Agenda 2000
Triunfalismo
injustificado
O acordo alcançado na passada semana pelos 15 chefes de estado e de governo «não justifica triunfalismos» considerou em comunicado o PCP, faz uma primeira análise dos resultados da cimeira de Berlim.
O PCP nota que se
por um lado «os dados conhecidos apontam para uma manutenção
global do mesmo nível de fundos», por outro, a sua aplicação
passa a estar condicionada por «um contexto fortemente
restritivo das despesas orçamentais da comunidade - menos cerca
de 84 mil milhões de euros, incluindo a redução de cerca de 27
mil milhões de euros nos Fundos Estruturais e Fundo de
Coesão».
Quer isto dizer que «mecanismos condicionadores das
transferências vão significar que verbas decididas na Agenda
2000 possam não ser transferidas» explica o PCP.
«Por exemplo, as verbas que correspondem a projectos não
executados nos prazos previstos revertem para os cofres da
Comunidade e não ficam, como até hoje, vinculadas aos Estados
nacionais. Tem sido uma prática constante haver percentagens de
utilização de verbas que por vezes são baixas, tendo mesmo já
existido casos de utilização inferior a 50 por cento, e nem
sempre será possível corrigir imediatamente as deficiências
que estão na base destes atrasos. Vão crescer as exigências
nas propostas dos projectos a serem apoiados: redução do apoio
a projectos isolados e o crescimento da sua aplicação integrada
em grandes áreas regionais.
«Aumentam as revisões a meio do percurso dos fundos a
transferir: este condicionamento, em particular para o Fundo de
Coesão, não augura nada de bom.
«Mantém-se em aberto a relação desses fundos com o sector
produtivo. Se são, em parte, fundos, como pode acontecer com os
chamados dinheiros para o Desenvolvimento Rural, visando
compensar limitações e obstáculos à produção agrícola, o
País nada ganha, perde!
«Mas o mais grave é que o volume de fundos agora considerado
não tem em conta o contexto económico em que o País se vai
encontrar, com a concretização do processo de alargamento, a
liberalização do comércio anunciada pelas próximas
negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e o
quadro das políticas monetária e orçamental decorrente da
Moeda Única. Tudo somado, fará crescer as restrições
orçamentais e agravará brutalmente a concorrência em todas as
áreas económicas. Portugal não precisa de menos fundos,
precisa de mais!»
Derrota na PAC
Sobre as
consequências do acordo na Política Agrícola Comum, o PCP
considera positivo que o Governo tenha obtido «a duplicação da
quota de trigo rijo». No entanto, sublinha, nada se sabe sobre a
questão do tomate. Quanto ao resto, consideram os comunistas
«é uma derrota em toda a linha, assegurando no máximo os
rendimentos obtidos no anterior período».
«O objectivo central de reequilibrar as despesas do FEOGA entre
os agricultores (pequenos e grandes), entre as culturas (as
típicas do Norte da Europa e as do Sul), e entre países
(Portugal é o que, proporcionalmente, menos recebe) falhou
redondamente.
«Portugal vai continuar a ser o país com agricultura menos
apoiada, as culturas mediterrânicas (vinho, azeite, frutas e
hortícolas, etc.) vão continuar sem apoios ou com apoios
reduzidos, a dificuldade e injustiça na distribição das ajudas
entre agricultores vai mesmo crescer! Vai agravar-se a já
intolerável distribuição em que 90% dos fundos revertem para
10% dos agricultores portugueses.
«Vai também haver descida de preços nos cereais e carne de
bovino, não compensadas integralmente por ajudas directas, mesmo
se há uma ligeira melhoria relativa à proposta do último
Conselho de Ministros da Agricultura.
«Só a postura de pouca exigência e pouca ambição na defesa
dos interesses nacionais pode levar o Governo português, e o
primeiro-ministro, a proclamar a folgada vitória com os
resultados de Berlim. A mesma postura que alimenta o equívoco de
julgar que a insatisfação da Espanha e da França face ao
acordo significa perdas relativas desses países!».
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CNA admite
acções de protesto
A Confederação
Nacional da Agricultura (CNA) afirma que esta reforma da PAC mais
não foi do que o aprofundamento da reforma de 1992, e «não
serve nem defende os interesses da agricultura portuguesa».
Deste modo, considera a confederação, «confirmaram-se as
piores expectativas e a anunciada vitória do Governo português
e o primeiro-ministro é afinal uma pesada derrota em especial
para a agricultura familiar portuguesa».
A CNA refere que os rendimentos dos agricultores vão continuar a
baixar devido à quebra dos preços na produção; o
desenvolvimento do mundo rural e a especificidade da agricultura
do nosso país são «meras declarações de intenções»; e que
ficaram de fora desta reforma os produtos mediterrânicos, tais
como frutas e hortícolas.
Caso a caso, a Confederação demonstra que a baixa de preço dos
cereais em 15 por cento (3$60), não é compensada pelas ajudas
passaram de 2$40/kg para 1$80 kg; a par da duplicação da quota
de trigo foram prolongadas as ajudas ao pousio (Set-aside) para
mais cinco anos, continuando a política de pagar para não
produzir; e as ajudas directas continuam sem tecto-limite por
exploração, impedindo a poupança de meios que podiam reverter
em favor para a agricultura familiar.
Em consequência, os 1.383 grandes proprietários portugueses
continuarão a receber 34 milhões de contos em ajudas, ou seja
0,5 por cento dos agricultores arrecadam 32 por cento das ajudas.
As críticas são ainda extensíveis aos novos preços da carne
de bovino (-20%) e ao sector do leite onde com o aumento da quota
para países como a Espanha e a Itália irá aumentar a
concorrência à produção nacional.
A Assembleia Geral da CNA responsabilizou o Governo acusando-o de
fazer orelhas moucas às propostas e reclamações dos
agricultores, e mandatou a Direcção Nacional da Confederação
para preparar uma campanha de estudo e esclarecimento sobre o
conteúdo e efeitos desta reforma. Neste quadro, a CNA admite vir
a decidir a curto e médio prazo várias acções de protesto
contra esta PAC que qualifica como uma «sentença de morte»
para a agricultura familiar portuguesa.