Carta ao Primeiro Ministro
A guerra não é solução


«Somos cidadãos profundamente inquietos e preocupados com a guerra conduzida pela NATO, desde há precisamente dois meses, com todo o seu cortejo de destruição e mortes» afirma-se na Carta ao Primeiro Ministro, subscrita por largas dezenas de cidadãos, nomeadamente Carlos do Carmo, Carlos Carvalhas, Cláudio Torres, Hugo Capote, Jorge Leite, José Barata Moura, José Saramago, Luís Cília, Diana Andringa, Carvalho Silva.

A carta, que tem como objectivo tomar posição face ao próximo Conselho da União Europeia de 3 e 4 de Junho, em Colónia, começa por sublinhar que, «independentemente de diferenças de opinião sobre questões de história recente e da situação interna na Jugoslávia, coincidimos numa questão essencial: a guerra não é solução, é preciso pôr imediatamente termo aos bombardeamentos sobre a Jugoslávia.»
E prossegue: «Um país está a ser metódica e chocantemente destruído, e ao seu povo, em todas as suas componentes étnicas, estão a ser impostos terríveis sofrimentos e privações. É uma evidência que se agravaram e tornaram ainda mais complexos os problemas que se afirmava pretender resolver com o desencadeamento, ilegítimo e ilegal, das operações militares. E apesar da multiplicação de iniciativas diplomáticas, os bombardeamentos da NATO têm recrudescido. Intensificam-se os preparativos para uma "ofensiva terrestre", é real o perigo de uma escalada militar de grandes proporções e imprevisíveis consequências para os Balcãs, a Europa e o mundo.»
Por tudo isto, dizem os subscritores, «consideramos que é imperioso e urgente parar os bombardeamentos da Jugoslávia, o que, além de um acto da mais elementar justiça, contribuiria para criar o clima político indispensável para - repondo a legalidade internacional e reconduzindo para a ONU o processo negocial - encontrar uma solução política justa e duradoura para o problema do Kosovo e dos seus refugiados, nomeadamente para os albaneses do Kosovo, e que respeite simultâneamente os direitos legítimos de todas as etnias kosovares e a integridade territorial da Jugoslávia.»
Defendendo a adesão do governo português ao movimento pelo fim dos bombardeamentos e tendo em conta o próximo Concelho da União Europeia, os subscritores da Carta consideram que «sobre esta "cimeira" da União Europeia pesam enormes responsabilidades. Se a anterior, em Berlim, constituíu um lamentável espectáculo de abdicação e seguidismo face aos EUA, que sancionou o desencadeamento da guerra, desta se exige uma afirmação autónoma e não subserviente da U.E. isto é, uma posição inequívoca em direcção ao fim da guerra. Seria profundamente lamentável que, em momento tão crucial, a voz de Portugal não se fizesse ouvir, distinta e corajosamente em favor da paz e pelo fim imediato dos bombardeamentos.»


«Avante!» Nº 1331 - 2.Junho.1999