Volta ao
Alentejo em bicicleta, mais um bom exemplo da política da CDU
Uma
prova de paixão
Por José Pascoal
Vem aí a Alentejana!
Em breve, estará nas estradas do Sul uma das mais importantes
competições velocipédicas nacionais: a Volta ao Alentejo. Vai
na XVII edição, está há três anos incluída no calendário
da União Ciclista Internacional (UCI) e é já considerada por
muitos como uma das provas mais bem organizadas em Portugal. Este
ano começa em Grândola, no próximo dia 28, e termina, como
sempre, em Évora, no dia 2 de Maio.
Organizada pela
primeira vez há 17 anos com o objectivo de promover uma das
regiões mais carenciadas do país, a estrutura que a põe de pé
- a Associação de Municípios do Distrito de Évora (AMDE) -
pode orgulhar-se de lhe ter proporcionado a maioridade
antes ainda da idade consignada em lei. O seu staff
, pequeno no início dos anos 80, não cresceu desmesuradamente,
mas soube aprimorar ao longo dos anos métodos de trabalho,
reforçar e melhorar a capacidade de organização e, sobretudo,
não ignorar a importância do marketing, para continuar a
mostrar ao país que o Alentejo é uma paixão.
Hoje, a Volta ao Alentejo não é só uma competição
velocipédica de valor reconhecido, dentro e fora das fronteiras
nacionais, como o testemunha a qualidade do pelotão cada vez
mais rico de ano para ano. A Alentejana, como é também
popularmente conhecida, continua a ser o resultado de muitas
vontades e de um modo diferente de encarar o desporto, bem como
exemplo de política unitária ao serviço de uma região.
A AMDE é liderada pela CDU, mas a esta iniciativa aderem hoje também autarquias que representam outras forças políticas, cujos presidentes de câmaras, sem excepção, estão convidados para um jantar comemorativo dos 25.º aniversário do 25 de Abril, na véspera da saída da caravana para a estrada, em Grândola. Aliás, não é obra do acaso a escolha do local. As primeiras pedaladas para a Revolução dos Cravos foram dadas logo após os primeiros acordes da canção com que José Afonso imortalizou o nome da Vila Morena. E não se pense que a inciativa é descabida. A CDU não faz mais do que respeitar e honrar as nobres tradições libertadoras do desporto.
Mas não é só isto
que faz da Alentejana uma prova diferente. A Volta ao
Alentejo é também palco ambulante de uma vasta região, como o
testemunha o «Espaço Alentejo», inciativa inédita nas
competições velocipédicas em Portugal, através da qual expõe
o que dão de melhor as suas terras e as suas gentes. E é ainda,
no final de cada etapa, um espaço de convívio, onde os sabores
e os cheiros de uma gastronomia única se misturam com os
cantares e a poesia de um povo que não se resigna aos rigores de
um clima agreste nem à crueldade de políticas neo-liberais.
A Volta ao Alentejo é, sem dúvida, uma prova de.. paixão. De
Alfedo Barroso e seus pares, de uma população e de uma região.
Se assim não fosse, não teria subido na escala difícil e
exigente da UCI, não estaria hoje entre as melhores do país,
não teria credibilidade que lhes permitisse trazer a Portugal
figuras grandes da velocipedia internacional como o supercampeão
espanhol, Miguel Induráin (Banesto), pentavencedor do Tour,
campeão do Mundo e recordista da hora, vencedor da prova em
1996, nem poderia orgulhar-se de ter, entre os vencedores, nomes
como os de Aitor Garmendia (ONCE), vencedor em 1997, ou do seu
ex-companheiro de equipa, Melchor Mauri, triunfador em 1998, e um
dos grandes favoritos da edição deste ano, agora com as cores
do Benfica.
E se este ano o pelotão não é tão rico, a culpa não é da
AMDE. Os cem primeiros do Ranking UCI não podem participar em
provas da categoria 2.5, uma decisão da estrutura máxima do
ciclismo mundial que está a suscitar grande controvérsia, além
de descontentamento aos organizadores de provas e às próprias
equipas, porque lhe coarta a liberdade escolha, ou, como diz
Alfredo Barroso, «consequência do lobby da Europa
Central para obrigar os melhores corredores e as melhores equipas
a participar nas suas provas e não nas outras.»
Mesmo assim, além de todo o pelotão de Elite nacional (à excepção da Recer/Boavista), a AMDE tem garantida a participação da Kelme, Euskatel e Fuenlabrada (Espanha) e da Palmans (Bélgica), sendo de admitir também a vinda da Vitalícia (Espanha), Aceptcar (Dinamarca), bem como da poderosa ONCE, também de Espanha. Trata-se, contudo, segundo Alfredo Barroso, de uma «hipótese remota».