silêncios e hipocrisias, delas partiu, concretamente, o
apelo a uma intervenção qualificada da Assembleia da
República, no pressuposto, sublinharam, de que esta «não pode
alhear-se do real flagelo que vitima e violenta milhares de
mulheres e jovens mulheres portuguesas».
Uma realidade que todos os inquéritos e estudos confirmam, do
mesmo modo que não existem dúvidas quanto ao facto de serem os
estratos sociais mais desfavorecidos - lembrou-o Luísa Mesquita
- os mais penalizados no acesso à educação sexual, no acesso
ao planeamento familiar e, consequentemente, aqueles que mais
engrossam as estatísticas dos abortos clandestinos.
Posta em evidência pela bancada comunista ao longo do debate foi
ainda a forma como direitos consagrados no nosso ordenamento
jurídico continuam a ser letra morta para muita gente. Com
efeito, como foi dito, continua a haver quem pense que o
planeamento familiar e a educação sexual não são direitos,
isto quase vinte anos depois de o PCP ter apresentado no
Parlamento um projecto de lei pioneiro sobre esta matéria, no
qual era sublinhada a importância de uma Lei da República que
«consagre o direito à paternidade e maternidade livres e
conscientes».
O que falta, pois, como sublinharam as deputadas do PCP, é
«agir, pôr em prática o exercício legislativo, optimizar os
recursos existentes», cabendo ao Governo, para tanto, mobilizar
os meios necessários que permitam «uma parentalidade
consciente, considerando-a como um direito e uma medida de saúde
e nunca um factor de política demográfica».