CGTP mobiliza
para a luta
Resposta
global
ao pacote laboral
Uma resposta de «luta firme e determinada dos trabalhadores na defesa dos seus direitos» está a ser preparada pelo movimento sindical unitário. O dia 25 de Março tem lugar de destaque no conjunto das acções aprovadas sexta-feira, no plenário nacional de sindicatos da CGTP. Nessa quinta-feira, trabalhadores e activistas de todo o País concentram-se nos Restauradores e em São Bento.
Mas - estimulados
pelos resultados das lutas travadas desde o surgimento do pacote
laboral do Governo PS - os sindicalistas decidiram levar a cabo
diversas iniciativas no dia 11, quando serão discutidos na AR os
primeiros projectos que integram a mega-operação de subversão
das normas legais que regem as relações de trabalho. Até lá,
as comemorações do Dia Internacional da Mulher também
proporcionarão uma boa oportunidade para o esclarecimento, a
mobilização e o protesto dos trabalhadores e dos sindicatos.
Esta ofensiva legislativa foi «reclamada pelos patrões mais
conservadores e assumida pelo Governo» e «visa pôr em causa
pilares fundamentais do Direito de Trabalho, que são condição
fundamental de progresso e justiça social, como sejam o direito
ao trabalho e à segurança no emprego, a horários e salários
dignos, à contratação colectiva e à liberdade sindical, à
proibição da discriminação das mulheres e dos jovens
trabalhadores e o direito à Segurança Social», recorda-se na
resolução político-sindical aprovada dia 26, por unanimidade,
e onde se regista que «também em relação à Administração
Pública, foi apresentado um conjunto de diplomas que articula
conteúdos graves para estes trabalhadores, com uma política de
privatizações, quando o que se impõe é a defesa, melhoria e
extensão dos serviços públicos».
A luta já desenvolvida obrigou o Governo a remeter para a AR
vários projectos que pretendia aprovar simplesmente em Conselho
de Ministros. A CGTP salienta que também foi impedida a sua
discussão no período de férias, «anulando-se, assim, o
propósito de os fazer passar nas costas dos trabalhadores».
A discussão pública dos projectos legislativos com conteúdos
gravosos - com destaque para a proposta de lei sobre a
generalização do trabalho a tempo parcial e respectivos
incentivos ao patronato - «teve um resultado inequívoco: a
rejeição clara, por parte dos trabalhadores e dos seus
sindicatos».
Entretanto, foi agendado para discussão na AR, dia 11 de Março,
o projecto que preconiza a participação do patronato na
elaboração da legislação do trabalho. Sexta-feira foram
colocados à discussão pública, até 27 de Março, as propostas
de sobre férias e sobre o conceito de retribuição. Para o
início de Abril está prevista a discussão no Parlamento das
propostas sobre trabalho a tempo parcial, férias e «lay-off».
«Isto é uma verdadeira afronta aos trabalhadores, tanto mais
grave quanto ocorre por ocasião dos 25 anos do 25 de Abril e que
só pode ter uma resposta: a luta firme e determinada dos
trabalhadores na defesa dos seus direitos», frisa-se na
resolução. Carvalho da Silva, intervindo no final do plenário,
apelou a que, contra esta «ofensiva generalizada», seja dada
uma resposta geral e com conjugação de esforços. O coordenador
da CGTP defendeu a articulação do combate ao pacote
laboral com as lutas por melhores salários, pela redução de
horários e em defesa do emprego, entre outros objectivos que
mobilizam hoje muitos trabalhadores em todo o País.
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Madeiras
As condições de
vida e de trabalho nas indústrias de madeira podem e devem ser
melhoradas, desde logo no pagamento regular de salários que
tenham em conta a capacidade económica e financeira das empresas
e a necessidade de superar as enormes diferenças entre as
remunerações praticadas em Portugal e nos demais países da UE.
Esta exigência do Encontro Nacional de Trabalhadores que teve
lugar no passado sábado, em Paços de Ferreira, promovido pela
Federação da Construção, Madeiras, Mármores e Materiais de
Construção, é contrariada pelo conteúdo do pacote
laboral, pois este «vem mais uma vez penalizar os trabalhadores
e defraudar a Segurança Social».
Aprovada por unanimidade e aclamação, a resolução principal
do encontro expressa a disponibilidade dos participantes para
integrarem a acção da CGTP, marcada para dia 25 de Março, em
Lisboa. No documento exige-se ainda o fim da discriminação
salarial das mulheres, «uma actuação firme» do Governo e da
IGT no combate à fuga ao fisco e à Segurança Social, o
respeito pela democracia sindical e o cumprimento correcto da
semana de 40 horas, com respeito pelas pausas.
