Festru suspende
greve dos camionistas


A Federação dos Sindicatos de Transportes Rodoviários e Urbanos suspendeu terça-feira de manhã a greve de camionistas, iniciada às zero horas de segunda-feira, alegando que houve empresas que se disponibilizaram a pagar a tabela salarial reivindicada.

Em comunicado citado pela Lusa, a Festru/CGTP solicita também ao Ministério do Trabalho a marcação imediata de uma reunião de negociações e ameaça voltar à greve, caso a Antram (associação patronal do sector de transporte de mercadorias) não assuma os seus compromissos e não evolua positivamente na sua posição.
A federação afirma que «algumas empresas se disponibilizaram a pagar aos trabalhadores a tabela salarial reivindicada à mesa das negociações». Faz fé igualmente em declarações da Antram, que estaria disponível para prosseguir de imediato o processo de negociações.
A greve de camionistas, que ameaçou perturbar o fornecimento de combustíveis, registou «elevados índices de adesão», segundo a federação, havendo notícias de que a Petrogal terá registado uma quebra de 20 por cento nas frotas de abastecimento.

Reivindicações justas

Do pacote de reivindicações da Festru faz parte um montante mensal de 110 contos para todos os camionistas, cujos salários em vigor foram acordados em 1997. Além do cumprimento do actual subsídio de risco e seguro de vida para os trabalhadores de mercadorias perigosas, a Festru reivindica uma componente de 25 contos mensais para quem transporta e simultaneamente faz o transbordo da gasolina para os postos de venda. O direito à compensação das folgas passadas no estrangeiro, no caso dos camionistas dos TIR (direito que os trabalhadores acusam a Antram de tentar retirar e legalizar através do contracto colectivo ao quilómetro ou à viagem), são outras matérias em causa.
Segundo os sindicalistas, a associação patronal pretende atribuir um aumento de três por cento, mas condicionado por pontos «inaceitáveis», como mudança do local de trabalho dos camionistas e alteração de funções para a polivalência sem contrapartidas, entre outras.
Segundo o presidente da Antram, os motoristas auferem salários-base de 101200 escudos (e não de 98200, como diriam os sindicatos). Osvaldo João Costa adiantou ainda à Lusa que um motorista de transportes internacionais (TIR) ganha, brutos, mais de 300 ou 350 contos por mês, enquanto os do transporte de mercadorias perigosas têm salários médios de 210 a 220 contos (também valores brutos). Estas importâncias, precisou o representante patronal, estão relacionadas, na maior parte das vezes, com incentivos à produção dados pelas empresas.
O pagamento de salários ao quilómetro - entre 15 a 20 escudos - leva a situações dramáticas «de pessoas que fazem mais de 20 mil quilómetros por mês», como disse à Lusa Hernâni Mota, um camionista de Coruche. «E assim as contas são fáceis de fazer: 20 mil quilómetros por mês representa uma média de 750 quilómetros por dia, que só podem ser feitos com mais de 10 horas de volante nas mãos».
Caracterizando também as condições de trabalho neste sector — com cerca de 20 mil trabalhadores e 4 mil empresas — Artur Reis, da direcção da Festru, referiu-se ao «medo que os profissionais têm de ser despedidos, caso os patrões saibam que, por causa da greve, pararam os veículos». Para além do pagamento de remunerações ao quilómetro, à tonelada ou à viagem, há «cada vez em maior número», camionistas com veículo próprio. A falta de tempo, até para as famílias, e o facto de fazerem vida na estrada são factores que dificultam a sindicalização e organização dos trabalhadores dos transportes de mercadorias.
Motoristas de camiões TIR de longo curso contactados pela Lusa na região da Guarda, Covilhã e Vilar Formoso, afirmaram que «existem situações de pressão da entidade patronal para que trabalhem e não adiram à greve». Solicitando o anonimato, com receio de represálias, os motoristas disseram que «esta paralisação assume importância pela necessidade de pressão e protesto contra as posições da Antram».


«Avante!» Nº 1323 - 8.Abril.1999