Fomos, somos, seremos


Comemorar 78 anos de vida de um partido político é, de uma forma geral, um acontecimento relevante. Se se trata de um partido que manteve durante todo esse tempo uma exemplar coerência revolucionária e que viveu e lutou quase meio século sob uma ditadura fascista - a importância desses 78 anos de existência adquire um significado singular.
É isso que acontece com o PCP e foi isso que esteve presente e deu um conteúdo muito preciso às comemorações deste 78º aniversário, ocorridas por todo o País e em vários outros países onde vivem e trabalham muitos militantes e simpatizantes do Partido.
A diversidade o conteúdo e a distribuição geográfica das iniciativas levadas a cabo pelas organizações do Partido, evidenciam bem as características específicas da militância comunista bem como a força e as potencialidades de reforço do PCP. Desde o grande comício do Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa - no qual intervieram o Secretário Geral do Partido, Carlos Carvalhas e a cabeça de lista da CDU às eleições para o Parlamento Europeu, Ilda Figueiredo -, até aos múltiplos e mais ou menos participados debates, convívios, confraternizações, passando pela inauguração de um Centro de Trabalho do PCP em casa própria (como aconteceu em Vila Real) - os comunistas comemoraram o 78º aniversário do seu Partido condignamente: à sua maneira : com grande confiança, com um grande e legítimo orgulho.

Nestes 78 anos de vida e de luta, o PCP esteve sempre onde devia estar, ocupou sempre o lugar que lhe competia.
Foi assim durante o regime fascista, nesse tempo em que o Partido era a única força organizada na luta antifascista e que a essa luta - semente donde haveria de nascer Abril - atraíu muitos e muitos outros democratas. Foi assim nos momentos de festa, luta e alegria colectiva que se sucederam ao derrube do governo fascista pelo MFA, quando o PCP mobilizou os trabalhadores e as massas populares para a rua em apoio dos Capitães de Abril e conquistando, exercendo-os, direitos e liberdades que há muito eram suas bandeiras de luta. Foi assim no período exaltante dos avanços revolucionários, em que o PCP soube ser a vanguarda lúcida e mobilizadora das massas na construção da reforma agrária, das nacionalizações, do controle operário, do poder local democrático. Foi assim, igualmente, quando a ofensiva contra-revolucionária fez dessas conquistas o seu alvo prioritário e o PCP encabeçou a prolongada e difícil luta pela sua defesa.
E é tendo presentes os objectivos e ideais que suportaram todas essas lutas que o PCP tem prosseguido e prosseguirá a luta contra a política de direita a que o PS, o PSD e o CDS/PP - sozinhos ou agrupados conforme as conveniências de cada momento - têm vindo a submeter os trabalhadores e o povo português - essa política marcadamente de classe, ao serviço dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros e contrária aos interesses e direitos dos trabalhadores, dos jovens, dos reformados, das mulheres, da imensa maioria dos portugueses; essa política contra a qual a luta continua.

A situação hoje existente no Mundo é incisivamente marcada pela derrota da primeira tentativa de construção de sociedades socialistas e pela tentativa de imposição de uma nova ordem imperialista de cariz totalitário. Cavalgando a derrota do socialismo, uma forte ofensiva ideológica, circulando por poderosos meios de difusão, pretende uniformizar à escala planetária a ideia de que o comunismo está definitivamente vencido e o capitalismo definitivamente vencedor. Nada mais falso, como o demonstram as consequências do próprio domínio capitalista - acentuação da exploração, do desemprego, da violação de direitos, liberdades e garantias, da pobreza, das injustiças e exclusões sociais, das ingerências violentas nos destinos dos povos, do belicismo, dos conflitos armados - contra as quais lutam milhões de comunistas em todo o Mundo.
É certo que as dificuldades e obstáculos à luta dos trabalhadores e dos povos pelo socialismo são hoje muito maiores; é certo que as perspectivas de sucesso dessa luta se situam hoje num horizonte muito mais longínquo; mas é igualmente certo que permanecem as razões que estiveram na origem da criação do primeiro partido comunista do Mundo, as razões que estiveram na origem da criação, há 78 anos, do PCP - e é hoje tão importante como nessa altura a existência de partidos comunistas fortes e influentes, com grande capacidade de intervenção, com uma sólida e estreita ligação às massas, fiéis aos seus princípios, aos seus ideais, à sua natureza de classe, às suas características essenciais.

Daí o vasto conjunto de medidas e orientações em curso visando o reforço orgânico do PCP, o reforço da sua ligação às massas - sua fonte de força fundamental - e, consequentemente, o reforço da sua influência social, eleitoral e política. Daí o empenho militante com que os comunistas, sem descurarem o combate contra a política de direita, preparam a sua intervenção nas grandes batalhas eleitorais deste ano.
A derrota da política de direita e a sua substituição por uma política de esquerda é, sem dúvida, um objectivo difícil de alcançar. Não mais difícil, no entanto, do que muitos outros pelos quais os comunistas, ao longo da sua história, lutaram e venceram. E no momento actual as possibilidades de êxito serão tanto maiores quanto mais forte for o Partido, quanto maior for a sua capacidade de resposta às exigências da situação, quanto maios deputados comunistas forem eleitos para o Parlamento Europeu e para a Assembleia da República,

"Celebramos o papel inconfundível na luta do povo português de um Partido que esteve sempre na primeira linha de combate por direitos, garantias, transformações e avanços de civilização que hoje para muitos portugueses e para as novas gerações são tão naturais como o ar que se respira, mas que custaram muito trabalho, muita determinação, muitos sacrifícios" - afirmou Carlos Carvalhas no comício de Lisboa. E é no espírito e na perspectiva contidos nesta apreciação a 78 anos de vida e de luta que olhamos para o futuro do Partido. Com uma enorme e fundamentada confiança. Com a certeza de que as gerações vindouras, ao comemorarem futuros aniversários do PCP, dirão, com tão legítimo orgulho como os comunistas de hoje: fomos, somos e seremos comunistas.


«Avante!» Nº 1319 - 11.Março.1999