Fábricas militares
O plenário de
representantes dos trabalhadores dos estabelecimentos fabris das
Forças Armadas responsabilizou o Governo pelo clima de
agitação que possa ser desencadeado no sector, onde a ofensiva
contra os direitos tem como principal instrumento a recusa do
vínculo público do pessoal dos EFFAs. Na moção aprovada dia
23 é especialmente criticado o projecto de Estatuto aplicável
aos trabalhadores dos estabelecimentos fabris do Exército, da
responsabilidade do secretário de Estado José Penedos, que
ignora a equiparação, desde sempre, à Administração
Pública, relativamente a aposentação e assistência na
doença, estatuto disciplinar, férias, licenças, regime de
pensão unificada, aumentos salariais e outras matérias. O
vínculo público «está desde há longa data reconhecido»,
salienta-se na moção.
Os participantes no plenário expressaram ainda a sua
preocupação pelo facto de o Ministério da Defesa Nacional
ainda não ter dado qualquer resposta, cerca de 4 meses depois de
terem solicitado a discussão da proposta reivindicativa para
1999, que contém, entre outros importantes pontos, a
actualização salarial.
Hotelaria
Para ontem, junto à
sede da Associação da Restauração de Portugal, em Lisboa, foi
convocada uma concentração de trabalhadores do sector, com a
qual a Feshot/CGTP pretendeu protestar contra a «postura recuada
e de intransigência» dos representantes patronais nas
negociações dos contratos colectivos. Os trabalhadores e a
federação de sindicatos do sector reclamam «salários dignos,
acima da inflação, melhoria dos prémios de trabalho e melhoria
geral das condições de vida, trabalho, higiene e segurança».
Motivo de protesto é também o facto de a Inspecção do
Trabalho não actuar no sector da hotelaria, restauração e
similares, como segunda-feira denunciou o Sindicato da Hotelaria
do Norte, frisando que as visitas às empresas «são
constantemente adiadas» e que «os ofícios do sindicato ficam
nas gavetas do Ministério, existindo alguns que estão sem
resposta há vários anos». Num comunicado de imprensa, o
sindicato refere que, durante o ano passado, enviou 201 ofícios,
dos quais apenas 98 tiveram resposta, e só depois de decorridos,
em média, 95 dias. Das 610 irregularidades denunciadas, somente
foram levantados 29 autos, enquanto ficaram sem resposta 462
situações irregulares. Mesmo nos ofícios que mereceram
resposta, houve 162 casos irregulares que não suscitaram
reacção da IGT.
O sindicato vê nesta situação motivos mais que suficientes
para acusar a Inspecção do Trabalho de «dar cobertura ao caos
instalado no sector», com o trabalho ilegal e clandestino, o
não cumprimento das 40 horas semanais, a falta de condições de
higiene, saúde e segurança, o abuso do trabalho temporário.
«Quando os inspectores visitam as empresas, os patrões ficam a
rir, não regularizam as situações e muito raramente pagam as
multas», refere o sindicato.
Vários exemplos de incumprimento da contratação colectiva e da
legislação foram denunciados recentemente pelo Sindicato da
Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Centro, que focou
a atenção apenas na cidade de Espinho, onde há casos em que o
horário semanal chega às 72 horas, com apenas um dia de
descanso semanal, e onde várias empresas mantêm meses a fio os
trabalhadores em situação de clandestinidade, sem procederem
aos descontos obrigatórios para a Segurança Social.
Ferroviários
A Federação dos
Ferroviários levantou interrogações acerca dos motivos que
levam o Governo e o conselho de gerência a travarem
objectivamente a negociação do Regulamento de Carreiras e do
Acordo de Empresa para o ano corrente. A FSTFP/CGTP chama a
atenção, numa nota que a sua Comissão Executiva emitiu na
semana passada, para que o Regulamento de Carreiras já devia
estar negociado há mais de dois anos, enquanto o AE (que inclui
a tabela salarial) deveria vigorar desde 1 de Fevereiro mas «nem
sequer começou a ser negociado».
«Em contrapartida, o Governo e o CG acompanham com estranho
excesso de zelo um conflito artificial», que «é estranho à
maioria dos ferroviários e só pode servir ao CG e ao Governo
para poderem justificar futuros ataques à CP», nota a
federação, a propósito do «conflito com a direcção do
Sindicato dos Maquinistas». A FSTFP reafirma o «direito
inalienável à greve», mas manifesta-se «inteiramente alheia
aos nebulosos, para não dizer obscuros, objectivos que estariam
por detrás da greve» com início a partir de dia 26.
A federação adianta que «é precisamente porque não está
disposta a que os direitos de todos os trabalhadores continuem a
ser postos em causa e a ser preteridos por jogos pouco claros»
que está a preparar com os ferroviários «formas de luta, para
exigir do Governo, do CG da CP e das administrações da Refer e
EMEF que acelerem as negociações dos acordos de empresa e dos
regulamentos de carreiras».
