Debate no
Porto
PCP
defende novo
modelo de desenvolvimento
O processo de desenvolvimento regional do Norte foi o tema para o debate promovido pela Direcção Inter-Regional do Norte do PCP, no passado dia 27 de Março, no Porto, a que presidiu António Lopes, membro da Comissão Política.
Os resultados da
negociação do 3º Quadro Comunitário de Apoio (QCA) para 2000
a 2006 foi alvo de uma primeira análise por parte de Honório
Novo, deputado do Parlamento Europeu, que negou tratar-se de
«uma grande vitória para Portugal» como o Governo anunciou. O
deputado preferiu antes usar a expressão «gato escondido com
rabo de fora» e, começando pela vertente agrícola, notou que
as «vitórias anunciadas são sectoriais e ainda assim
contestáveis».
Sobre a questão dos fundos estruturais e de coesão, Honório
Novo notou que «se o montante global dos fundos estruturais do
QCA desceu, conforme foi anunciado, como é que a mesma
percentagem (10,8%) pode conduzir a valores nacionais
superiores?» questionou. Outras dúvidas foram levantadas,
nomeadamente sobre o destino das verbas de programas não
executados e sobre quais vão ser as contribuições futuras do
país para o orçamento comunitário.
Vítor Santos, engenheiro, presidente do Conselho
Directivo do ISEP, analisou os perfis dos sectores industriais
predominantes na Região Norte e debruçou-se sobre as relações
entre o ensino, a investigação e a produção, afirmando que
não se compreende que os ministérios da Indústria (agora
apenas uma Secretaria) e o da Educação estejam de costas
voltadas: «uma irracionalidade que, mais uma vez, todos nós
pagamos», disse.
Vítor Santos defendeu a necessidade de lançar programas
específicos de desenvolvimento das infraestruturas e recursos
docentes em todo o sector educativo regional, desde o
pré-básico ao superior, e de um pacote educacional no âmbito
dos subsistemas do ensino secundário de matriz profissional e
superior dirigido para a especialização vocacional da estrutura
industrial da região, por forma a criar técnicas capazes de
suportarem o desenvolvimento e renovação industrial.
Incentivar
a formação
Rui Sá,
engenheiro, membro da Assembleia Municipal do Porto e docente da
Universidade do Minho, considerou como aspectos profundamente
negativos o fraco investimento nacional em I&D e a assimetria
regional e, recorrendo ao exemplo da vizinha Galiza, defendeu um
forte apoio do Estado na implementação de uma política de
desenvolvimento e inovação tecnológica direccionada para o
fomento de estratégias industriais integradas, sabendo quais
são os sectores produtivos a privilegiar, as áreas
tecnológicas a incentivar e os sectores de formação a
dinamizar.
Carlos Silva, sociólogo e professor na Universidade do
Minho, sublinhou a necessidade da luta em torno do
desenvolvimento regional e local, observando que «o Mundo está
com efeito mais globalizado, mas a questão mais pertinente será
a de questionar-se até que ponto estará mais (des)igual. Sem
atentar nas desigualdades por classe social, por grupo étnico ou
por sexo, as assimetrias regionais, a nível mundial, mantêm-se
e até se reforçam».
João Duarte, do Comité Central, reflectiu sobre a
agricultura no Norte, cujas características e especificidades
nunca foram tidas pelos governos PSD e PS. Este dirigente
referiu-se à distribuição dos dinheiros públicos destinados a
Ajudas Directas beneficia os grandes latifundiários e prejudica
as pequenas explorações; à manutenção dos preços elevados
preços dos factores de produção; às grandes dificuldades da
organização da comercialização e falta de controlo das
importações. Se o Seguro Agrícola de Colheita é ineficaz; se
não há rendimento nas áreas da vinha, da horticultura e das
frutas; se os custos das contribuições para a Segurança Social
são demasiado altos e as reformas dos agricultores degradadas;
se o sistema de sanidade animal é ineficaz e a vertente técnica
e financeira ao sector cooperativo é insuficiente, como podem
continuar a haver agricultores nesta região?, perguntou João
Duarte.
Investimento
em queda
Ilda Figueiredo,
a primeira candidata da lista da CDU ao Parlamento Europeu, que
encerrou o encontro depois de algumas contribuições do público
presente, trouxe mais dados sobre as assimetrias regionais.
«No Norte, apesar de o PIB per capita continuar inferior
à média nacional (e a cerca de 64% da média comunitária),
(...) a despesa pública canalizada e efectivamente executada
nesta região foi a mais baixa do Continente (apenas 140 contos
por pessoa entre 1994/97, quando a média nacional foi de 228
contos/pessoa)».
A informação a nível nacional indica que as indústrias
têxteis de vestuário e, em particular, do couro e calçado,
sofreram quedas na produção e na utilização de mão de obra,
ao contrário das declarações do ministro da Economia que ainda
recentemente no Vale do Ave, não vislumbrou problemas
económicos, nem desemprego.
Ilda Figueiredo distinguiu ainda os dados sobre os desempregados
inscritos nos Centros de Emprego do Norte e as pessoas em POCs
(Programas de Ocupação de Desempregados) para concluir que o
desemprego efectivo não diminuiu. Chamou ainda a atenção para
os dados do Rendimento Mínimo Nacional que atribui 38% dos
beneficiários ao Norte, dos quais cerca de metade são
assalariados e 34% são pensionistas.
Confrontando as declarações do Governo acerca do
desenvolvimento regional com as medidas práticas, a candidata ao
PE concluiu que efectivamente «o Governo não só não
intensificou na região o investimento público, como facilitou
uma forte quebra do investimento directo estrangeiro que, no
Norte, foi, em 1998, apenas pouco mais de metade do que fora
atingido em 1997».
No encontro, foi divulgada uma proposta que sintetiza em várias
linhas programáticas a política que o PCP defende para o Norte
de que daremos conta numa próxima edição.