A
situação das mulheres
e a mudança de mentalidades
Por Aurélio Santos*
Para nós, comunistas, uma crítica racionalmente fundamentada da condição da mulher deve pôr a nu as causas económicas, sociais, culturais e históricas dessa dominação, e apontar as vias e possibilidades da sua superação tendo em conta esses condicionamentos. Mas essa análise implica também, evidentemente, um juízo de ordem moral e uma luta pela mudança de mentalidades.
Marx dizia:
"Pela relação entre o homem e a mulher se pode avaliar
todo o nível da civilização humana."
Esta relação assinalada por Marx suscita algumas reflexões
relativas à nossa posição de comunistas quanto à situação
da mulher na sociedade.
Por um lado, traduz a grande importância que para nós tem e
sempre teve a questão da condição da mulher.
Com efeito, a emancipação da mulher, a superação dos
preconceitos e comportamentos que a subordinam, penalizam e
inferiorizam no plano social, económico, político e familiar,
constitui uma condição indispensável para a criação de uma
sociedade sem classes antagónicas, com iguais oportunidades para
todos, onde, para usar uma outra expressão de Marx, "a
liberdade de cada um é a condição da liberdade para
todos". Isto é, uma sociedade em que ninguém seja
instrumento de um outro. A eliminação dos preconceitos e
comportamentos contra a mulher integra-se, assim, na eliminação
das discriminações socais, no estabelecimento de novos sistemas
na divisão social do trabalho, no estabelecimento pleno de
relações de igualdade social.
Estes são, precisamente, objectivos visados pelo nosso ideal
comunista.
Por outro lado, a observação de Marx sobre a relação
existente entre a relação Homem/Mulher e o nível duma
civilização chama-nos a atenção para as raízes históricas
em que se moldaram essas relações. O que nos pode ajudar a ver
melhor como agir para modificar tais comportamentos nos nossos
dias.
Os diferentes modelos de comportamentos que ao homem e à mulher
são atribuídos, a subordinação social a que a mulher está
sujeita devem-se em medida decisiva à forma com se fez
historicamente o desenvolvimento das forças produtivas e a
divisão social do trabalho.
Nas sociedades de comunidade primitiva a mulher tinha em geral
uma condição paritária com o homem e participava de forma
idêntica na vida comunitária.
Estabelece-se, é certo, ainda no interior dessa comunidade, uma
primeira, elementar, divisão de trabalho entre o homem e a
mulher, directamente ligada à diferente função dos dois sexos
na formação da espécie: entre o homem, com maior força
física, e a mulher, sujeita à gravidez e aos encargos do
aleitamento e da maternidade. Esta divisão acentua-se quando a
humanidade passa da fase da colheita para a do homem caçador,
pastor, agricultor.
Mas a condição da mulher sofre uma alteração radical com a
formação da família patriarcal.
Nesta fase a família é elemento essencial das forças
produtivas, como unidade de produção. E como tal se organiza. O
facto de o pai ser o proprietário confere-lhe a autoridade
suprema e subordina a ele a mulher e os filhos. Cada membro da
família é um bem, que faz parte da propriedade patriarcal. A
própria Bíblia traduz exemplarmente esta situação quando diz:
"Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem a sua mulher,
o seu boi, o seu asno, ou qualquer outra coisa que lhe
pertença."
A "inferioridade" da mulher encontra aliás na Bíblia
uma particular sanção ideológica: Deus cria a mulher a partir
duma costela do homem, que aparece como mediador entre Deus e a
mulher; e é a mulher que oferece ao homem o pomo do pecado, como
mediadora entre o Diabo e o homem. Tudo isto teve na cultura
cristã consequências, que ainda hoje permanecem como estigma do
estatuto da mulher. O cristianismo, na sua fase inicial, abalou
esse estatuto patriarcal, valorizando a condição da mulher e
atribuindo-lhe um estatuto idêntico ao do homem perante Deus.
Mas com a apropriação da religião cristã como ideologia do
Estado no final do Império Romano, fazendo da Igreja Católica
uma instituição do Estado, esta passou a dar novas bases
ideológicas à submissão da mulher ao homem, aos fundamentos da
família patriarcal.
