EUA/ NATO
sem rei nem roque


A Cimeira de Washington "comemorativa" do 50º aniversário da NATO confirmou as preocupações e alertas antes lançados pelo PCP. E avolumou-os até. As razões que levaram o PCP a promover uma campanha de esclarecimento sobre a real natureza e objectivos da NATO reforçaram-se. A luta pela dissolução desta aliança imperialista tornou-se ainda mais actual e premente.

Numa rara manifestação de arrogância imperial, a NATO/EUA proclamou solenemente perante o mundo que doravante se reserva o direito de intervir pela força das armas lá onde arbitrariamente considerar necessário fazê-lo. À revelia da ONU e da OSCE. Sem consideração pelos mais elementares princípios do direito internacional, como o da soberania dos Estados. Sem mais limites quanto à área e razões de intervenção que aqueles que ela própria determine. Ao deixar de definir-se como uma aliança explicitamente defensiva, ao dotar-se de um " conceito estratégico" ofensivo, ao alargar-se e reforçar-se com novos membros, ao insistir na doutrina da "dissuação nuclear" a NATO pretende constituir-se como o núcleo duro e polícia de choque de uma nova ordem mundial totalitária. O que acarreta enormes perigos para a paz e a segurança internacional e para a liberdade dos povos. Incluindo da própria Europa, onde a guerra já regressou.

A NATO tem sido desde a sua fundação um instrumento de hegemonia dos EUA sobre os seus aliados europeus. Com vicissitudes e contradições. Incentivando a militarização da União Europeia mas frustrando sistematicamente quaisquer ingénuas veleidades de "autonomia" desta face aos EUA. É o que acontece com a Cimeira de Washington que consagra as teses atlantistas de uma "entidade de segurança e defesa europeia" como pilar europeu da NATO, sob a égide norte-americana. Tal não podia deixar de causar inquietação e alarme, incluindo entre sectores que defendem concepções federalistas e têm pugnado pelo desenvolvimento da U.E. como bloco político - militar rivalizando com os EUA pela repartilha do mundo. É de facto intolerável que orientações e decisões que afinal competem à U.E. sejam tomadas pela NATO sob a batuta de Washington com os governos "socialistas" da Europa acocorados diante da "mega potência". Se é assim que esperam "apaziguar" os apetites do imperialismo norte - americano na Europa e no mundo era bom que não esquecessem as lições da história.

Mas a questão é ainda mais funda. O que está em jogo é a resposta aos grandes desafios do nosso tempo. Trata-se da defesa dos interesses do grande capital, das grandes corporações transnacionais. Trata-se de, em nome da "estabilidade", optar por soluções intervencionistas agressivas para impedir o desenvolvimento e triunfo de processos e revoluções libertadoras. Trata-se de dinamitar o sistema de relações internacionais fundado na derrota do nazi-fascismo, erguer uma "nova ordem" que legitime o uso da força bruta face aos que resistem e lutem contra as trágicas consequências da "globalização" imperialista neoliberal e por um mundo melhor. É isto que afinal explica essa "incompreensível unanimidade" verificada em Washington entre governos e famílias políticas na sua aparência muito diversas, mas tão semelhantes nos interesses de classe que representam.

À luz do direito internacional e da Carta da ONU as decisões da Cimeira da NATO de Washington têm forçosamente que considerar-se ilegais. Desde o desaparecimento da URSS e do socialismo como sistema mundial que os EUA e outras grandes potências se propuseram refazer o sistema internacional de alto abaixo em função de nova correlação de forças. É isso que está em marcha a tiro de canhão como na Jugoslávia. É isso que temos de continuar a combater com energia, unindo todos quantos seja possível unir, na luta pela paz, pelo fim da guerra na Jugoslávia, pela dissolução da NATO. — Albano Nunes


«Avante!» Nº 1327 - 6.Maio.1999