Governo do Ulster adiado


Londres decidiu alargar em 19 dias o prazo para a formação do Governo autónomo da Irlanda do Norte. Republicanos e católicos têm agora até 29 Março para fazer sair do impasse o processo de paz assinado há cerca de um ano em Belfast.

O presidente do Sinn Fein, Gerry Adams, considera que «o governo britânico cometeu um erro ao adiar a data», e afirma que Londres «só o fez porque David Trimble ameaçou afastar-se».
«Na realidade, o governo britânico verga-se, ainda que temporariamente, a um veto unionista», acusou Adams.
A investidura do governo autónomo de Belfast, prevista no acordo de paz de 10 de Abril de 1998, foi inicialmente marcada para 10 de Março. A ministra britânica para a Irlanda, Mo Mowlam, anunciou agora o seu adiamento para a semana de 29 de Março a 4 de Abril.
A constituição da equipa governamental encontra-se há vários meses num impasse devido à recusa do primeiro-ministro David Trimble em atribuir ao Sinn Fein as pastas que lhe correspondem enquanto o IRA não der início ao seu desarmamento.
O Sinn Fein recusa este ultimato e insiste que o acordo de paz concede um prazo de dois anos às milícias para o desarmamento.
Segundo Mowlam, o adiamento tem por objectivo dar tempo aos partidos para chegarem a um acordo. «Isto dará aos partidos tempo para encontrarem uma via para avançarem», afirmou a ministra, recordando que os líderes dos partidos mais importantes se deslocam dia 17 a Washington para assistir na Casa Branca às celebrações do dia de Saint Patrick, patrono da Irlanda.
A dilatação do prazo estará relacionada, segundo alguns observadores, com novas propostas dos EUA para impulsionar o processo de paz.
Entretanto, os executivos britânico e da República da Irlanda assinaram segunda-feira quatro tratados respeitantes ao Ulster. Segundo notícias veiculadas pelo diário espanhol «El País», os tratados legalizam as novas instituições que unirão quer a República quer o Ulster e que vão regular os vínculos de ambos com Londres. Trata-se dos mecanismos legais para a constituição de um conselho ministerial norte-sul; de organismos transfronteiriços; de um conselho britânico-irlandês, e uma conferência intergovernamental britânico-irlandesa.
Se a assinatura dos tratados pode constituir um avanço, o protelamento da formação do novo executivo empurra a Irlanda do Norte, segundo Adams, «para uma grande crise». «O contexto e seriedade da situação não devem ser subestimados», afirma o dirigente do Sinn Fein, que alerta para o «perigo de o IRA voltar à guerra» se o Partido Unionista do Uslter (UUP) persistir nas suas exigências. O IRA considera que aceitar o desarmamento nas condições actuais seria «uma capitulação».


«Avante!» Nº 1319 - 11.Março.1999