Argentina
Médico
confirma
rapto de crianças
A ditadura militar que dominou a Argentina entre 1976 e 1983 sancionou o rapto de filhos de presos políticos encarcerados em prisões clandestinas e posteriormente dados como «desaparecidos». A confirmação do que há muito vem sendo denunciado pelas «Avós da Praça de Maio» foi feita por Júlio César Caserotto, um médico militar, em declarações ao juíz federal Adolfo Bagnasco.
Júlio Caserotto,
que está a ser ouvido no âmbito de um processo de
investigação sobre a existência, durante a ditadura militar,
de um plano sistemático para a apropriação e troca de
identidade de menores, nascidos em prisões clandestinas ou
capturados com os seus pais, admitiu ter assistido, num hospital
do Exército, aos partos de doze mulheres que se encontravam em
prisões ilegais, mas que por ordem dos seus superiores não
efectuou o registo oficial desses nascimentos.
«Não se fez o registo dos nascimentos em nenhuma espécie de
documento», declarou. Caserotto, que confirmou a existência de
«ordens verbais e escritas dadas por superiores para que se
assistissem parturienses que eram conduzidas ao local por pessoal
dos serviços secretos», chefiou o serviço de obstetrícia e
ginecologia do hospital militar de Campo de Mayo, nos arredores
de Buenos Aires, entre 1977 e 1983.
Segundo a Lusa, os advogados das «Avós da Praça de Maio» -
organização humanitária que interpôs uma acção para
determinar o paradeiro de 194 bebés - declararam à imprensa que
o depoimento do médico militar confirma a existência de um
«plano deliberadamente concebido» pelas autoridades militares
para «se apropriarem dos filhos de desaparecidos». Embora se
desconheça o destino dado às crianças, presume-se que a
maioria tenha sido vendida a casais sem filhos, sobretudo no
estrangeiro, mas também não é posta de parte a sua
utilização para a venda de órgãos.
O delito de sequestro e troca de identidade de menores não é
contemplado na lei de «Obediência Devida», sancionada em 1987
durante a presidência de Raúl Alfonsín, que isentou de
responsabilidade criminal os membros das Forças Armadas e de
Segurança.
Graças a este facto, as «Avós da Praça de Maio» puderam
desencadear o processo em curso, que levou já à detenção dos
ex-presidentes Jorge Videla e Reynaldo Bignone, entre outros
chefes militares.