Manuel Lopes, uma vida dedicada
ao mundo do trabalho



Centenas de pessoas assistiram ao funeral de Manuel Lopes, falecido aos 56 anos de doença incurável, membro da Comissão Executiva da CGTP-IN e um dos sindicalistas fundadores da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional, em 1970.

Perante as quatro centenas de pessoas, entre trabalhadores e sindicalistas, que aguardaram quase duas horas à porta do cemitério a chegada do cortejo fúnebre proveniente da Igreja de S. Paulo, Carvalho da Silva reafirmou o «compromisso de continuar a luta pelos direitos de quem trabalha».
Durante o elogio fúnebre do sindicalista falecido sábado, o coordenador da CGTP-Intersindical sublinhou a dimensão humana daquele que foi, «inquestionavelmente, um dos sindicalistas maiores deste país», que «deu tudo na defesa de direitos, por vezes, difíceis de defender».
«Para além de fundador da CGTP, Manuel Lopes representava a expressão viva de apego a este grande projecto», realçou Carvalho da Silva, para quem a presença, no funeral, de «sindicalistas que estiveram em confronto» com o dirigente falecido ilustra a abertura de espírito que este sempre demonstrou.
«Manuel Lopes dedicou a sua vida ao mundo do trabalho e aos direitos dos trabalhadores. Foi um lutador nos tempos difíceis de antes do 25 de Abril, em pleno regime fascista, e deu tudo em que podia em defesa dos direitos dos trabalhadores», afirmou ainda o dirigente sindicalista.
No enterro de Manuel Lopes, sepultado ao lado do dirigente comunista Octávio Pato, esteve presente uma delegação do PCP, integrando o secretário-geral, Carlos Carvalhas, e os dirigentes comunistas Domingos Abrantes e Jerónimo Sousa.
Em declarações então proferidas, Carlos Carvalhas sublinhou que "faleceu um homem de causas, que dedicou a sua vida à luta sindical e à unidade dos trabalhadores".
Um homem que sempre cooperou com o PCP e a CDU e cujo último acto político foi subscrever o apoio às listas da CDU para as eleições do Parlamento Europeu e da Assembleia da República.


PCP envia telegrama

O Secretariado do Comité Central do PCP enviou à Comissão Executiva da CGTP-IN e à família de Manuel Lopes, o telegrama de condolências que aqui reproduzimos:
«Interpretando o sentimento de todo o Partido, a Direcção do PCP quer manifestar o seu profundo pesar pela grande perda que constitui o falecimento de Manuel Lopes. Curvamos a nossa bandeira ao militante sindical, fundador da CGTP-IN e à sua luta permanente pelas grandes causas dos trabalhadores.»

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Quem foi Manuel Lopes

Manuel Lopes, destacado militante sindical, iniciou a sua actividade em 1964, no então Sindicato dos Lanifícios de Lisboa.
Foi fundador da Intersindical Nacional, em 1970, sendo membro da Comissão Executiva do Conselho Nacional da CGTP-IN desde 1977 e presidente da Assembleia Geral do Sindicato dos Têxteis, Lanifícios e Vestuário do Sul.
Era também membro do Conselho Económico e Social e da Comissão Permanente de Concertação Social. Representava, desde 1989, a CGTP-IN no Instituto de Emprego e Formação Profissional e fazia parte do Observatório do Emprego e Formação Profissional.
Era membro do Comité Permanente do Emprego da União Europeia e do Comité Consultivo para a Formação Profissional da UE, bem como dos conselhos de opinião da RTP e da RDP.
Integrava o Conselho Geral do INOFOR.

Manuel Lopes teve também uma intensa actividade política e cívica: Pertenceu ao MDP/CDE, antes do 25 de Abril; foi fundador do MES; foi deputado à Assembleia da República entre 1980 e 1985, como independente nas listas do PCP; fez parte da Comissão de Apoio à Eleição de Mário Soares para Presidente da República (2º mandato); integrou a Comissão de Honra da Candidatura de Jorge Sampaio a Presidente da República; era deputado, pelo terceiro mandato consecutivo, na Assembleia Municipal de Lisboa, em representação da CDU. Era membro da direcção do Conselho Português para a Paz e a Cooperação e foi durante anos presidente da Mesa da Assembleia Geral da Voz do Operário.
Manuel Correia Lopes nasceu em 18 de Novembro de 1943, na freguesia da Sé Nova, em Coimbra. Perdeu o pai aos três anos de idade, após o que partiu com a mãe para Lisboa. Começou a trabalhar como aprendiz na indústria têxtil, onde passou pelos serviços administrativos, pela produção e mais tarde como responsável do serviço de compras. Entretanto, tirou o curso comercial, em horário pós-laboral.
Aos 15 anos, ingressou na Juventude Operária Católica (JOC), de que foi dirigente entre 1960 e 1966.
Começou a sua actividade no sindicato dos lanifícios de Lisboa. No mesmo ano foi chamado para o serviço militar, tendo dois anos mais tarde sido mobilizado para a Guiné. Regressado, voltou à actividade sindical e foi eleito presidente do seu sindicato, com 26 anos de idade.
Como dirigente do Sindicato dos Lanifícios de Lisboa, trabalhou intensamente, em conjunto com outros sindicalistas, na criação da Intersindical Nacional, actual CGTP-IN.
Empenhou-se activamente na reorganização do sindicato da indústria têxtil e na fusão das federações dos lanifícios e dos têxteis numa única Federação, de que foi dirigente até 1992.
Depois da revolução portuguesa, foi um dos oradores no primeiro comício comemorativo do 1º de Maio. Foi também o primeiro sindicalista a falar na televisão portuguesa no direito à greve. Em Junho de 1974, foi escolhido como delegado dos trabalhadores à conferência da OIT.
Presidiu à mesa do 1º Congresso da Intersindical e passou a integrar todos os seus secretariados, excepto o primeiro. Actualmente, é responsável do departamento de informação e relações públicas e do departamento de emprego e formação profissional, entre outras importantes funções de organização, de administração e de representação da CGTP-IN.


«Avante!» Nº 1329 - 20.Maio.1999