Nicarágua
Estudantes contestam Governo


As ruas de Manágua transformaram-se num campo de batalha que opôs estudantes e as forças de segurança, na sequência da morte de um universitário pela polícia, na semana passada. Na base dos protestos está a exigência dos estudantes de que seis por cento do Orçamento de Estado seja destinado o Ensino Superior, como está consagrado pela Constituição.

Roberto González, um estudante de Direito de 24 anos, foi morto por uma brigada anti-distúrbio durante a ocupação do Banco Central da Nicarágua que 80 universitários protagonizaram na tarde de dia 20, integrados numa onda de protestos alargada a toda a cidade. «Foi uma bala de borracha que o matou. A polícia continuará a usá-las para não ter de recorrer às de verdade», disse o chefe da Polícia.
As honras fúnebres de González transformaram-se em manifestações contra o Governo conservador de Arnoldo Alemán. Nas principais ruas de Manágua ergueram-se barricadas e centenas de pessoas cercaram a igreja da Colónia Centroamericana, no bairro onde vivia o estudante.
Quando a notícia da morte de Roberto González se espalhou, a sede do Partido Liberal Constitucionalista (no poder) foi atacada por estudantes e populares dos bairros próximos como forma de protesto. Duas camionetas foram destruídas e registaram-se diversos danos materiais. Dentro do edifício, duas pessoas responderam aos ataques com uma pistola e uma espingarda de assalto AK 47.
Os manifestantes dirigiram-se depois ao Comissariado Central da Polícia, atacando o edifício. As forças de segurança responderam com rajadas para o ar de fogo real. No total, contam-se 12 feridos e 77 detidos.
Na quinta-feira, o funeral de González juntou cerca de 15 mil pessoas num desfile que começou na Universidade Nacional Autónoma de Manágua e terminou no cemitério. Durante o percurso, registaram-se algumas provocações, nomeadamente quando um homem não identificado que mostrava na mão uma pistola começou a insultar os estudantes que passavam. Estes não responderam, tendo denunciado a presença de agentes da polícia à paisana na marcha.
No dia seguinte, o Conselho Nacional das Universidades e as organizações estudantis apelaram ao Governo para que inicie negociações sobre os seis por cento do Orçamento de Estado que reivindicam e que consideram «irrenunciáveis».
Como resposta, o Governo diz que «não só já concedeu seis por cento, como acrescentou 13 milhões de dólares à quantidade que a Constituição adjudica às universidades».
Entretanto, um grupo de destacados sandinistas retirados do Ministério do Interior e do Exército emitiram um comunicado, ameaçando o presidente a «passar à acção em caso de o Governo não cessar as suas constantes violações do Estado de Direito».


«Avante!» Nº 1326 - 29.Abril.1999