COLÓNIA
na encruzilhada



E
stes dias poderão ser cruciais no que respeita à guerra contra a Jugoslávia. A alternativa, paragem imediata dos bombardeamentos/escalada militar, está em cima da mesa e o próprio futuro da Europa está como que numa encruzilhada. As decisões e sinais que saírem da reunião do Conselho da União Europeia, em Colónia serão seguramente muito importantes.

Torna-se cada dia mais evidente que a invocação da questão Kosovo, tanto na sua dimensão política como humanitária (terrivelmente agravada pelos bombardeamentos e pelas operações impostas pelos terroristas separatistas do UCK) nada mais é que um cínico pretexto para impôr os objectivos estratégicos dos EUA e da NATO na região. Por isso se minam e sabotam sistemàticamente, desde Rambouillet (que "não foi uma negociação, mas um ultimato", H. Kissinger, "Times", 31 de Maio), quaisquer oportunidades de solução negociada para o conflito. A única "solução política" em que os falcões do imperialismo euro-atlântico estão interessados é afinal uma "solução militar". O que se pretende é a capitulação que o governo jugoslavo recusara em Rambouillet/Paris (o já famoso Anexo B que o inefável engº Guterres finge candidamente desconhecer) imposta agora pela selvática destruição de um país e o sacrifício de todo um povo.

A extraordinária resistência patriótica do povo jugoslavo e o amplo movimento contra a agressão da NATO, obrigaram os fautores de guerra a reconhecer o papel incontornável da Rússia, da China e da própria ONU. E no quadro, embora defeituoso do G-8, surgiram propostas admitidas pelo governo de Belgrado como base de solução. Sucede entretanto que a Embaixada da China em Belgrado era bombardeada; que a Srª. Louise Arbour lançava um "oportuno" mandato de captura contra alguns dos mais altos dirigentes da Jugoslávia, suspeita e prontamente saudada pelos agressores como "prova que justifica a intervenção militar" (Chirac e Jospin/Schröder, Cimeira franco-alemã de Toulouse, El País, de 29.5.99); que Kofi Annam, o tal S. Geral da ONU imposto pelos EUA, sem dizer uma palavra em defesa da ONU e da sua Carta, se prestava em repetidas ocasiões a legitimar a agressão da NATO; que em relação à Rússia, ao mesmo tempo que se pretendia atribuir-lhe o humilhante papel de moço de recados, se procurava por outro lado, sabotar os resultados do empenhamento dos seus diplomatas, ao ponto de Igor Ivanov se queixar pùblicamente (Público, de 30.5.99) de que "os esforços da Rússia não encontram compreensão dos dirigentes da NATO, que continuam a insistir em que Belgrado aceite as exigências da Aliança".

Felizmente que a vontade dos sectores mais agressivos da NATO não é omnipotente. O prolongamento da guerra está a provocar diferenciações significativas no campo dos "aliados". A Grécia sobretudo, mas também Itália e outros países, insistem na necessidade de parar os bombardeamentos. Há divergências reais relativamente a uma ofensiva terrestre com a recusa da Hungria e outros países em ceder o próprio território para essa aventura.
Neste sentido o Conselho da U.E. em Colónia reveste-se de grande importância. O anterior Conselho de Berlim, reunido precisamente aquando do desencadeamento da guerra, limitou-se a constatá-la e a aprová-la naquilo que foi então considerado uma humilhante manifestação de seguidismo suicida da "Europa". E esta o que trará? O relançamento das tendências federalistas e da política de bloco? O avanço em direcção à tal "entidade de segurança e defesa" que a Cimeira da NATO em Washington sancionou como "braço europeu da NATO", devidamente tutelado pelos EUA? Um novo impulso militarista, justificado com o Kosovo e a necessidade de contraponto à hegemonia americana? O que se conhece, tanto do recente comício do Partido Socialista Europeu em Paris, como da Cimeira Franco-Alemã de Toulouse, preparatória de Colónia, como até a anunciada designação de Xavier Solana para "Sr. PESC", não augura nada de bom para esta última "Cimeira" da U.E. sob presidência alemã.

A ver vamos. Na certeza de que responsabilidades serão exigidas, nomeadamente ao engº António Guterres e ao seu governo. E de que tem de continuar a luta: contra a guerra e por uma solução política negociada, contra a política agressiva da NATO e pela sua dissolução, contra a militarização da União Europeia e por uma Europa de paz, progresso e cooperação. — Albano Nunes


«Avante!» Nº 1331 - 2.Junho.1999