Para evitar o desastre na TAP
Suspenda-se a privatização


O Grupo Parlamentar do PCP desafiou o Governo a suspender o processo de privatização da TAP e a abrir um processo de reflexão, envolvendo os trabalhadores, sobre o futuro da transportadora aérea nacional. Reiterada por Lino de Carvalho, esta proposta do PCP ganhou novo sentido face aos recentes desenvolvimentos que tiveram a sua expressão no acordo de empresa com os pilotos aprovado por uma comissão arbitral.

Estava-se num debate de urgência suscitado pelo PSD sobre a TAP e a posição da bancada comunista voltou a ser sustentada na necessidade de assegurar o futuro da nossa transportadora aérea de bandeira, enquanto empresa estratégica nacional, bem como os direitos de todos os seus trabalhadores.
Depois do acordo feito com a Swissair, já anteriormente denunciado pela bancada comunista pelo seu carácter fortemente danoso para a TAP, vieram agora juntar-se quer o caso do estranho acordo com os pilotos, quer o processo de avaliação da empresa, qualquer deles a carecer de clarificação.
Foi aliás esse o motivo que levou Lino de Carvalho a classificar o comportamento do Governo de irresponsável e a inquirir o ministro João Cravinho sobre um conjunto de questões concretas, cujas respostas, bem se pode dizer, longe de trazerem luz ou aquietarem preocupações, vieram avivar incertezas e apreensões.
Confirmado foi, concretamente, tal como há quatro semanas em audição realizada pela Comissão parlamentar de Economia por iniciativa do PCP, que «nem tudo são rosas» e muito menos a TAP « voa rumo ao céu azul», como o Governo já então quis fazer crer, mas que, ao contrário, como referiu o deputado comunista, não faltam exemplos e sinais que apontam para o desastre.
Lino de Carvalho quis saber, por exemplo, quem fala verdade no caso da comissão arbitral que aprovou o acordo de empresa com os pilotos. O ministro afirmou que esta não estava mandatada para negociar cláusulas salariais e de tempo de trabalho, enquanto o presidente do conselho de administração veio dizer que não era assim e que ele próprio dera conhecimento à tutela do «conteúdo da arbitragem».
«Afinal quem fala verdade ? O ministro João Cravinho ? Se assim é, por que é que não demite o presidente da TAP ?», perguntou o parlamentar do PCP.
Não esclarecida ficou também a questão de saber se o ministro tinha dado conhecimento ao conselho de ministros de todas as consequências que decorrem da decisão arbitral, nomeadamente quanto ao facto de no dia imediatamente a seguir ter sido anunciada a venda de 20 por cento do capital da TAP ao grupo Swissair por um valor incrivelmente baixo.
Como por explicar ficaram as razões que levaram a que depois de ter sido avaliada em 108 milhões de contos, o valor da TAP tenha descido para um preço base de 60 milhões, ou seja, como inquiriu Lino de Carvalho, «por que é que a administração da TAP, com o acordo do Governo, foi pedindo sucessivas avaliações e optou pelo valor mais baixo». «Dizem os estrategas da privatização que o cenário evoluiu para um "ciclo de baixa". Então, se isso é verdade, por que é que, como manda o bom senso e qualquer decisão racional, não se adiou o processo e se esperou por um novo "ciclo de alta"», interrogou o deputado comunista.
Verberada pela bancada comunista foi ainda a atitude demissionista evidenciada pelo Governo em todo o processo negocial com os pilotos - lavou as mãos como Pilatos ao apadrinhar a criação de uma comissão arbitral, acusou Lino de Carvalho -, comportamento que contrasta com a determinação que normalmente revela «quando se trata de resolver dossiers que interessam aos grupos económicos».


«Avante!» Nº 1326 - 29.Abril.1999