Política
educativa
alvo da contestação estudantil
Alvo de um forte movimento de constestação estudantil, a Lei de Financiamento do Ensino Superior Público foi considerada pelo Grupo Parlamentar do PCP como um instrumento de ainda maior elitização no acesso ao ensino superior e de asfixia financeira das escolas. No próprio dia em que os estudantes saíam à rua fazendo ouvir o seu protesto em frente da Assembleia da República, no hemiciclo, pela voz de Bernardino Soares, a bancada comunista solidarizava-se com a sua luta acusando o Governo de levar a cabo uma política de «desinvestimento no ensino superior».
Este comportamento
do Executivo vem, aliás, na perspectiva do Grupo comunista,
materializar orientações precisas no sentido da crescente
desresponsabilização do papel do Estado neste domínio,
designadamente em termos de financiamento, escancarando deste
modo as portas para o agravamento da actual situação.
Disso mesmo é testemunho, segundo Bernardino Soares, a
existência da propina e a sua «aplicação imediata e sem mais
delongas», em tudo contrastando com a demora na regulamentação
de outras disposições, essas sim, pelo menos algumas delas,
favoráveis à qualidade do ensino.
Lembrado pelo parlamentar do PCP, ainda a este propósito, foi o
conceito de «estudante elegível» destinado a retirar às
escolas o financiamento referente aos estudantes que excedam os
anos de frequência estabelecidos na lei. Trata-se de um conceito
decorrente em linha directa da «aplicação de princípios
economicistas, neo-liberais e privatizadores na política
educativa», alertou, em que o Governo procura fazer crer que as
responsabilidades pelo insucesso escolar derivam em primeira
instância dos estudantes e não das «más condições das
escolas», seja pelas deficiências das suas instalações ou
pelas insuficiências pedagógicas do corpo docente.
Mas não menos grave é ainda o facto de o Governo não apenas
ter vindo a cortar nos sucessivos Orçamentos do Estado nas
respectivas dotações para o ensino superior - estão a ser
descontadas as receitas previstas de cobrança de propinas no
orçamento atribuído a cada instituição - , como, no que
Bernardino Soares reputou de «situação ainda mais
escandalosa», estar a obrigar as «instituições a utilizar as
receitas das propinas para as despesas de funcionamento», uma
vez que lhes desconta essa verba, ou parte dela, no orçamento
corrente.
Tudo isto, repare-se, quando a frequência do ensino superior,
numa parte substancial, é ja suportada pelos estudantes e suas
famílias, enquanto a acção social, essa, como bem lembrou
Bernardino Soares, continua muito àquem de satisfazer as
necessidades, constituindo-se, por isso, num «entrave real e
decisivo à democratização do acesso e da frequência deste
nível de ensino».
Verberado pelo deputado comunista foi ainda o pendor economicista
e centralizado do regime de gestão dos estabelecimentos de
ensino básico e secundário instituído pelo Governo, o qual, em
sua opinião, «afasta os estudantes de uma participação mais
profunda», bem como, noutro plano, a falta de paridade de
participação dos estudantes nos órgãos de gestão do ensino
politécnico, situação que é acompanhada por «ataques à
paridade consagrada na Lei da Autonomia Universitária».
«Este não é o caminho», advertiu Bernardino Soares, antes de
lembrar que «a escola é dos estudantes e quanto mais estes
participarem maior democracia teremos em cada estabelecimento de
ensino».