Diagnóstico
arrasador evidencia fracasso do Governo
Aumentam
as dívidas à Segurança Social
A política de recuperação das dívidas à Segurança Social está longe de atingir os objectivos proclamados pelo Governo. O mais recente testemunho deste rotundo insucesso é-nos dado pelo relatório do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, no qual se refere que no período compreendido entre Dezembro de 1997 e Setembro de 1998 o montante das dívidas passou de 365 para 398 milhões de contos, isto é, mais 33 milhões de contos, o que corresponde a um aumento de nove pontos percentuais.
Para Alexandrino
Saldanha, deputado comunista que levou o assunto a plenário numa
das sessões da semana transacta, estes números não podem
deixar de suscitar perplexidade e preocupação, provocando
simultaneamente as mais sérias reservas quanto à real
«capacidade e vontade políticas do Governo» para regularizar
as situações de incumprimento passadas e para evitar que outras
surjam no futuro.
E não basta que o Governo, para tentar contornar e iludir os
falhanços da sua política, venha anunciar apressadamente, como
lembrou Alaexandrino Saldanha, a instauração de 43 processos a
outras tantas empresas suspeitas de defraudarem a Segurança
Social pela prática de crimes de fraude e evasão contributiva.
É que, pese embora o seu carácter positivo, tal acção
(reportando-se a uma dívida de 1,4 milhões de contos) não
deixa de ser uma «gota de água no oceano», e muito menos
contraria a linha de tendência em curso no sentido do aumento
das dívidas das empresas à Segurança Social.
Esta, sim, é uma realidade indesmentível, no entender do
parlamentar do PCP, que não dissocia o actual estado de coisas
das opções e medidas negativas que o Governo tem vindo a
adoptar nesta matéria, seja por via directa, seja através de
legislação incidindo em áreas com ela correlacionadas.
Não é aceitável, por exemplo, na perspectiva do PCP, que o
Governo anuncie uma nova baixa da apelidada taxa social única
às empresas, criando assim uma nova bonificação sem que
explicite qualquer compensação a transferir do Orçamento do
Estado para a Segurança Social.
Do mesmo modo que é um erro, segundo Alexandrino Saldanha, que o
Governo continue a produzir propostas de alteração à
legislação laboral, «atentatórias dos direitos dos
trabalhadores», que, a serem aprovadas, contribuiriam para a
«descapitalização deste sistema e a delapidação dos seus
fundos».
Procedimento tanto mais grave quanto é certo estar em curso- foi
ainda o parlamentar comunista a alertar para o facto - o processo
de audição a diversas instituições e personalidades, no
âmbito do Parlamento, com vista à elaboração de uma nova Lei
de Bases da Segurança Social.
Em vez de optar por medidas avulsas - e esta foi a exigência
formulada pela bancada comunista - o Governo deveria, sim,
«concentrar as suas energias na concretização das
recomendações da Auditoria aos Sistemas de Controlo e de
Cobranças das Constribuições da Segurança Social, do Tribunal
de Contas».
O diagnóstico feito nesta Auditoria, que Alexandrino Saldanha
classificou de «arrasador» para o Governo, recorde-se, entre
variadíssimos outros factores, aponta para a insuficiência em
quantidade e qualidade dos recursos humanos afectos ao sistema,
relevando simultaneamente as insuficiências da informatização
dos serviços («uma manta de retalhos quase obsoleta para as
necessidades», sublinha o texto), bem como a ausência de
«instrumentos legais dissuasores de um comportamento faltoso que
permitam uma actuação rápida e eficaz dos serviços».
Para a bancada comunista resulta claro que se o Governo seguisse as directivas elencadas na Auditoria, então, sim, «poderia dar um contributo positivo para a sustentabilidade financeira da Segurança Social e para a criação de condições que perspectivassem o necessário aumento do nível global de protecção social na sociedade portuguesa».