O desafio
"Os nossos inimigos só esperam que nós nos cansemos."
Bertold Brecht
Com a vida nacional já dominada pelos próximos actos eleitorais - as europeias de 13 de Junho e as legislativas de Outubro - o país político entrou numa fase de clara aceleração.
Está confirmado, nos aspectos essenciais, o
quadro que se vinha desenhando na arrumação das diversas
forças e na definição dos seus objectivos. O PS procura tirar
partido do facto de ser governo para alcançar a maioria
absoluta. Os partidos da direita, coligados na AD, apresentam-se
com o objectivo pouco credível de disputarem aos socialistas o
lugar de força mais votada. E do lado dos partidos políticos
extra - parlamentares surge a iniciativa de juntarem forças no
Bloco de Esquerda, com o indisfarçado objectivo de potenciarem
os seus resultados eleitorais e de obterem representação
parlamentar.
Pela parte do PCP o fundamental está também definido: concurso
na coligação CDU, constituída com o PEV, e contando com a
participação da ID e de outros independentes; e o objectivo
eleitoral de reforço das nossas próprias posições.
Sem dúvida que o PCP e a CDU estão
confrontados com um período particularmente exigente em que se
sucedem dois actos eleitorais - sendo óbvio que os resultados
para o Parlamento Europeu irão ter uma inevitável influência
nas legislativas -, e em que o PS e o Bloco irão tentar ocupar
espaço no nosso campo.
Mas este é, apenas, um lado da questão.
Porque o PCP, para além de ter como primeiro alvo ganhar o
eleitorado que habitualmente confia o seu voto à CDU, assume
também o propósito de alargar a sua influência política e
eleitoral. E entre as áreas políticas a privilegiar para esse
reforço contam-se, naturalmente, os socialistas de esquerda,
muitos independentes, e os eleitores da extrema esquerda.
Além disso as condições objectivas são favoráveis a esse
alargamento de influência da CDU, decorrentes do facto de haver
muitos eleitores de esquerda e em particular muitos trabalhadores
que, tendo votado no PS nas legislativas de 1995, se desiludiram
entretanto com a prática governamental deste partido.
Assumir, pois, as exigências que os
próximos actos eleitorais comportam - ao nível da clareza da
intervenção política e das ideias, das propostas, da campanha
aberta à sociedade e aos seus problemas, dos protagonistas e das
suas qualidades, da energia - constitui agora o maior desafio.
Um desafio que, pelo resultado das eleições e muito para além
dele, é muito importante vencer. Edgar
Correia