As palavras e as armas
Dois rapazes de 17 e 18 anos,
norte-americanos, membros de uma organização neo-nazi,
assassinaram a tiro cerca de duas dezenas de rapazes e raparigas,
mais ou menos das suas idades e seus companheiros de escola. Ao
que parece, o massacre teve como objectivo comemorar o
aniversário do nascimento de Hitler.
Este tipo de crimes é cada vez mais frequente nos EUA, podendo
dizer-se até que faz parte do dia-a-dia da «pátria dos
direitos humanos», também auto denominada «berço da liberdade
e da democracia». É natural que assim seja na medida em que
estamos a falar de uma sociedade que tem a violência como sua
matriz essencial, onde a aquisição das mais modernas armas de
fogo é quase tão fácil como a compra de uma coca cola ou de um
hamburguer - e onde o governo pratica uma política externa
criminosa e hipócrita que, em nome da liberdade e dos direitos
humanos, destrói e mata quando, onde e como quer.
Não surpreende, por isso, a reacção do presidente Clinton à
referida acção criminosa dos dois neo-nazis. Com aquela voz de
falso compungimento que costuma usar nestas situações e
salpicando de falsos sinais humanos aquele seu rosto de figura de
museu de cera - Clinton pediu «à América» que rezasse pelas
vítimas. E, didacticamente empenhado, acrescentou: «Temos que
ensinar os jovens americanos a resolver os seus problemas com
palavras e não com armas».
Sabendo-se o que, para Clinton, significam as palavras e as armas e a utilização que delas faz, há que concluir que a supra citada declaração constitui um incentivo à continuação e intensificação de acções criminosas semelhantes à que os dois rapazes cometeram. Como se sabe, Clinton é um utilizador nato da palavra das armas, faz de cada palavra um disparo mortífero, faz transportar a sua voz por toneladas de bombas que destroem e matam. E quando fala de democracia, de liberdade, de direitos humanos - ou seja dos sacrossantos interesses dos EUA - é certo e sabido que, algures no Planeta, milhares de pessoas olham de imediato para o ar a ver quando chegam as bombas. Representante dos donos dos EUA (que são os donos da Nato, da ONU, da Europa, do Mundo), Clinton assume-se com cada vez maior descaro e arrogância como fiel seguidor das práticas e dos métodos utilizados, há sessenta anos, pelo nazismo na sua tentativa de domínio total do Mundo.
Hoje, na Jugoslávia, as «palavras» de
Clinton destroem e massacram um país e um povo. Brutalmente. Com
o apoio activo dos subservientes governos da UE, entre os quais,
tão de cócoras e tão rastejante como os seus congéneres, o do
engenheiro Guterres. E face a isto, surpreende que haja quem
focalize as responsabilidades desta guerra em Milosevic e o
compare com Hitler. Tal visão das coisas é não só desajustada
como tende a branquear os criminosos objectivos e práticas dos
EUA.
Não deixemos que nos confundam nem tenhamos medo de utilizar as
palavras necessárias: seja Milosevic o que for, e por pior que
seja, a única comparação objectiva, nestas circunstâncias,
será entre Clinton e Hitler. José Casanova