Eleições em El
Salvador
Muita
abstenção e pouca clareza
Francisco Flores, o candidato da Aliança Republicana Nacionalista (Arena), é o novo Presidente de El Salvador. As autoridades eleitorais do país deram-no como vencedor das eleições de domingo, com 51,99 por cento dos votos num escrutínio marcado por irregularidades de toda a espécie e em que a abstenção rondou os 70 por cento.
As eleições presidenciais
foram pacíficas, mas o processo decorreu de forma tão pouco
clara que Francisco Flores não escapa à suspeita de ter sido o
candidato escolhido pelo regime e não pelo eleitorado.
Em que democracia se poderá considerar transparente um acto
eleitoral em que os eleitores são agrupados por ordem
alfabética e não por local de residência, com transportes
insuficientes para os levarem até à «sua» secção de voto,
onde tinham ainda de descobrir em longas listas qual a urna em
que podiam votar, sobretudo tendo em conta a elevada taxa de
analfabetismo do país (30 por cento, segundo os números
oficiais)?
E que garantias de lisura dá um processo cujos cadernos
eleitorais incluem como eleitores de pleno direito cerca de meio
milhão de mortos e entre 300 mil a 400 mil salvadorenhos
residentes no estrangeiro (sem direito a voto), como reconheceu o
próprio tribunal eleitoral?
Como saber, por outro lado, como se chegou ao total de 51,99 por
cento dos votos atribuídos a Flores, quando as contas de
analistas e políticos não lhe davam mais do que 49 por cento, o
que exigia a realização de uma segunda volta?
Perguntas sem resposta e sem comentários dos paladinos da
democracia.
Segundo os dados oficiais, o grande derrotado das eleições foi
Facundo Guardado, candidato da coligação formada pela Frente
Farabundo Marti para a Libertação Nacional (FMLN) e a União
Social Cristã (USC), que não terá recolhido mais do que 29 por
cento dos sufrágios.
Entretanto, na segunda-feira, o país recebeu Bill Clinton, em
trânsito entre a Nicarágua e as Honduras, embora a visita
oficial estivesse agendada para ontem, com um encontro com o
Presidente cessante, Armando Calderón Sol e discurso na
Assembleia Legislativa. Com a seriedade que se lhe conhece,
Clinton disse à chegada que os EUA e a América Central devem
trabalhar juntos «para construir um futuro comum de liberdade,
paz e prosperidade», e afirmou que os dois países partilham
«os valores do trabalho, da família e da liberdade».
Calderón, por seu turno agradeceu as iniciativas de Clinton a
favor «da liberdade, do desenvolvimento e da democracia» na
América Central, garantindo que a região «se renova dia cada
dia».