Carlos Carvalhas em Tomar
As instalações da Sociedade Recreativa Vilanovense, em Vila Nova Paialvo, receberam no domingo passado cerca de duas centenas e meia de comunistas e democratas independentes, num almoço promovido pela Comissão Concelhia de Tomar para comemorar o 25º aniversário do 25 de Abril. Entre os presentes, para além do secretário-geral do PCP, destacavam-se os principais eleitos da CDU no concelho.
Na ocasião, usaram da palavra Custódio Ferreira, da Comissão Concelhia do PCP e Presidente da Junta de Freguesia de Paialvo, e Carlos Carvalhas que (numa alocução de que a seguir se transcrevem extractos), alertou para a «versão "oásis" do PS» sobre a política nacional e a necessidade de «uma viragem à esquerda», abordou as eleições para o Parlamento Europeu e denunciou a hipocrisia internacional em relação aos massacres de Timor e à guerra na Jugoslávia.
Carlos
Carvalhas:
"PS
e PSD ensaiam diferenças formais"
(...) Ao ouvirmos o
Primeiro-Ministro falar das delícias das suas políticas e de
como temos no País indicadores de crescimento superiores às
médias europeias na versão "oásis" do Governo, é
caso para nos interrogarmos em que país é que estamos.
A crise na agricultura e nas pescas em que agricultores e
pescadores são votados ao abandono e o crescente défice da
Balança Comercial a mostrar a subalternização do nosso
aparelho produtivo certamente que não fazem parte desse
"oásis" versão PS, que o Governo agora nos descreve.
A sucessiva diminuição da percentagem do rendimento Nacional
que vai para os trabalhadores, o aumento do trabalho precário e
do subemprego, as baixas pensões e reformas, certamente que
também não fazem parte do tal "oásis".
Do mesmo modo não entrarão na versão PS do "oásis"
português, a situação no ensino privado e público, as filas
de espera nos hospitais, os hipermercados de droga e a crescente
insegurança em muitas zonas urbanas e até mais.
Como não entrará ainda nesse "oásis" a crise na
Justiça, em que para a opinião pública o que fica cada vez
mais é que os grandes senhores do dinheiro vão sempre em paz e
os pilha galinhas para os calabouços e que os processos que
envolvem altas figuras políticas, como é o caso da JAE e da
Universidade Moderna ficam na gaveta do esquecimento.
Portugal precisa de uma nova política, de uma viragem à
esquerda e não do neoliberalismo ou dum cavaquismo em rotação,
quer seja na versão PS, quer seja na versão PSD.
As
eleições para o
Parlamento Europeu
A CDU apresenta-se a
estas eleições com um reconhecido património de intervenção,
de trabalho e de propostas em defesa dos interesses nacionais e
de uma Europa de paz e cooperação, aberta ao terceiro mundo e
aos povos e culturas do Sul.
A prestação de contas dos deputados da CDU ao Parlamento
Europeu fala por si e são uma garantia real de uma luta
empenhada na futura legislatura para assegurar mais e melhor
desenvolvimento para Portugal, mais eficácia e equidade na
aplicação dos fundos, mais emprego e mais direitos numa Europa
que queremos social, solidária e de coesão.
A luta pelo emprego com direitos, pela redução do horário de
trabalho em toda a União Europeia, a defesa da nossa agricultura
e das nossas pescas, a luta por um desenvolvimento equilibrado
com uma efectiva dimensão social e ambiental, a luta pelo
aprofundamento da democracia nas instituições europeias e por
uma aproximação sistemática dos centros de decisão aos
cidadãos, são as grandes linhas prioritárias de
intervenção.(...)
Ontem no Congresso
do PSD o cabeça de lista às eleições europeias disse que
conhecia as ideias de Mário Soares sobre a Europa e que eram
más. E são de facto.
Mas não apresentou nenhuma diferença, nenhuma proposta sobre a
Europa ou sobre Portugal enquanto membro da União Europeia.
Foi um discurso de retórica e mais retórica para esconder que
entre o PSD e o PS não há diferenças essenciais sobre a
política europeia. Ambos os partidos (PS e PSD) estiveram e
estão de acordo com a PAC que tem arruinado os nossos
agricultores, em que se paga para não se produzir, ambos
estiveram de acordo com a política comum de pescas que pagou
para se abater a nossa frota pesqueira. E tanto o PS como o PSD
estão de acordo com a política neoliberal ao serviço do
capital financeiro. Como também estão com a guerra nos Balcãs
e com a NATO.
Agora com a nova liderança no PSD os defensores do "Bloco
Central" e do rotativismo vão encenar de novo a
bipolarização entre o PS e o PSD. Mas tirando as questões de
estilo, da linguagem e formais, o PSD vai continuar no essencial
com a mesma política que nas questões fundamentais também não
se distingue da do Partido Socialista.
No dia 13 de Junho os portugueses vão votar em Partidos, vão
escolher os 25 candidatos que representarão Portugal no
Parlamento Europeu. E para que um novo rumo para a Europa tenha
mais força, para que a paz, a justiça social e progresso tenham
mais força é necessário reforçar a CDU. (...)
Timor e a
hipocrisia internacional
Perante os
massacres, os assassinatos e a intimidação generalizada que se
verifica em Timor, a chamada comunidade internacional continua a
"verter lágrimas de crocodilo" e a formular votos pios
numa clara posição de Pilatos, isto é, numa clara postura de
quem tem dois e duas medidas para avaliar as situações.
É aliás sintomático que a Inglaterra continue a vender armas
à Indonésia...
Nós manifestamos o maior repúdio face a toa a hipocrisia e
reiteramos a nossa solidariedade para com a luta do povo
Timorense.
