Nicarágua
Protestos alastram aos transportes


Depois dos estudantes, agora é a vez dos camionistas, dos taxistas e dos motoristas dos transportes públicos se juntarem aos protestos contra o Governo liberal de Arnoldo Alemán. Na base das suas exigências está a descida do preço do gasóleo - o mais caro da América Central - de cerca de 67 escudos por litro para 44 escudos. A greve dos transportes já começa a afectar a economia nacional.

Segundo os relatos de testemunhas, Manágua é uma cidade que muda conforme as horas do de dia. Os cerca de 5 mil polícias que patrulham as ruas da capital para proteger as principais instituições e centros económicos parecem desaparecer depois do anoitecer perante os muitos grupos de manifestantes que invadem a cidade.
São erguidas barricadas e voam cocktails molotov artesanais entre as duas partes. Na madrugada de sábado, Pablo Alberto Morales, de 17 anos, transformou-se na segunda vítima dos confrontos, ao ser morto com uma pistola automática quando manifestantes apedrejavam uma camioneta que ostentava um símbolo do presidente.
Nesse dia, os camionistas denunciaram a detenção ilegal de 20 dirigentes sindicais e da Frente Sandinista de Libertação Nacional. Daniel Ortega, o líder dos sandinistas, acusou o Governo de ter «imposto um estado de sítio» e avisou que «não se vai negociar sob ameaças», acrescentando que o seu partido está a procurar mecanismos legais para destituir Alemán.
Na véspera, o Presidente anunciou a intenção de mobilizar «os mecanismos legais necessários para que prevaleça a institucionalidade e a tranquilidade», uma declaração que foi interpretada pela oposição como uma ameaça para instaurar o estado de emergência.
No 1º de Maio, em Manágua, vários milhares de pessoas manifestaram-se contra a política do Governo, acusando-o de estar a organizar grupos paramilitares para acabar com os protestos. Na ocasião, Daniel Ortega defendeu que «o povo tem todo o direito à insurreição» e afirmou que «a Frente Sandinista não hesitará em tomar as armas para defender a institucionalidade».

Estudantes assinam acordo

Os estudantes, o Conselho Nacional das Universidades e o Governo assinaram um acordo durante o fim-de-semana que fixa o orçamento do Ensino Superior nos próximos três anos e que inclui a compromisso das autoridades em procurarem apoios internacionais para projectos universitários.
Os representantes estudantis consideram o acontecimento como uma «vitória universitária», depois de várias semanas de protestos e reivindicações com base na exigência de que seis por cento do Orçamento de Estado lhes seja destinado, como está consagrado pela Constituição. No entanto, a questão que esteve na base da disputa - a discussão sobre se os empréstimos e as doações internacionais também devem ser considerados nesse valor - não foi clarificada.
Daniel Ortega partilha uma opinião diferente e define o acordo como uma simples promessa condicionada às gestões internacionais. «Estocolmo não é uma arca de dinheiro que possa resolver os problemas da Nicarágua», afirmou o líder sandinista, referindo-se à reunião do Grupo Consultivo sobre a doação empréstimos para a reconstrução do país depois da passagem do furacão Mitch que se realiza no fim do mês.


«Avante!» Nº 1327 - 6.Maio.1999