Suspensão
da co-incineração
Uma vitória das populações
A suspensão da co-incineração de resíduos industriais perigosos foi saudade, em Coimbra, e pelas populações de Maceira e Souselas, como uma vitória.
Uma vitória «fruto
da luta, da convergência que esta permitiu alcançar, e da
correlação de forças existente no Parlamento», como destacou
a Comissão Concelhia de Coimbra do PCP, que valoriza ainda as
diversas frentes em que esta acção de contestação se tem
vindo a desenvolver - luta de massas, acção autárquica,
intervenção legislativa, contribuição científica,
procedimento judicial.
Para a associação cívica «Pro Urbe», que considera que,
neste processo, «houve conquistas muito importantes para além
da anulação da decisão ministerial», nomeadamente o
aprofundamento da consciência ecológica dos cidadãos, a luta
em curso constitui «um bom augúrio para aqueles que lutam pelo
fortalecimento da democracia e pelos princípios da cidadania
activa».
Neste novo quadro, em que se recoloca a urgência de uma
política nacional de resíduos, a Assembleia Metropolitana de
Lisboa, reunida no passado dia 22 de Fevereiro no Auditório da
Junta de Freguesia de S. João de Brito, aprovou, por
unanimidade, uma moção em que se propõe que «o processo para
a co-incineração só avance quando estiver garantido que as
populações afectadas não verão agravada a sua qualidade de
vida, nem posto em causa o seu direito à saúde».
Uma tal situação «passa pela apresentação e discussão, tão
rapidamente quanto possível, de uma política nacional de
resíduos, global e sustentada, e pela elaboração, em prazo
aceitável e com base no Código Europeu de Resíduos, de um
inventário completo dos materiais desse tipo produzidos no
país», defende a AR de Lisboa.
Por uma
política
de resíduos integrada
A Assembleia
Metropolitana de Lisboa considera que o problema da
co-incineração não pode ser analisado isoladamente, «tendo de
integrar-se no contexto de uma política nacional de resíduos
integrada, numa política de ambiente global e orientada para um
crescimento sustentado e sustentável».
Um documento que não existe e que deverá ser «amplamente
discutido, contribuindo para a sua redacção final todos os
parceiros envolvidos e interessados».
Assim, a co-incineração, a ser considerada, surge como «um dos
passos do processo, considerado como um todo», e de que a
primeira medida é definir o destino dos resíduos, fixar os que
deverão ser reutilizados, os que deverão ser recuperados, ou
reciclados, ou sujeitos a tratamentos físico-químicos, e
finalmente os que deverão ser incinerados ou depositados em
aterro. Sempre na perspectiva de não vir a criar «um risco
efectivo para as populações e para o ambiente» e da
necessidade de criar condições para a adopção de tecnologias
economicamente viáveis, privilegiando o social e o humano.
Em síntese, «haverá que esgotar primeiro as outras hipóteses
de tratamento e destino final, antes de optar pela incineração.
Só se deverá queimar o que for possível valorizar
energeticamente por essa via, e sem que a unidade fabril em causa
e o ambiente circundante corram riscos, desnecessários e
inaceitáveis».
As unidades de transferência, que poderiam desempenhar
fisicamente o papel de centros de cassificação e
caracterização dos resíduos, teriam que ser logicamente
localizadas «fora do tecido urbano», pelo que a QuimiParque, no
Barreiro, não, «em caso algum, uma localização a reter».
A concluir, a moção aprovada defende que «a saúde das
populações e o equilíbrio do ambiente não podem ser postos em
causa por indústrias, por actividades, produtivas ou outras, de
qualquer tipo» e tão pouco «a criação de emprego, de riqueza
e de bem estar das populações» poderá ser obtido «à custa
dos valores das gerações futuras».
Impõe-se, assim, encontrar uma solução adequada, em que
«ninguém se poderá desresponsabilizar» e o papel das
populações e das autarquias terá de ser respeitado e aceite.