Lei de
Serviço Militar
PCP
reprova salto no escuro
Um verdadeiro «salto no escuro», tomado sem ponderação e sem prever os efeitos do novo sistema, assim definiu o Grupo Parlamentar do PCP a proposta de Lei do Serviço Militar apresentada pelo Governo à Assembleia da República e por este órgão apreciada e aprovada, com os votos contra do PCP, na semana transacta.
A alteração ao
regime de recrutamento, com a extinção do Serviço Militar
Obrigatório (SMO) e sua substituição por uma Forças Armadas
de profissionais e contratados, constitui um dos travejamentos em
que supostamente assenta o novo modelo, defendido pelo PS e pelo
PSD que viu também o seu projecto.
Correspondendo a uma alteração qualitativa profundíssima e de
extremo alcance, seria de esperar que a decisão que a precede e
suporta fosse suficientemente amadurecida por forma a garantir
uma «previsão completa dos efeitos do novo sistema».
É que, como observou o deputado comunista João Amaral, «não
se pode dar um salto como este para depois verificar que afinal o
sistema não funciona, que não há gente suficienta para as
necessidades, que se provocou uma crise grave nas Forças
Armadas».
Ora no que parece não haver dúvidas é que houve mesmo por
parte do Governo e do PSD uma enorme ligeireza e
irresponsabilidade no tratamento desta matéria. João Amaral,
depois de ter denunciado a «superficialidade e eleitoralismo»
que marcaram a apresentação dos dois diplomas - «a proposta do
Governo é um tiro no escuro, a do PSD é um tiro para o ar»,
disse - , classificou mesmo a proposta do Governo como um
absoluto «desastre» sob qualquer dos ângulos em que o modelo
de Forças Armadas de profissionais e contratados deve ser
encarado.
«A proposta do Governo sobre o serviço militar é uma proposta
de enorme fragilidade, imponderada, mal preparada, cheia de erro
técnicos», não se cansou de frisar João Amaral, antes de
lembrar o clima de «insatisfação geral» reinante entre
especialistas e entidades diversas.
Aliás, para a bancada comunista, a proposta enferma de uma
«questão insolúvel», a qual reside, segundo João Amaral, no
facto de não fazer o que anuncia, isto é, não acabar com o
SMO.
«Para acabar com o SMO - explicou - teria de abrir os cordões
à bolsa, propondo remunerações atractivas e incentivos
concretos». Mas como isso não está nos seus horizontes, «como
não quer abrir os cordões à bolsa», fez notar João Amaral,
«o que o Governo faz é pura e simplesmente prever o que chama
"recrutamento excepcional", e que não passa da
manutenção do SMO, ainda por cima na desgraçada versão do
Serviço Efectivo Normal (SEN) de quatro meses».
Verberado por João Amaral foi igualmente o facto de a proposta,
ao mesmo tempo que acaba com o recenseamento geral, «deixar sem
resolução os mecanismos para o crescimento das Forças Armadas
em tempo de crise».