Com o desenvolvimento do capitalismo, assistimos porém, à crise
e desmantelamento das estruturas patriarcais.
Novas
realidades,
velhos preconceitos
A proletarização
dos homens e das mulheres, o desenvolvimento da indústria, a
ruína da economia agrícola patriarcal, as emigrações em
massa, o crescimento acelerado dos aglomerados urbanos,
produziram profundas alterações na condição social da mulher.
Foram quebrados os laços entre a família e a propriedade. Com o
capitalismo e a evolução técnica, com o pai, a mãe e os
filhos trabalhando em locais diferentes, o lar esvaiu-se das suas
funções de unidade de produção. A família tornou-se,
fundamentalmente, uma unidade de consumo. A mulher trabalhadora,
com a entrada no mercado do trabalho assalariado, criou as bases
para o fim da sua dependência económica em relação ao homem e
para a sua emancipação social. Por outro lado o desenvolvimento
tecnológico for tornando obsoletas as formas de divisão social
do trabalho baseadas nas diferenças fisiológicas entre o homem
e a mulher.
Neste processo, em ritmos diversos, quantas vezes com a
hesitação e amargura que traz a luta por um futuro
desconhecido, as mulheres trabalhadoras foram-se integrando, cada
vez mais, ao lado dos homens, no movimento dos trabalhadores
contra a exploração capitalista, pela justiça social, pela
transformação da sociedade. Ganhou também crescente
importância e amplitude a organização das mulheres, com uma
perspectiva de massas, à volta das suas reivindicações
específicas, com a consequente elevação da sua consciência
social.
O capitalismo, porém, tem-se esforçado por manter vivos (às
vezes com novas roupagens) todos os velhos preconceitos,
comportamentos e ideias sobre a "natural inferioridade"
da mulher, sobre o seu papel subordinado na sociedade, sobre a
sua "necessária dependência".
Não hesita, para isso, em assegurar importantes meios materiais
e financeiros que mantêm essas imagens comportamentais.
Mobilizam-se recursos dos aparelhos sociais e estatais.
Mantêm-se e alimentam-se órgãos de comunicação que procuram
incutir na mulher uma visão estreita da vida, desligada da sua
inserção social, limitada a um pequeno mundo doméstico em que
desempenhe uma função dependente. Concedendo-lhe o título de
"rainha do lar" atribui-lhe de facto o papel de escrava
familiar. Reduz na publicidade o seu papel ao de "símbolo
sexual".
Com base no falso argumento da inferioridade da mulher o trabalho
feminino tornou-se para o capitalista uma fonte de maiores lucros
e, ao mesmo tempo, um instrumento de divisão e maior
exploração dos trabalhadores. Proclamando-se que o lugar da
mulher é no lar e que o seu trabalho é marginal para a
produção, justifica-se a desvalorização desse trabalho, os
salários mais baixos, a manipulação da mão-de-obra feminina,
os despedimentos em período de crise, as medidas de
"flexibilização", como o trabalho a tempo parcial, ao
domicílio, periódico, etc. Qualquer destas formas de
desvalorização do trabalho da mulher constitui excelente meio
para agir sobre os salários dos trabalhadores, tanto homens como
mulheres, com prejuízo de todos no seu conjunto.
Estes factos fundamentam uma primeira conclusão directamente
relacionada com a questão da situação da mulher na sociedade.
E essa primeira conclusão é a de que uma mudança de
comportamentos e mentalidades em relação à mulher está
também directamente ligada à luta geral pela emancipação dos
trabalhadores. Por isso mesmo, cabe à classe operária e seus
aliados, bem como às forças que os representam, uma
responsabilidade e um papel determinantes no processo de
emancipação da mulher, como parte integrante da própria luta
contra o sistema de exploração dos trabalhadores.
Uma luta comum
O relacionamento
humano não se reduz no entanto nem pode explicar-se e
compreender-se somente na base das relações económicas e
sociais. Essas relações, por importantes que sejam, não
esgotam a realidade social. Designadamente a relação entre os
homens e as mulheres tem dimensões fisiológicas, psicológicas
e afectivas elaboradas também elas ao longo da História, que
importa ter em conta.
