Violação
de normas laborais
Sanções
mais pesadas contra infractores
A Assembleia da República apreciou, faz hoje oito dias, quatro propostas de lei do Governo visando a alteração de montantes de coimas e o alargamento do regime de contra-ordenações no domínio laboral.
Estes diplomas
surgem quase dois anos e meio depois da apresentação de um
projecto de lei do PCP que estabelece sanções pela violação
de normas laborais, o qual viria a obter o voto unânime da
Assembleia da República, em votação na generalidade, em
Fevereiro de 1998, aguardando desde então em sede de
especialidade por esta iniciativa do Governo.
A marcar estes diplomas, para além do manifesto atraso revelado
pelo Governo na sua apresentação, estão algumas
insuficiências e erros que, do ponto de vista da bancada
comunista, justificam alterações em sede de discussão na
especialidade.
Só com tais alterações, como explicou o deputado comunista
Alexandrino Saldanha, será possível «dar coerência aos
regimes sancionatórios», contrariando a actual impunidade de
que gozam os infractores pelo incumprimento de normas
jurídico-laborais.
Daí que uma das principais críticas ao modelo desenhado pelo
Governo nos quatro diplomas tenha a ver com o que Alexandrino
Saldanha considerou ser a «sobrevalorização do ilícito de
mera ordenação social». Embora tenha reconhecido algum avanço
na resposta, ainda que «atrasada e tímida», à necessidade de
actualizar as coimas, o deputado do PCP chamou a atenção para o
facto de o Governo na relação do «ilícito criminal de
justiça» com o «ilícito de mera ordenação social» ter
optado por uma preponderância desta última.
Significa isto que o Governo não atendeu às preocupações dos
que defendem, como o PCP, a «neocriminalização de condutas que
violam direitos fundamentais dos trabalhadores».
Lembrado por Alexandrino Saldanha foi o exemplo já dado aquando
da discussão do projecto do PCP de condutas como as relativas ao
«incumprimento de normas de Higiene, Segurança e Saúde no
Trabalho, causadoras de mortes e de graves sequelas físicas e
psíquicas nos trabalhadores».
Tais condutas violadoras de direitos dos trabalhadores
como atentados dolosos à estabilidade no emprego (incluindo a
contratação a termo), o tráfico ilegal de mão de obra, ou a
violação das medidas de higiene e segurança no trabalho - são
hoje alvo de neocriminalização na legislação de outros
países, como sucede em Espanha, o que não pode deixar de
constituir-se num efeito dissuasor junto dos infractores.
Verberado pelo Grupo comunista foi ainda o facto de o Governo
não ter consagrado a legitimidade das associações sindicais se
poderem constituir como assistentes no respectivo processo, sendo
igualmente criticada, noutro plano, a periodicidade estabelecida
para actualização das coimas, a qual, no entender de
Alexandrino Saldanha, deveria ser anual e não de três em três
anos como propõe o Governo.