Álvaro Cunhal em Cuba e no Seixal


O encontro promovido pela Comissão Concelhia de Cuba do PCP juntou, no passado sábado, no Centro Cultural Fialho de Almeida, mais de 350 pessoas que se quiseram associar às comemorações do 78º aniversário do Partido e ouvir Álvaro Cunhal, orador da sessão.

Quando Álvaro Cunhal chegou ao Centro Cultural de Cuba, a emoção era visível nos rostos marcados dos mais idosos. Nos dos mais novos era a confiança que dominava, como era de confiança e determinação a mensagem que o dirigente comunista trazia.
Referindo os duros momentos que o PCP passou, primeiro na clandestinidade, depois do 25 de Abril com a ofensiva contra-revolucionária e, mais recentemente, com a derrocada da União Soviética e dos países de Leste, Álvaro Cunhal afirmou que «o PCP sobreviveu a tudo e mostrou ser capaz de, em todas as situações, continuar a sua luta», tendo repetidamente afirmado o PCP como um Partido «necessário, insusbstituível e indispensável».
E, com os olhos no futuro - «entrei no PCP com 17 anos, hoje tenho 85 e continuo um sonhador» -, pôs a tónica da sua intervenção nas eleições para o Parlamento Europeu, a batalha que primeiro se avizinha e cujo resultado irá de alguma forma influenciar a votação do eleitorado nas próximas eleições para a Assembleia da República.

A propósito das eleições europeias, e referindo-se à candidatura de Mário Soares, afirmou que como primeiro da lista a sua eleição está garantida qualquer que seja a votação do PS. Mas, «ele não será um bom deputado porque é um homem que sempre defendeu uma Europa federalista» e a existência de um banco alemão que «no fim de contas, é que dita o orçamento de Estado, os preços, a política financeira e está em condições de controlar as várias políticas governamentais».

Álvaro Cunhal não esqueceu também a derrota sofrida pelo PCP em Cuba, com a perda da Câmara para o PS por 72 votos mas considerou que «há boas razões para dizer que para a próxima vamos ganhar e há-de ser com uma diferença superior a 72 votos».

Por fim, sublinhando o reforço numérico da estrutura partidária com a entrada de novos e mais jovens militantes, chamou a atenção dos mais idosos para a necessidade de estimular a iniciativa destes, a quem definiu como «as gerações de substituição que serão constantemente necessárias num partido que tem tanta história e certamente ainda terá muita mais para percorrer».

Seixal

A emoção apoderou-se de Ilda Figueiredo, cabeça de lista da CDU ao Parlamento Europeu, quando, no domingo passado, ao lado de Álvaro Cunhal e outros membros do Partido da organização concelhia do Seixal, entrou na sala-restaurante da Quinta da Valenciana, onde se realizou o almoço comemorativo do 78º aniversário do PCP, e se deparou com mais de 1.200 pessoas que a saudaram efusivamente. Esse foi, aliás, o motivo das suas primeiras palavras, ao afirmar que com «tal força do PCP» se sente cada vez mais encorajada e confiante na tarefa que tem pela frente, na dura batalha eleitoral que se avizinha.

No decurso do almoço-convívio, que com entusiasmo saudou o 8 de Março e a luta das mulheres, um grupo de jovens da JCP animou o evento em despique de quadras e palavras de ordem com um outro comunista, bem mais idoso, que lhe dava réplica sistemática.

Álvaro Cunhal salientou o significado histórico do 25 de Abril, «um momento alto da vida do nosso povo mas também da vida do nosso Partido», o papel do PCP na luta anti-fascista e na defesa do regime democrático. Referindo, depois, a importância de um bom resultado da CDU nas eleições para o Parlamento Europeu, considerou-o como garante de uma maior capacidade de intervenção dos comunistas em prol de um Portugal realmente soberano e independente, objectivo que a revolução portuguesa consignou mas que as políticas de direita submetidas aos interesses do grande capital e o imperialismo cada vez mais põem em causa.

Álvaro Cunhal também vincou o percurso político de Ilda Figueiredo como «uma mulher combativa» que, no Parlamento Europeu, vai continuar a tradição dos deputados do PCP naquela instância, de defesa dos interesses nacionais e de vastas camadas da população portuguesa.


«Avante!» Nº 1319 - 11.Março.1999