Tribunal deu mais seis meses
Casa Hipólito é viável
mas o Governo mantém «frieza»


Na assembleia de credores da passada sexta-feira, o Tribunal de Torres Vedras concedeu mais seis meses aos credores para que sejam encontradas formas de viabilização da Casa Hipólito. Para já, foi evitada a falência, mas este triste desfecho estará apenas adiado, se o Governo não demonstrar empenhamento em permitir uma solução.

Na antevéspera da assembleia de credores, o Sindicato dos Metalúrgicos de Lisboa e a Comissão de Trabalhadores da Casa Hipólito acusaram o Governo de nada ter feito para salvar a empresa e o seu património, deixando cair no desemprego centenas de trabalhadores, e até de, mais recentemente, estar a colocar entraves à concretização de uma proposta de viabilização.
Salientando o drama das «centenas de famílias ameaçadas de ficarem sem sustento», os representantes dos trabalhadores afirmam que «os representantes do Governo conhecem esta situação, mas assumem uma posição de frieza que assusta».

Anos negros
num século de ouro

Com um século de actividade, a Casa Hipólito tem desempenhado um papel «fundamental no desenvolvimento da região de Torres Vedras» e são reconhecidas, no plano nacional e internacional, «a qualidade dos seus produtos e a capacidade profissional dos trabalhadores», salienta o documento distribuído na conferência de imprensa de dia 3.
Mas nos últimos anos, devido à «má gestão das administrações», surgiram graves problemas. A situação resultou na aprovação de um plano de recuperação. Apesar das propostas sucessivamente apresentadas pelos trabalhadores, «o poder político nada fez para viabilizar a empresa».
Em 1996, a Casa Hipólito deixa de assumir os seus compromissos e, mais uma vez, os trabalhadores voltaram a ficar com salários em atraso. Em 1997 foi nomeado pela Segurança Social - que é um dos principais credores - um gestor judicial, que tinha «o objectivo anunciado de apresentar um novo plano de viabilização» mas que acabou por apresentar «um relatório tendo como único objectivo a falência».
«Ainda assim, surgiu uma nova proposta de viabilização, apresentada por um empresário que, apoiado em quadros da empresa, se propõe investir 80 mil contos e relançar a empresa com a fabricação de novos produtos», o que «pode constituir uma base de partida», referem os representantes dos trabalhadores.
Sucede que, «perante esta nova situação, é uma vez mais o Governo a colocar entraves à viabilização, ignorando o drama das famílias ameaçadas de desemprego e esquecendo a importância social e económica da fábrica na região de Torres Vedras». Ao protesto contra esta postura, sindicato e CT somam a indignação pelo contraste entre «as promessas e os actos» de responsáveis a vários níveis:

- «O sr. eng.º Guterres, em campanha eleitoral, foi a Torres Vedras prometer que o seu Governo iria viabilizar a Hipólito; agora, fecha as portas aos trabalhadores e lava daí as mãos.»
- «O sr. presidente da Câmara, antes das eleições autárquicas, prometeu tudo fazer pelo futuro da empresa; agora, esqueceu os compromissos e diz que a falência é a melhor solução.»
- «A Segurança Social, como principal credor, remete para o SIRME (departamento do Ministério da Economia) a sua decisão final; o SIRME, neste momento, nem se digna receber os representantes dos trabalhadores.»
- «O Ministério da Economia que, em diversas reuniões, sempre se afirmou favorável à viabilização, agora, perante uma proposta concreta, nada faz para a discutir, sequer!»

Perante estes factos, a CT e o sindicato questionam: «É isto a que chamam diálogo? Quais são os interesses económicos que estão acima do Governo neste caso? Como quer o Governo combater o desemprego, continuando a destruir postos de trabalho?» E concluem: «Afinal, para dar milhões aos grandes grupos económicos, o Governo está sempre disponível. Para viabilizar postos de trabalho, fecha as portas todas.»


«Avante!» Nº 1319 - 11.Março.1999