NATO
O braço armado das multinacionais

Por Rui Paz


A intensificação das grandes manifestações contra a guerra na Jugoslávia, em cidades como Dresden, Erfut ou Frankfurt, com muitos milhares de participantes respondendo aos apelos de organizações sindicais, religiosas e pacifistas testemunham uma crescente oposição da população alemã à opção bélica da NATO e da social-democracia.

As vigílias em cerca de duas centenas de cidades, ou o comboio da paz que levou de Dresden a Belgrado cento e cinquenta mães de soldados da Bundeswehr para se manifestarem ao lado do povo sérvio contra as bombas "humanitárias", são apenas algumas das iniciativas com que o movimento da paz e sindical estão a preparar o 1º de Maio.
Simultaneamente, têm-se realizado também as maiores manifestações da história do sindicato dos bancários em luta contra a exigência do patronato de eliminar o Sábado como dia de descanso. Como se vê, apesar do Deutsche Bank e outros potentados económicos terem confessado pela primeira vez, no início deste ano, a obtenção de lucros fabulosos com a construção de Auschwitzt e a produção de Zyclon B, a atracção e nostalgia do capitalismo alemão pelo trabalho escravo mantêm-se inalterável.
Num programa televisivo intitulado "A Marcha para Leste", transmitido a horas mortas pela ARD para não perturbar demasiado a propaganda do militarismo filantrópico, a NATO é desmascarada através dos depoimentos dos seus próprios generais como o braço armado das multinacionais do petróleo, ao reconhecerem que depois do fim da guerra fria «a principal função da Aliança será a de assegurar o controlo das matérias-primas e a protecção das suas vias de transporte marítimas e terrestres».


Guerra até ao fim

Um tal general Engelbert esclarecia que «a guerra tem de ir até ao fim, senão a NATO perde a credibilidade» junto das regiões de influência muçulmana e dos magnates da rota do petróleo e dos oleodutos que – da Turquia ao Caucaso e ao mar Cáspio, sem esquecer a Arábia Saudita e o Koweit – asseguram os interesses das multinacionais do ouro negro aos quais a Aliança «garantiu protecção militar».
Se o neoliberalismo, particularmente nos Estados Unidos e na União Europeia, tem conduzido nos últimos anos uma intensa guerra contra os interesses sociais e do trabalho, e se «as multinacionais reduziram a quase nada o que ainda restava do ideal democrático», porque é que a NATO out-of-area haveria de prosseguir exactamente o contrário do credo até agora professado pelos governos dos países membros da Aliança?
No momento em que os americanos silenciam à bomba a televisão de Belgrado para que o povo sérvio não veja os resultados da destruição "humanitária", a Alemanha impõe uma censura quase total às numerosas acções e grandiosas manifestações contra a guerra. Simultaneamente, perante o crescente desejo de paz da população alemã, aumenta o coro dos que lamentam que a existência de alguns direitos democráticos esteja a criar "dificuldades" à intensificação do carácter mortífero das operações militares, nomeadamente à invasão terrestre do Kosovo. Políticos do partido liberal, o tal que se intitula o partido dos que ganham bem, reclamam, à semelhança do que acontece nos Estados Unidos, a total profissionalização e consequente mercenarização das Forças Armadas em nome da eficiência operacional, receando que uma mais estreita ligação entre os militares e o povo constitua um obstáculo à imposição dos seus interesses imperialistas.
O 1º de Maio de 1999, apesar de todos os esforços contrários da social-democracia governante, será uma grande jornada de desmascaramento do militarismo como um dos mais perigosos instrumentos do capital financeiro e das multinacionais para destruir a paz e liquidar os direitos democráticos dos trabalhadores e dos povos.

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Granadas radioactivas
contra o Kosovo

A decisão já confirmada pelos estrategos militares da NATO de utilizarem granadas de urânio enriquecido 238 contaminará totalmente o Kosovo, tornando-o por largos anos inabitável por sérvios e albaneses.
A revelação acaba de ser feita pelo programa do primeiro canal da TV alemã, "Monitor", com o apoio do cientista americano membro da comissão do Pentágono encarregada de estudar os efeitos do emprego daquele tipo de munições na guerra do Golfo, professor Doug Rokke. Este cientista do Alabama, que participou durante anos em investigações no Iraque com outros colegas - tendo dois deles adoecido e falecido em consequência dos trabalhos -, calcula que cerca de 38.000 iraquianos já morreram vítimas das radiações provocadas por aquelas granadas. A mesma sorte tiveram já centenas de soldados americanos envolvidos nas operações no deserto com o aparecimento de tumores no peito e anomalias respiratórias entre outros sintomas. Um número extremamente elevado de crianças nascidas já depois da guerra no Sul do Iraque apresenta terríveis deformações e está doente com leucemia.
O emprego de urânio neste tipo de munições destina-se a permitir a perfuração de blindados e a sua destruição interior. Cerca de 3.000 granadas por minuto disparam os aviões A10 e os helicópteros "Apaches" já estacionados na Albânia. Onde estas granadas explodirem, as águas, o solo e o ar ficam contaminados por longos anos com partículas radioactivas. Num vídeo destinado ao treino de militares americanos, apresentado pelo "Monitor", pode ler-se que «na área de rebentamento não se devem ingerir alimentos nem respirar sem máscara, e o resíduos só devem ser removidos com vestes especiais. Se não se respeitarem estas indicações corre-se perigo de vida».


«Avante!» Nº 1326 - 29.Abril.1999