Património
Cultural
Uma lei
muito aquém das necessidades
«A confusão dos conceitos, a contradição do articulado, quando sujeito a leitura comparativa, o desconhecimento do país real, a defesa de uma atitude centralizadora que desmotiva a participação democrática e incentiva o alheamento e a simultânea desresponsabilização do Estado por omissão, são os caminhos que estruturam a proposta e onde se perde o valor memorial e identitário do povo português». Esta, em síntese, a crítica do PCP à Proposta de Lei sobre Protecção e Valorização do Património Cultural, em debate na Assembleia da República no passado dia 30 de Março.
Na sua intervenção
na AR, a deputada do PCP, Luisa Mesquita, afirmou que o objecto
da Proposta de Lei em causa não é concretizado.
Antes do mais, porque «não são visíveis as bases da política
que visam o património cultural». Também porque «não são
eficazes nem eficientes as medidas propostas de protecção e
valorização desse mesmo património». E, por último, porque
«o património cultural é, fundamentalmente, entendido como um
reservatório de coisas e não como um reservatório de memórias
essenciais e factos de progresso e desenvolvimento do povo
português».
Assim, a Proposta de Lei fica muito aquém das necessidades e
enferma ainda da ausência de discussão pública, que
inviabilizou que «a pluralidade dos saberes adquiridos por
associações, instituições, personalidades de mérito
reconhecido na matéria e por cidadãos de uma forma geral lhe
tivessem incutido, naturalmente, um valor acrescentado».
Luisa Mesquita defendeu que, o mínimo que se exigia,
relativamente à proposta em debate, é que ela fosse capaz de
suprir as lacunas existentes e de propor «um quadro conceptual
actualizado e propostas inovadores susceptíveis de pôr cobro à
degradação do nosso Património Cultural». Tanto mais que
Portugal «é o único país da Europa Comunitária que não foi
capaz, até hoje, de definir as suas próprias doutrinas de
inventário e de o realizar».
A deputada do PCP considerou ainda que a Proposta de Lei «não
evoluiu relativamente à lei em vigor, ela não incorpora os
novos conceitos que já constituem matéria de discussão em
reuniões internacionais e que implicam uma visão de património
mais abrangente, tornando-o instrumento de desenvolvimento social
e económico».
Para os comunistas é «indispensável uma visão global da
cultura e das suas funções para actuar de forma concertada» e
fundamental «optar por estruturas polivalentes e integradas na
sua multidisciplinaridade». Opções ao arrepio do texto em
debate, em que «são visíveis sinais preocupantes de
centralização cultural, falta de teorização, falta de
planeamento e estratégias de crescimento».