Emigrantes discriminados no Luxemburgo
O deputado comunista Rodeia Machado, que acompanha as questões de emigração na Assembleia da República, interpelou o Governo sobre as limitações aos direitos de cidadãos comunitários no acesso ao emprego em autarquias e outros níveis de administração no Luxemburgo.
Em requerimento
formalizado no final da passada semana, o parlamentar do PCP
recorda que tem sido imposta na abertura de concursos para
ingresso em autarquias a condição de que os candidatos tenham
nacionalidade do Grão Ducado do Luxemburgo, o que contraria
frontalmente o próprio Tratado da União Europeia.
Já anteriormente, mais exactamente em Dezembro do ano passado,
recorde-se, o deputado Sérgio Ribeiro dirigiu no Parlamento
Europeu uma questão à Comissão das Comunidades Europeias sobre
esta mesma matéria.
O facto é que em 2
de Julho de 1996, o Tribunal de Justiça Europeu condenou o
Luxemburgo por não permitir o acesso dos cidadãos de outros
Estadosmembros a certos lugares da função pública, não
cumprindo assim as leis europeias sobre a liberdade do trabalho.
Só os nacionais luxemburgueses podiam aceder às profissões dos
diversos sectores públicos, nomeadamente, motoristas dos
transportes municipais, jardineiros ou serralheiros afectos aos
serviços camarários ou centrais, funcionários dos correios.
A verdade é que o Luxemburgo não acatou a decisão do Tribunal,
o que levou a Comissão Europeia, no princípio do verão de
1998, a requerer ao Tribunal de Justiça Europeu a aplicação de
uma multa ao Luxemburgo por continuar a reservar os empregos do
sector público aos nacionais.
Embora de forma lenta, as administrações central e municipal
têm vindo, entretanto, a minorar esta discriminação, admitindo
não-luxemburgueses comunitários para o preenchimento de lugares
na função pública. Porém, muito recentemente, ainda
apareceram na imprensa anúncios de algumas câmaras para
concursos a vagas disponíveis nos serviços municipais, com a
cláusula da nacionalidade luxemburguesa.
Uma forma subtil mas eficaz para preservar ou, pelo menos,
dificultar o acesso aos lugares do sector público, é a
exigência requerida pelo empregador no domínio das línguas:
domínio das 3 línguas oficiais do país luxemburguês,
francês e alemão.
A maioria dos imigrantes da primeira geração não podem beneficiar assim das leis europeias sobre o trabalho, dada a especificidade linguística do GrãoDucado, paradoxalmente tão vantajosa e tão selectiva e discriminatória.