Chile
Estados
Unidos implicados em atentados
Os Estados Unidos tinham conhecimento da Operação Condor, criada pelo governo chileno de Augusto Pinochet para combater militantes de esquerda latino-americanos que contava com a cooperação da Argentina, do Paraguai, da Bolívia e do Uruguai.
Segundo a edição
de quinta-feira do diário espanhol El Pais, o FBI chegou
mesmo a procurar colaboradores de organizações chilenas de
esquerda a pedido de Pinochet, durante os anos 70. Agentes de
Nova Iorque e de Dallas tentaram localizar pelo menos duas
pessoas cujos nomes figuravam numa agenda de um homem que
funcionava como correio de um grupo marxista clandestino chileno,
o Movimento de Esquerda Revolucionário, detido no Paraguai em
1975.
Documentos secretos do FBI provam que a polícia federal
norte-americana colaborou com a ditadura chilena durante muitos
anos e mostram quais os métodos e as formas de cooperação
habituais com forças de outros países.
Como sublinha o El Pais, as relações entre os Estados
Unidos e o regime chileno são um elemento importante para o
processo contra Pinochet levantado pelo juíz espanhol Baltasar
Garzón. Destes documentos pode depender a acusação contra o
antigo ditador de ser responsável pelos assassinatos de Orlando
Letelier, ex-ministro chileno dos Negócios Estrangeiros e
embaixador nos EUA do governo de Salvador Allende, e Ronni
Moffitt, seu colaborador. Ambos morreram na explosão de um carro
armadilhado em 1976 em Washington.
Robert Scherrer, membro do FBI e conselheiro da Embaixada
norte-americana em Buenos Aires, antes de morrer em 1995, gravou
uma declaração em que afirmava a sua convicção pessoal de que
Pinochet tinha autorizado os assassinatos.
Os apoiantes de Pinochet
O jornal Financial
Times revelou recentemente uma lista de nomes de apoiantes
chilenos e britânicos de Pinochet no campo político e
económico, que pagam as contas do processo judicial, dos seus
gastos pessoais e das campanhas de publicidade e relações
públicas.
Tendo já juntado quase 540 mil contos, os apoiantes do antigo
ditador contam com personalidades do mundo político, como a
ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher que já
defendeu Pinochet num artigo publicado pelo The Times.
Nesta lista incluem-se ainda o nome de Patrick Robertson, antigo
director de comunicações do falecido financeiro James
Goldsmith; de Charles Alexander, banqueiro com negócios no Chile
há mais de 20 anos; e de Tim Bell, dono de uma empresa de
relações públicas e acessor do Partido Conservador.
Entre os chilenos encontram-se Hernán Briones, dono de empresas
de materiais de construção, imobiliárias e cimenteiras; Carlos
Cáceres, ex-ministro das Finanças; Eugenio Heire, presidente da
Associação de Seguros do Chile e proprietário de uma
seguradora; Ricardo Claro, um dos homens mais ricos do país e
dono de 50 por cento das acções do jornal El Diario e da
cadeia televisiva Megavisión; e Alfonso Márquez de Plata,
antigo ministro e director da Fundação Pinochet.
As despesas do antigo ditador atingem valores elevados. A renda
da casa onde está instalado em Inglaterra ultrapassa os dois mil
e 600 contos por mês, e já foram gastos mais de quatro mil e
500 contos em advogados e cerca de oito mil e 500 contos em
relações públicas.
Foram fundadas duas organizações a favor de Pinochet: o
Movimento Chileno pela Reconciliação e o Movimento de Apoio a
Pinochet. Uma das suas primeiras iniciativas visava comparar o
governo eleito de Salvador Allende com o regime militar através
de uma falsa denúncia sobre uma suposta tortura de Juan Luis
Ossa em 1972. A imprensa apressou-se a desmentir: Ossa era
dirigente do grupo fascista Pátria e Liberdade e foi detido por
posse de armas. A sua tentativa de confiundir o agente da
polícia que o deteve valeu-lhe uma condenação em tribunal.
Não houve qualquer detenção ilegal ou tortura.