BRASIL
a saque


Pina Moura, ministro da Economia de Portugal, com a sua sapiência de ex-marxista convertido ao business, terá declarado há dias aos empresários que o acompanharam ao Brasil: "Investir no Brasil em plena crise não só não é temerário, como é uma excelente oportunidade de negócio". Outro ex-marxista, Fernando Henriques Cardoso, também declarou a banqueiros e empresários ao assumir o ministério da Fazenda do Brasil: "Esqueçam tudo o que escrevi..." A sua governação posterior confirma inteiramente a sua total conversão ao neoliberalismo capitalista sem fronteiras. Nem Pátria: após 4 anos de rigor monetarista sob a férula de FHC, o Brasil recaiu em profunda crise económica, o seu povo lançado em ainda maior miséria, o país em bancarrota, a recolonização em marcha. Alguns números.

O déficit da balança de transacções correntes (bens e serviços), que em 1994 era apenas de 1,6 mil milhões de dólares, em 1997 foi já de 33 mil milhões e em Outubro passado ia já nos 27,5 mil milhões. A dívida externa total passou de 148 mil milhões de dólares em 94 para 225 mil milhões em Setembro de 98. E a dívida interna federal, de 61,8 mil milhões de reais em 94, trepou para os 315 mil milhões em Outubro de 98. Com o regabofe das privatizações e venda ao desbarato de empresas e serviços, públicos e privados, que FHC tem realizado e anuncia prosseguir em força, além de ter entregue ao estrangeiro o património nacional, o Brasil foi sangrando continuamente: só o pagamento de lucros e dividendos ao exterior, de 2,8 mil milhões de dólares em 94 atingiu os 7,5 mil milhões em 98; e o pagamento de juros sobre créditos externos, de 6,3 mil milhões em 94, saltou para 10,4 mil milhões em 98. As reservas de divisas do Banco Central, que eram ainda de 78 mil milhões de dólares em Julho de 98, afundaram-se para apenas 27 mil milhões em Janeiro deste ano. O celebrado Plano Real de FHC, forjado em conluio com a banca internacional e sob peritagem do FMI, pôs o Brasil a saque. Os "pacotes de ajuda" do FMI "para socorrer o real" (a afundar-se: só em poucos dias após a desvalorização de 41% de 13 de Janeiro, "fugiram" quase 50 mil milhões de dólares...), são na verdade uma ajuda da banca internacional a si própria, sugando o Brasil em vida, como sugou o Sudeste Asiático e a Rússia - recurso precioso para assegurar o processo de reprodução mundial do capital, em profunda crise de rentabilidade "normal".

É para participar no saque internacional ao Brasil que Pina Moura incita também os "investidores" portugueses. Mas os custos para o povo brasileiro são brutais. A inflação dispara novamente. Os cortes orçamentais não poupam ninguém. O desemprego aumenta (já 17% na zona industrial de S. Paulo). 80% da terra cultivada continua nas mãos de 10% dos latifundiários, enquanto os "sem terra" continuam a comer fome e balas. Quase metade dos brasileiros vive abaixo do nível de pobreza - enquanto o Brasil bate recordes de desigualdade entre os super-ricos e a massa pauperizada. A desindexação dos salários, imposta por FHC e o FMI, junto à inflação, reduz drasticamente os rendimentos reais, não só dos assalariados, mas igualmente das classes médias. Impondo juros entre os 40 e os 50% a 90 dias, enche os bolsos dos credores externos, mas leva à bancarrota programada os produtores domésticos. Até a grande indústria nacional já se ergue a protestar. Como a própria poderosa Igreja católica, pela voz de Francisco Whitaker, secretário da Comissão Justiça e Paz da Confederação dos Bispos do Brasil, denunciando a "submissão total" ao FMI, classifica o acordo recente entre Brasil e FMI como uma "ameaça para a segurança nacional".

Uma saída para a verdadeira situação de emergência nacional em que está mergulhado o Brasil é apontada, entre outros, por 2 dos mais respeitados economistas do Brasil, o Prof. Celso Furtado e a Prof. Maria da Conceição Tavares, em artigos publicados dias 21 e 25 de Janeiro no autorizado Estado de S. Paulo: a moratória soberana sobre a dívida, a denúncia do leonino acordo com o FMI - "para salvação do nosso destino como nação". As massas trabalhadoras e populares, forças progressistas e patrióticas, estão-se pondo em movimento para salvar a Nação e o povo do Brasil. Força! Sucesso! - é o que solidariamente lhes desejamos. — Carlos Aboim Inglez


«Avante!» Nº 1318 - 4.Março.1999