Engels tinha sobre o assunto uma ideia que gostaria de referir: a
de que o amor entre homem e mulher foi fruto de uma caminhada
pensada e sentida, criada através de um longo e por vezes
doloroso percurso elaborado por seres humanos que se iam
distinguindo de outras espécies pela sua forma de estar na vida.
Na sensibilidade e inteligência humanas esse é sem dúvida um
aspecto fundamental a ter em conta: a caminhada da civilização
é feita por homens e mulheres, caminhando lado a lado.
Mas as mentalidades não surgem como se fossem criadas em plena
consciência.
Se em matéria de relações humanas o amor é a mais brilhante
criação da humanidade, não podemos deixar de ter em conta que
nas relações entre o homem e a mulher, mesmo nas mais íntimas,
pesam em última análise condicionamentos mentais resultantes
das formas de organização e vida que a sociedade humana foi
construindo, com as mentalidades delas decorrentes, marcadas
pelas discriminações sociais dominantes.
Tendo isso em conta, deveremos apresentar o homem como sendo o
principal responsável da condição subordinada da mulher e como
seu "adversário social"? Não poderá isso apagar a
natureza da organização social dominante, caracterizando-a por
aspectos derivados e secundários como, por exemplo, o de
"sociedade machista"? Não iríamos, assim, retardar a
tomada de consciência de homens e mulheres contra as causas
desta situação, criar elementos de contraposição entre homens
e mulheres, enfraquecer a sua luta comum?
Partindo daí, poderia chegar-se à conclusão de que a mudança
nos comportamentos e a emancipação da mulher resultariam,
apenas, ou principalmente, das atitudes dos homens. O que
corresponderia a ignorar ou subestimar os obstáculos de vária
ordem que precisamente as forças empenhadas na contenção do
progresso social erguem para impedir, desorientar, desviar, essa
tomada de consciência. Daí, ser tão importante não apagar as
responsabilidades da situação, introduzindo entre homens e
mulheres uma oposição que pode mesmo converter-se em
contradição, enfraquecendo e podendo até ferir no seu âmago a
luta pela emancipação da mulher e a mudança de comportamentos.
Sobre esta questões existem concepções, abordagens e análises
diferentes nas correntes de opinião muito variadas entre os
movimentos femininos participantes da ampla corrente hoje
existente tendo como objectivo a emancipação da mulher. Essas
diferenças de opinião, devidas principalmente às diferentes
concepções e formas de abordagem quanto às causas da
condição da mulher, merecem sem dúvida um debate e um
diálogo, não só para a possibilidade de acções conjuntas,
desde já possíveis, como para o enriquecimento e aproximação
de pontos de vista, sempre desejável.
Mudar as mentalidades
Para nós,
comunistas, uma crítica racionalmente fundamentada da condição
da mulher deve pôr a nu as causas económicas, sociais,
culturais e históricas dessa dominação, e apontar as vias e
possibilidades da sua superação tendo em conta esses
condicionamentos. Mas essa análise implica também,
evidentemente, um juízo de ordem moral e uma luta pela mudança
de mentalidades.
Erraríamos se concluíssemos que só é possível mudar os
comportamentos que condicionam a situação da mulher quando
mudarem as actuais estruturas económicas e socais. Só
concepções fatalistas podem levar a que se fique aguardando
"no torpor da espera", como dizia Marx, um desenlace
supostamente inevitável dos processos de desenvolvimento
histórico. Sobre essas posições podemos dizer, como observou
Marx: "A história não faz nada, não luta em nenhuma
batalha. Não é a história mas sim o ser humano, vivo e real,
que tudo faz, tudo possui e luta por tudo. A história não passa
da actividade humana, que visa os seus próprios
objectivos".
É que não basta transformar as condições materiais para que
surjam espontaneamente relações humanas novas. É preciso criar
novos valores de ordem moral, novas referências culturais, com
novos comportamentos e relacionamentos entre os seres humanos. É
nessa base que a luta pela mudança de mentalidades e
comportamentos se integra na luta pela emancipação social.
