Saramago em Bruxelas
Os bens escassos adquirem, por regra, um valor extraordinário. Se nalgumas paragens do globo esta definição se aplica a produtos como o ouro, os diamantes ou o petróleo, no Parlamento Europeu esse bem é de natureza totalmente diferente: chama-se «tempo». Dado o elevado número de deputados e debates, a distribuição de tempo para uso de palavra em plenário é feita quase a conta-gotas. A média de uma intervenção rondará, num cálculo optimista, os dois minutos.
Na visita que
efectuou na passada semana ao Parlamento Europeu, José Saramago,
Prémio Nobel da Literatura 1998 e candidato da CDU nas próximas
eleições europeias, não se limitou a pulverizar esta regra.
Além de ter discursado durante uma sessão que se prolongou por
mais de duas horas, Saramago contou com a atenção de uma sala
repleta por centenas de funcionários e deputados das
instituições europeias, de várias nacionalidades, que
acorreram a esta iniciativa do Grupo da Esquerda Unitária
Europeia. Antes, o escritor laureado fora aclamado na tribuna de
honra do Parlamento, de onde assistiu ao desenrolar de parte de
uma mini-sessão plenária.
Durante sua estadia de dois dias na capital belga, teve uma
agenda repleta de encontros e iniciativas da mais diversa
índole. Foi recebido pelo presidente do PE, encontrou-se com o
embaixador português e visitou as instalações da
Representação Permanente de Portugal junto da EU. Momentos
altos do programa foram ainda os encontros com alunos de
português e emigrantes do nosso país.
Recorde-se que, em Fevereiro de 1997, José Saramago já tinha
estado no Parlamento Europeu, a convite do GUE/NGL, grupo
parlamentar em que se integram os deputados do PCP, tendo
realizado na ocasião um debate sobre a sua obra literária.