Monumento a Bento Gonçalves


A memória de Bento Gonçalves fica perpetuada, desde o passado dia 25 de Abril, na sua terra natal, Fiães do Rio, concelho de Montalegre, com um monumento constituído por uma bonita pedra de granito, sobre a qual se apôs o nome de Bento Gonçalves e uma folha de carvalho onde se escreveu «A liberdade passou por aqui». Fica localizado à entrada da freguesia, na estrada entre Paradela do Rio e Montalegre, próximo da barragem do Alto Cávado.

Foi solene e festivamente homenageado, com a presença do Presidente da Câmara de Montalegre, Dr. Fernando Rodrigues, do vereador do pelouro da Cultura, Dr. Orlando Alves, do Presidente da Junta de Freguesia de Fiães e familiares de Bento Gonçalves, e animado pela Banda de Parafita.
Estiveram presentes em representação da direcção do PCP, Agostinho Lopes e António Lopes, da Comissão Política, bem como muitos outros militantes comunistas do concelho de Montalegre e de outros concelhos de Trás-os-Montes.
A iniciativa integrou-se nas comemorações do 25 de Abril promovidas pela Câmara Municipal de Montalegre, sendo o monumento da responsabilidade do pelouro da Cultura.
Além da intervenção de Agostinho Lopes, que reproduzimos, foi dito um poema de Sidónio Muralha sobre Bento Gonçalves, e feita uma intervenção pelo Presidente da Câmara, que assinalou o estatuto moral, cívico e político de Bento Gonçalves, e a justeza da homenagem que era prestada por barrosões, associada às comemorações dos 25 anos do 25 de Abril.


Agostinho Lopes:
"Uma breve evocação"

Falar de Bento Gonçalves no descerramento de uma lápide em sua memória, nesta sua terra natal, Santo André de Fiães do Rio, neste 25 de Abril, é uma grande honra para mim e para os homens e mulheres do Partido Comunista Português. O Partido a que Bento deu um impulso decisivo, e de que foi Secretário-geral. Gostaria também de dizer que é também com muita emoção que o faço. A muita emoção e as muitas palavras que seriam necessárias para vos falar do transmontano e barrosão, do operário e cidadão, do comunista e dirigente partidário, do resistente antifascista e patriota que foi Bento Gonçalves.
(As muitas palavras que estarão no livro biográfico de Bento Gonçalves, que será editado pela Câmara Municipal de Montalegre e foi organizado pelo também barrosão e nosso camarada Enes Gonçalves). Aqui e agora, uma muito breve evocação.

«Corria o ano de 1902 quando a 2 de Março, os caseiros da Morgada de Fiães viram acrescentada a sua prole com mais um rapaz que, volvida uma semana baptizaram de Bento António Gonçalves.» Assim se iniciava uma vida e um percurso humano espantoso.
O percurso do operário que, aos 13 anos, entra no mundo do trabalho, numa oficina no Bairro da Sé, em Lisboa, passa pelo Arsenal da Marinha, trabalha dois anos nas Oficinas Gerais do Caminho de Ferro de Angola, para depois regressar novamente ao Arsenal.
O percurso do estudioso, que após fazer a escola primária, frequenta um curso nocturno na Escola Industrial Afonso Domingues, e depois, durante a vida militar, a Escola Auxiliar da Marinha.
O percurso do sindicalista, que participa no movimento sindical angolano, que é eleito pelos seus companheiros do Arsenal, Secretário-geral da Comissão Administrativa do Sindicato do Pessoal do Arsenal da Marinha, e que, na qualidade de dirigente sindical, integra uma delegação de operários que se desloca à URSS para as comemorações do X Aniversário da Revolução de Outubro.
O percurso do comunista, que adere ao PCP em 20 de Setembro de 1928 e que, em fins de Abril de 1929, era seu Secretário-geral, desempenhando um papel fundamental na sua reorganização e entrosamento na classe operária e nos trabalhadores portugueses, na sua ligação ao movimento comunista internacional, no lançamento da imprensa partidária.
O percurso do teórico político, com inúmeros artigos e textos dedicados aos problemas da organização partidária, da revolução, da formação ideológica dos militantes e operários comunistas, na divulgação de Marx, Engels e Lénine.
O percurso do dirigente político e resistente antifascista, que organiza, anima, participa nos primeiros combates contra o fascismo e a ditadura de Salazar, acabados de nascer do golpe do 28 de Maio de 1926.
O dirigente político, o revolucionário, o dirigente operário, que a ditadura do Estado Novo deporta por duas vezes, em 1931 e 1936. E é durante esta segunda deportação que Bento Gonçalves sucumbe à doença no Campo da Morte Lenta do Tarrafal, a 11 de Setembro de 1942. De facto, assassinado pelo fascismo. Por amor aos trabalhadores e ao povo português, Bento Gonçalves sacrificou a liberdade e a própria vida. Tinha 40 anos de idade.
Mas o torneiro mecânico, altamente qualificado e competente, o prestigiado dirigente operário e sindical, o lúcido teórico e publicista da revolução proletária, o destacado dirigente partidário e comunista, o homem e o cidadão Bento Gonçalves, de curta vida, fez uma grande e boa sementeira.

Há 25 anos o povo português ceifou a luminosa seara de Bento Gonçalves e de muitos milhares de portugueses que, com ele e depois dele, tudo empenharam para libertar Portugal do fascismo. Por uma vida melhor para os trabalhadores e o povo português. Pelos generosos ideais de uma sociedade liberta dos grilhões da exploração e da opressão.
Lembrar Bento Gonçalves, quando o 25 de Abril faz 25 anos, é um acto de grande oportunidade, justeza e significado.
Porque o 25 de Abril tem o som e a cor da liberdade e da democracia, que o fascismo tinha esmagado na nossa pátria. Razão das lutas e combates de Bento Gonçalves.
Porque o 25 de Abril tem a cor da ganga dos explorados trabalhadores portugueses, a cor da terra dos humilhados e ofendidos camponeses dos campos de Portugal. Tem as marcas indeléveis das dores e lágrimas das famílias separadas pela emigração, das angústias e luto dos lares destroçados pela guerra colonial. Razão das lutas e combates de Bento Gonçalves.
Porque o 25 de Abril traz consigo a exigência de um país renovado, soberano e independente, uma mensagem de paz e de amizade com todos os povos. Razão das lutas e combates de Bento Gonçalves.
Homenagear hoje Bento Gonçalves, neste dia 25 de Abril, neste povo onde nasceu, neste chão do Barroso, nesta terra de Trás-os-Montes, tem ainda um vivo significado na difícil e complexa conjuntura histórica que atravessamos.
É um grito de indignação contra todas as tentativas de branqueamento do fascismo e da reescrita da história dos 50 anos da ditadura.
É um grito de protesto contra a política que desvaloriza o trabalho e os trabalhadores, dos campos e das cidades.
É um grito de alerta contra o aviltamento da intervenção política e da cidadania, pela política espectáculo, pela corrupção do poder, pelo desvirtuamento do serviço público.
Hoje, 25 de Abril de 1999, Bento Gonçalves fica bem homenageado. Os 25 anos do 25 de Abril bem comemorados.
Andou bem a Câmara Municipal de Montalegre quando o decidiu. E, em nome do PCP, quero valorizar este acto singelo de justiça histórica. Os transmontanos e, em particular, o povo do Barroso, deviam-lhe esta homenagem. E, fazendo-a, podem dizer que o fazem em nome do povo de Abril, do País de Abril.


«Avante!» Nº 1327 - 6.Maio.1999