As consciências, as mentalidades, mantêm-se muitas vezes em
atraso relativamente à alteração das condições sociais. E
esse é já o caso da condição da mulher na própria sociedade
capitalista.
Uma condição social muito penosa, por exemplo, dificulta em
certos aspectos a formação da consciência social. Muitas
mulheres cujas condições de habitação são deficientes podem
preferir conselhos sobre a melhor forma de decorar a sua casa do
que análises substanciais sobre as verdadeiras causas dos
problemas habitacionais. E a perspectiva de uma saída individual
surge mais facilmente ao espírito do que a solução de uma luta
colectiva. Tanto mais quanto as mulheres foram durante séculos
mantidas no espartilho de ideologias que lhes impunham uma visão
estrita e estreita das coisas, limitada ao seu pequeno mundo
doméstico.
Por outro lado assistimos também a contradições nos
comportamentos até de pessoas com ideias e posições políticas
progressistas mas que no plano pessoal e familiar continuam a ter
uma visão persistentemente tradicional, reaccionária, de uma
mulher hoje insubsistível, como se de um espectro do passado se
tratasse. Verifica-se também que mesmo em camadas sociais com
activa e corajosa intervenção na luta revolucionária,
persistem preconceitos discriminatórios em relação à mulher.
No processo da reforma agrária, por exemplo, em algumas
cooperativas formadas com uma decisiva intervenção das
mulheres, mesmo estas resistiram de início à ideia de
atribuição de salários iguais por igual trabalho para homens e
mulheres.
A mudança de mentalidades também não surge apenas como um
reflexo imediato de novas relações sociais. Mesmo em países
que deram grandes passos no estabelecimento de relações
económicas e sociais de tipo socialista se registou, a par do
reconhecimento formal da igualdade de direitos da mulher no plano
político, jurídico e social, a persistência de preconceitos
tradicionais quanto à imagem das mulheres, à sua intervenção
na sociedade, à organização da vida familiar.
A pedagogia da mudança de mentalidades - do homem e da mulher -
a luta pela mudança de comportamentos, é, pois, um elemento
indispensável no processo de emancipação da mulher. E quando
essa mudança de mentalidades e comportamentos ganha dimensões
de massas, transforma-se numa força material poderosa. Pode em
certa medida acelerar, até anteceder, mesmo forçar, o
estabelecimento real de novas relações sociais.
E esta é uma segunda conclusão de ordem geral que podemos tirar
quanto à situação da mulher.
A situação portuguesa
A mudança de
comportamentos e mentalidades em relação à condição da
mulher torna-se mais complexa num país como o nosso, em que o
desenvolvimento industrial se fez com atraso, irregularmente,
agravando as consequências negativas do capitalismo com as do
subdesenvolvimento. Daí que, entre nós, as mudanças na
condição da mulher tenham resultado não tanto do
desenvolvimento industrial como da emigração, das
consequências da mobilização para as guerras coloniais e das
formas que tomou o crescimento urbano. Existem por isso no nosso
país grandes contradições quanto aos comportamentos, e
posições morais muito diferentes quanto à condição da
mulher. Para isso contribuíram em medida decisiva os 48 anos de
ditadura fascista, marcados, com especial relevo neste plano,
pela mais retrógrada, obscurantista e brutal mentalidade e
imposição cultural, ideológica, política, jurídica e social,
com formas medievais e aberrantes, hoje dificilmente concebíveis
para as gerações (de mulheres e homens) criadas nos 25 anos
decorridos desde o 25 de Abril.
As formas de discriminação iam desde a negação de alguns dos
poucos "direitos" políticos formalmente concedidos aos
homens (quanto ao voto, por exemplo) até às do estatuto
salarial e laboral. Às mulheres era interdito o acesso a
determinadas profissões (por exemplo na magistratura, vida
militar, carreira diplomática) e proibido ou condicionado o
casamento noutras (enfermeiras, telefonistas, professoras). Às
mulheres eram impostas inúmeras discriminações jurídicas ( na
situação familiar, no poder em relação aos filhos, no Código
Civil, no Código Penal, no Código Comercial). Tudo isto com uma
pressão cultural, religiosa, social, no sentido de sufocar,
reduzir, marginalizar e subordinar a condição da mulher.
