Refugiado
basco
quer permanecer em Portugal
José Luís Telletxea Maia, o basco notificado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para abandonar o país até amanhã, quer continuar em Portugal, onde vive e trabalha há cinco anos.
A extradição
requerida pelo Estado espanhol foi recusada pelas autoridades
portuguesas, mas pesa sobre Telletxea Maia uma possível ordem de
expulsão caso ele não saia do país voluntariamente. Em
qualquer hipótese, Portugal não o pode expulsar para fora da
União Europeia.
Em entrevista ao Avante!, Arantxa Eziolaza e Josu Barela,
representantes da Associação de Familiares de Presos e Exilados
Políticos Bascos (Senideak), consideram que «a expulsão
constitui uma violação dos direitos fundamentais e enviar
Telletxea Maia para o Estado espanhol seria subverter o acórdão
do Tribunal Supremo português que recusou a extradição».
«Não podemos esquecer que num processo de expulsão ele será
detido pela Guarda Civil espanhola. Se assim for, será colocado
numa situação do ponto de vista dos direitos humanos mais grave
ainda do que o processo de extradição. Neste caso pode ser
detido, incomunicável, submetido a torturas e maus tratos»,
sustentam.
Na passada sexta-feira, os advogados de Telletxea Maia
apresentaram um recurso no Tribunal Administrativo de Lisboa para
suspender a ordem de expulsão. «A expulsão não pode ser
executada e um ano depois o tribunal decidir que ela foi ilegal,
como aconteceu em casos semelhantes em França. Os nossos
companheiros foram expulsos, torturados, condenados e um ano ou
dois anos depois os tribunais dizem que a expulsão foi ilegal,
mas a situação é irreversível», defende Josu Barela.
No entanto, a lei pode ter muitas interpretações. As
autoridades portuguesas consideram que José Luís Telletxea Maia
tem de sair do país mesmo antes de saber qual é a resposta ao
recurso. Isto é, pelo facto de ele apresentar o recurso o prazo
de expulsão não é suspenso.
«Nós dizemos que é suspensivo. Tem de ser, porque estão em
causa direitos fundamentais relacionados com a própria
Constituição Portuguesa. Mas dizemos mais: dizemos que tem de
ser suspensivo, porque Portugal faz parte da União Europeia e
porque existem directivas europeias que são muito claras neste
campo. Temos experiências na Bélgica e na Holanda, em casos em
que os governos manifestaram vontade de expulsar os nossos
companheiros, mas em que os resultados dos recursos foram muito
claros e eles ficaram a residir no país», afirmam os
representantes da Senideak.
O futuro de Telletxea Maia
Telletxea Maia tem
várias perspectivas: «A pior hipótese é a entrega imediata a
Espanha. Outra, também má, é a expulsão para um terceiro
país onde haja acordos de extradição com o Estado espanhol e
onde se reinicie a processo contra José Luís. Em Portugal este
processo já terminou», explica.
Na perspectiva da assocação, «deixá-lo nas mãos da polícia
espanhola ou enviá-lo para outro país, será uma decisão
política que terá de ser interpretada também politicamente.
Todos os elementos da legislação portuguesa e europeia dizem
claramente que ele tem de ficar aqui. Pode presumir-se que pode
estar a haver pressões do Governo espanhol para orientar a
acção do Governo português num sentido ou noutro. Isto é
perfeitamente possível». «Se não houver uma intervenção
política arbitrária e ilegal, José Luís tem de permanecer em
Portugal», conclui Josu Barela.
José Luís Telletxea Maia é acusado de ser colaborador da ETA.
Declarando-se inocente, foi processado pelo Estado espanhol, mas
o julgamento só pode decorrer com a sua presença. Foi acusado
por um conterrâneo preso durante uma grande operação policial
que decorreu no País Basco, em Maio de 1994. Este foi sujeito a
torturas e posteriormente negou as suas declarações em
tribunal.
«O juiz não reconheceu as torturas, por os médicos forenses
não encontrarem sinais ou hematomas de maus tratos e torturas,
dizendo que isto fazia parte da estratégia da ETA para
desprestigiar as forças de segurança do Estado. Quando esta
pessoa entrou para a prisão para cumprir a pena foi vista pelo
médico do centro penitenciário que localizou hematomas e
registou a sua descoberta por escrito. O que os médicos forenses
não viram durante tantos dias, o médico da penitenciária viu
logo», conta Barela.