Aperta-se
o cerco
à Jugoslávia
O anúncio do «sim» do Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) a um acordo de paz, anunciado esta semana com grande destaque na generalidade da imprensa, foi servido à opinião pública acompanhado de imagens mostrando a concentração de forças da NATO na Macedónia e múltiplicas declarações de «enviados especiais» dos EUA sobre a irredutibilidade de Belgrado. É o apertar do cerco à Jugoslávia a escassos dias do recomeço das conversações em França.
Os dirigentes do
UÇK «aprovaram» o plano de paz para o Kosovo e estão prontos
a assiná-lo, dizem a várias vozes personalidades americanas
como o antigo senador republicano Bob Dole, o mediador
Christopher Hill, o porta-voz James Rubin, entre outras. O que
ninguém diz é que acordo é esse que o UÇK estará disposto a
assinar quando os seus representantes regressarem a França no
dia 15, se entretanto forem ultrapassados «alguns problemas».
É um mistério.
Uma ponta do véu foi levantada no sabádo pelo Presidente da
Sérvio, Milan Milutinovic, numa carta dirigida aos chefes da
diplomacia dos seis países do Grupo de Contacto (EUA, Alemanha,
França, Grã-Bretanha, Itália e Rússia), em que sublinha as
«manipulações e a campanha desencadeada com o objectivo de
conduzir os representantes dos partidos políticos do movimento
separatista albanês a assinarem um 'acordo' inexistente».
Milutinovic recorda que o texto do referido 'acordo' não só
«não foi examinado nem aceite em Rambouillet» como a
delegação sérvia e «certos membros do Grupo de Contacto» se
demarcaram do documento. Mais, o texto inicial foi alterado sem o
consentimento de Belgrado.
A razão da demarcação é simples: o 'acordo' que o UÇK se diz
pronto a assinar prevê para o Kosovo, entre outras coisas, uma
Constituição, um Presidente e um Supremo Tribunal - o que na
prática retiraria à República Federal da Jugoslávia qualquer
controlo efectivo sobre o território -, bem como a realização
de um referendo após um período de transição de três anos.
O respeito pela integridade territorial da República Federal da
Jugoslávia (RFJ) que o Grupo de Contacto dizia respeitar está
assim posto em causa, o que naturalmente Belgrado não aceita,
como não aceita a «política do facto consumado».
Inegociável parece ser também a presença da NATO no
território, que com toda a legitimidade que o direito
internacional lhe confere a RFJ rejeita.
A intransigência do Grupo, em que a voz que se faz ouvir é
obviamente a dos EUA, prepara a criação de um Estado dentro do
Estado jugoslavo, supervisionado pelas tropas da Aliança
Atlântica. Não é preciso chegar a dia 15 para a RFJ ser
apontada como um «obstáculo à paz».