Nós entendemos que o "Acordo" para uma consulta
referendária, a ser assinada por Portugal no dia 5 de Maio deve
assegurar como exigência mínima, a segurança e tranquilidade
das populações e o consequente desarmamento das milícias a
favor da integração.
As declarações recentes de membros da resistência, o apelo
de D. Ximenes Belo, mais avolumou as nossas preocupações, tanto
mais que alguns países (EUA, Inglaterra ...), pela suas
posições práticas o que revelam é estarem interessados em
"desembaraçarem-se de um problema" através de um acto
formal, com a cobertura da ONU sem quaisquer regras ou requisitos
mínimos. Portugal pelas suas responsabilidades históricas,
políticas e éticas não o pode consentir.
Um debate
necessário e urgente
As posturas de
arrogância de quem não tem que dar contas a ninguém, de quem
tem a exclusividade dos interesses nacionais mais uma vez vieram
ao de cima com a reunião do Conselho do Atlântico Norte, que
aprovou um novo conceito estratégico da NATO, que tem
gravíssimas consequências para o presente e para o futuro da
Europa, a situação internacional e o papel da ONU em relação
à paz e à segurança mundiais e que tem profundas incidências
sobre as políticas externas e de defesa de Portugal.
O Governo português na sua habitual postura seguidista aceitou
tudo isto pela calada como se tivesse ido a Washington beber um
simples copo de água mineral...
Não informou a Assembleia da República, não informou o povo
português do que estava em apreço na reunião do passado fim de
semana em Washington para celebrar o 65º aniversário da NATO.
Afinal não se tratou de nenhuma comemoração, mas de um
verdadeiro conselho de guerra em que se alterou a natureza
jurídica, a NATO passou a ser ofensiva e punitiva, a área
geográfica da sua intervenção todo o hemisfério norte,
e a legitimidade jurídica, pode desencadear acções à margem
da ONU. Isto é, na prática e com cobertura jurídica a NATO
intervirá segundo o livre arbítrio dos EUA.
A NATO passa a ser "polícia do mundo", a mando dos
EUA, com a marginalização da ONU e o seguidismo da Europa. É
uma vergonha para a Europa que se coloca assim num papel de
subordinação em relação aos EUA aceitando o papel de
"sub-polícia" para a Europa.
Tal alteração viola os artigos 5º, 6º e 7º do Tratado do
Atlântico Norte.
Por tudo isto o mínimo que se exigia, no plano democrático,
ético e de respeito pelas instituições, era que chegado a
Lisboa, o Sr. Primeiro-Ministro se apressasse a informar a
Assembleia da República a favorecer um amplo debate sobre
matéria de tão graves incidências para o país.
Procurando que o tempo "amoleça" a indignação e a
reprovação de tais comportamentos, o Sr. Primeiro-Ministro lá
do seu "Olimpo", ao contrário do fizeram a maioria dos
governantes europeus diz que só irá à Assembleia da República
em 19 de Maio.
Por isso o PCP requereu que com urgência fosse agendado na
Assembleia da República um debate alargado com o governo sobre a
adopção do nosso conceito estratégico da NATO.(...)
Não à guerra
Depois de mais de um
mês de bombardeamentos, o saldo que se tem é o das mortes,
feridos e enormes destruições num país soberano.
A operação dita humanitária teve como consequência prática,
a multiplicação dos refugiados do Kosovo de origem albanesa.
Os falcões da NATO intensificaram os bombardeamentos e recusam
dar qualquer chance à paz.
Os alvos civis são cada vez mais visados. Aliás quando se ataca
serviços públicos, como a televisão, serviço tão intimamente
ligado à vida privada e quotidiana dos cidadãos, não se pode
continuar a dizer que se faz a guerra a um regime e não a um
povo.
As diversas propostas de paz têm sido arrogantemente recusadas
por Clinton, que fala como patrão da NATO exigindo na prática a
rendição incondicional.
É a postura que tiveram desde o início. Muitos comentadores
afirmam que em Paris se podia ter chegado a um compromisso se os
EUA em conivência com o UCK, não tivesse apresentado
ulteriormente um anexo B ao acordo com clausulas notoriamente
inaceitáveis por Belgrado, como eram os artigos 6, 8 e 10 que
precisavam que as tropas da NATO podiam deslocar-se com todo o
seu equipamento "livremente", sem quaisquer limites de
acesso em todo o território da República Federal da
Jugoslávia.
Nós condenamos todas as atrocidades; as praticadas contra os
albaneses no Kosovo, contra os sérvios na Kraina, as praticadas
na Bósnia e na Croácia e as praticadas contra os povos da
Jugoslávia pelos bombardeamentos da NATO. E repudiamos o cinismo
dos que continuam a falar em "efeitos colaterais", em
"erros técnicos", para disfarçar a destruição e a
morte.
Esta guerra é uma derrota e uma vergonha para a Europa e é
uma afronta ao Portugal de Abril.
O governo português continua a envolver crescentemente o
país na guerra e ao contrário do que já afirmaram outros
governos, o Primeiro-Ministro ainda não rejeitou formalmente
qualquer intervenção terrestre de tropas portuguesas numa
invasão da Jugoslávia. É uma posição inaceitável.
Reiteramos que a posição que prestigiaria Portugal e
defenderia a causa da paz, da Europa e de Timor, por parte de
Portugal era não a da subserviência aos EUA e à NATO, mas uma
opinião autónoma, nomeadamente de mediador, que se batesse por
um acordo político que assegurasse o fim dos bombardeamentos, o
regresso pacífico do sacrificado povo de origem albanesa ao
Kosovo, com uma larga autonomia no quadro do respeito pela
soberania e integridade territorial da Jugoslávia.
A paz é um bem precioso e não é juntando a guerra à guerra
que se resolve os problemas.(...)