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Administração
Pública
Descontentamento
explode nos sectores
Começou
segunda-feira, com elevados índices de adesão, uma greve dos
serviços gerais de Saúde. Para dia 19, está convocada uma
paralisação nacional dos trabalhadores não docentes das
escolas da rede pública. Mantém-se a tensão na
Direcção-Geral do Tesouro. A Administração Local tem acções
marcadas para 12 e 24 de Março e uma manifestação nacional
para 9 de Abril. Jorge Coelho e António Guterres não se podem
dar por satisfeitos, só por terem obtido, no dia 23, a submissa
assinatura da Fesap/UGT para um acordo salarial que deixa os
trabalhadores do Estado insatisfeitos.
Para a Federação Nacional de Sindicatos da Função Pública -
uma das mais representativas estruturas da Frente Comum de
Sindicatos, que recusou a proposta governamental construída a
«soluços» de permilagem... - um acordo salarial só seria
viável se consagrasse uma actualização do valor do índice 100
em 4,1 por cento e, nos dois anos imediatos, garantisse uma
actualização equivalente à do salário mínimo nacional; além
disso, até 2001 deveria ficar prevista uma percentagem de
superação da diferença entre os salários mínimos nacional e
da Administração Pública; e se, em 1999, por razões de
justiça social e de aproximação à média dos salários
europeus, nenhum trabalhador tivesse um aumento de menos de 4 mil
escudos.
A FNSFP/CGTP, ao comentar o acordo do Governo com a Fesap,
considera «claramente compreensível para os trabalhadores que
os sindicatos que compõem a Frente Comum não tenham aceite a
proposta governamental», uma vez que «o valor de 3 por cento
não corresponde ao compromisso assumido pelo ministro Jorge
Coelho, ditado para a acta da reunião de negociação do acordo
de 10 de Janeiro de 1996». A federação, na nota que divulgou
dia 24 à comunicação social, realça que, «de então para
cá, os aumentos salariais registados não só não contribuíram
para a recuperação do poder de compra perdido ao longo de anos,
como determinaram um afastamento progressivo entre o salário
mínimo nacional e o salário mínimo da Função Pública».
«Em causa, ao longo destes últimos anos e contrariando o
registado no Programa do actual Governo, está o objectivo de
favorecer, na distribuição da riqueza nacional, o factor
trabalho, enquanto que longe fica o objectivo da progressiva
aproximação à média dos salários praticados na UE», afirma
a federação, concluindo que o acordo de dia 23 «é parco em
conteúdo favorável para os trabalhadores».
O pessoal não docente dos estabelecimentos de ensino não
superior tem um forte motivo acrescido de preocupação e
descontentamento, que está na base da decisão de marcar a greve
nacional de 19 de Março: aguardam desde o final do ano lectivo
passado o novo regime jurídico da sua actividade, atraso que
leva a FNSFP a criticar o secretário de Estado Oliveira Martins,
que costuma dizer aos sindicalistas que «os prazos são para
cumprir»... Para além dos trabalhadores do quadro efectivo,
prejudicados com esta demora, há cerca de 5 mil trabalhadores
contratados a termo certo que poderão ver os seus empregos em
risco no final deste ano lectivo, se o Governo não adoptar uma
medida legislativa que permita a sua integração no quadro. Para
anunciar a paralisação, dirigentes e activistas sindicais
concentraram-se sexta-feira frente ao Ministério da Educação,
tendo obtido o compromisso de iniciar dia 10 as negociações do
regime jurídico.
As greves descentralizadas dos auxiliares da Saúde, que
vão ter lugar durante todo o mês de Março, representam «a
reacção natural dos trabalhadores face ao incumprimento da
parte do Governo de compromissos assumidos em Dezembro de 1996
relativos à reestruturação da carreira», explicava o
sindicato da Função Pública do Sul e Açores, numa nota que
divulgou sexta-feira. As paralisações iniciaram-se
segunda-feira, abrangendo os locais de trabalho do Norte do
distrito de Santarém, e prosseguiram terça-feira no Norte do
distrito de Castelo Branco. Amanhã estarão em greve os
trabalhadores dos serviços gerais dos Hospitais Civis de Lisboa
(São José, Santa Marta, Capuchos, Desterro, Estefânia e Curry
Cabral).
Reunidos dia 24 em plenário, os trabalhadores da Direcção-Geral
do Tesouro salientaram a adesão elevada (entre 80 e 90 por
cento) à greve de 3 dias da semana anterior e exigiram ao
ministro das Finanças que marque uma entrevista no prazo de 15
dias. Se Sousa Franco não responder, novo plenário decidirá
novas acções de luta pela revalorização profissional, pela
criação de carreiras e categorias similares às da
Administração Fiscal e Aduaneira, e pela criação de um fundo
de regularização de tesourarias.
No período de 15 a 28 de Março,
vai ser levada a cabo pelo Partido uma jornada nacional
que tem por lema «Com o PCP, valorizar os direitos de
quem trabalha» e que representa um esforço das
organizações, aos vários níveis, para dinamizar a
resposta às graves alterações à legislação laboral
propostas pelo Governo PS. |