O 25 de Abril, também no que respeita à situação da mulher,
desencadeou um processo revolucionário de dimensões e
significado histórico, confirmando a ligação entre essa
condição e o nível de desenvolvimento social.
Na origem desse processo, importa destacar, esteve a
participação massiva das mulheres em todas as principais
acções e lutas que tornaram possíveis as grandes
transformações políticas, económicas e sociais da revolução
de Abril. Desde as primeiras manifestações, iniciadas logo no
dia 25 de Abril e alcançando proporções gigantescas no 1º de
Maio, para conquista das liberdades políticas e cívicas, até
às lutas pelas transformações económicas, sociais e
políticas (derrota das tentativas contra-revolucionárias,
descolonização, avanço da democratização do país, reforma
agrária, nacionalizações, controle operário) a participação
das mulheres, pela sua dimensão e combatividade, foi, podemos
afirmá-lo sem hesitar, um dos traços mais notáveis da nossa
revolução.
Essa participação reflectiu-se em novos comportamentos e
atitudes no relacionamento entre homens e mulheres, abrangendo
todos os aspectos da vida social, de âmbito político ou
laboral, na valorização profissional, na organização da
família e das responsabilidades familiares, nos relacionamentos
pessoais e afectivos, na educação e comportamentos sexuais, no
planeamento familiar. Em poucos meses, grandes passos foram dados
para o aparecimento de uma nova mentalidade, novos
comportamentos, uma nova cultura, quanto à condição e estatuto
da mulher na sociedade.
A Constituição de Abril consagrou um novo estatuto da mulher na
vida nacional, reconheceu no plano institucional a plena
igualdade de direitos, obrigou à alteração de todas as leis
que discriminavam a mulher, desde as leis da família a
legislação laboral, penal, comercial. Novas possibilidades se
abriram para o acesso das mulheres a todas as formas de
actividade social e laboral. Deram--se alguns passos, embora
insuficientes, para a sociabilização dos encargos da criação
e educação das novas gerações. E em poucos anos viu-se como a
mulher alcançou, nas mais variadas actividades, posição de
relevo na vida portuguesa.
Apesar dos retrocessos impostos pelo avanço
contra-revolucionário e pela permanência das velhas
mentalidades e preconceitos em muitas camadas, regiões e
sectores do país, apesar das consequências que a recuperação
capitalista impôs no plano laboral, encontramos ainda hoje nas
transformações da revolução de Abril uma decisiva
contribuição para uma mais justa condição da mulher na
sociedade.
Muito há ainda a fazer para que as mulheres possam usufruir de
plena igualdade de direitos, no respeito pela sua diferença
natural em relação ao homem. Para o conseguir é necessário
mudar ainda muito as estruturas da sociedade e as mentalidades.
Esse é um dever de todas as pessoas progressistas, mulheres e
homens. E um partido como o PCP, que faz da participação das
massas populares uma condição essencial à salvaguarda e
avanço da democracia e o progresso social, não pode agir como
um grupo radical que se contenta em "tomar posição".
Tem de ter uma acção coerente e constante nesse sentido. E tem
de ter também grande atenção ao estado real da sociedade,
assim como ao peso das ideias e costumes tradicionais.
Pesam sobre a condição de mulher, para além dos interesses
dominantes, séculos de obscurantismo que criaram uma cultura de
discriminação.
A mudança de mentalidades não se faz de um dia para o outro nem
automaticamente, nem por decreto. Mas apesar de todos os
obstáculos, apesar da recuperação obscurantista, a mudança de
comportamentos em relação à mulher, a sua participação
crescente na vida social, na produção, na vida económica,
política e cultural, é já um dos mais importantes fenómenos
do nosso tempo.
Marx tinha razão: é impossível construir uma sociedade humana
livre sem nela integrar livremente a humanidade plena da mulher.
Esse encontro da mulher com a História é necessário e
inevitável. Esse é um dos grandes desafios que se colocam no
nosso tempo.
*Intervenção no recente Forum do PCP sobre a Situação da Mulher