Um morto cada 2 ou 3 meses
Taxistas pagam com a vida
os lucros da insegurança


O sistema GPS, financiado pelo Estado, tem muito mais a ver com os interesses económicos dos industriais do que com a segurança dos taxistas, acusa a Federação dos Sindicatos de Transportes Rodoviários e Urbanos.

Morreu na madrugada de terça-feira António Pipo, o taxista assaltado no sábado em Alverca. Mais uma vez, fizeram-se ouvir os protestos dos profissionais, designadamente junto ao Hospital de S. José e frente ao Tribunal de Vila Franca de Xira. «Temos de ver o que fazer a seguir», desabafou Carlos Ramos. Citado pela «Capital», o presidente da Federação Portuguesa do Taxi reclamava um solução rápida para o problema da insegurança e protestava pela falta de resultados das vigílias dos taxistas, de cada vez que há um assalto ou um homicídio — os mais recentes verificaram-se na Buraca, na Praia das Maçãs, na Costa de Caparica, na Pedreira dos Húngaros, em Loures.
Pelas contas da Federação dos Sindicatos de Transportes Rodoviários e Urbanos, «a violência quotidiana sobre taxistas tem gerado um morto por cada 2 ou 3 meses», o que faz desta profissão «seguramente uma das que mais sujeita está a riscos de danos físicos e de morte violenta». Num comunicado de imprensa, a Festru/CGTP recorda ainda os longos horários, as penosas condições de trabalho e as muito baixas remunerações dos motoristas de taxi.
Tanto a FPT, como a Festru, apontam como necessidade urgente a regulamentação da Lei 6/98, publicada em Janeiro do ano passado, e que veio revogar a legislação então vigente, que obrigava à instalação de separadores de vidro para protecção do motorista, medida que os patrões do sector se recusavam a aplicar enquanto não fosse decidido um financiamento do Estado a fundo perdido.
Sem obrigar à colocação dos separadores, o Governo e as associações empresariais vieram anunciar o dispêndio de elevados montantes de dinheiros públicos para implementar um sistema de controlo de posicionamento das viaturas por satélite (GPS). Mas utilizam «a necessidade de segurança dos profissionais, com que na realidade se têm mostrado pouco preocupados, para justificar um vultuoso investimento, com inegável utilidade como meio complementar de segurança, mas cuja razão de ser é a possibilidade de uma gestão mais eficaz e mais rentável do negócio».


«Avante!» Nº 1324 - 15.Abril.1999