Eleições: resultados e perspectivas



Como incisivamente acentuou o Comité Central do PCP, as eleições para o Parlamento Europeu de Domingo passado confirmaram o PCP e a CDU como grande força nacional indispensável para uma viragem à esquerda em Portugal e indiciaram a possibilidade real de obtenção de um bom resultado nas próximas eleições legislativas.
Os resultados de Domingo assumem ainda maior significado e importância se se tiver em conta que eles reforçam consideravelmente o carácter nacional do PCP, a sua condição de partido com implantação visível em todo o continente e regiões autónomas. Exemplo disso é o aumento da expressão eleitoral da CDU nas zonas onde a sua influência é menor e nas quais se verificaram mesmo, nalguns casos, espectaculares subidas de votação. Com esse reforço abrem-se novas e promissoras perspectivas em relação ao desenvolvimento futuro do Partido nessas regiões. Inclusive, na perspectiva das próximas eleições legislativas, ganham maior peso e viabilidade as possibilidades reais de a CDU voltar a eleger deputados em vários distritos. Tal facto coloca-nos novas e maiores responsabilidades e impõe-nos a exigência de, desde já, iniciar a preparação das eleições legislativas numa perspectiva de reforço da expressão eleitoral e do número de deputados não só nas zonas onde tradicionalmente elegemos mas também nesses outros distritos onde tais possibilidades são, hoje, muito maiores.

Para o PE, a CDU perderá, talvez, um deputado – significando este «talvez» que, de facto, o 25º deputado não está ainda eleito e só o PSD ou a CDU o poderão ganhar. E importa sublinhar que se não for a CDU a ganhar esse deputado (o que, a verificar-se, aconteceria por uma margem de menos de uma décima), estaríamos perante a maior injustiça destas eleições, na medida em que, nessa eventualidade, não seria eleito o 3º deputado da CDU, neste caso Sérgio Ribeiro – que foi, conforme é generalizadamente reconhecido, um dos melhores e mais activos deputados não só entre os 25 portugueses mas no conjunto de todos os deputados que compõem o Parlamento Europeu. Aguardemos, no entanto. E sublinhemos o facto de a CDU ter desenvolvido uma campanha singular no conjunto das várias campanhas - uma campanha séria, de respeito pela inteligência e pelos direitos dos eleitores, caracterizada por um amplo contacto directo com as populações e os trabalhadores, por uma abordagem responsável e construtiva das questões nacionais e europeias, por um forte dinamismo e espírito de iniciativa – uma campanha construída pelo esforço e a dedicação de milhares de militantes comunistas e outros activistas da CDU e que teve na participação de Ilda Figueiredo um contributo notável.
Nos resultados obtidos pela CDU há que sublinhar, como dados positivos e de indispensável valorização, o aumento do número de votos (mais cerca de 20000 do que nas eleições de 1994); a subida de quarta para terceira força eleitoral; e o facto de ter voltado a ultrapassar os 10% dos votos. Tudo isto é tanto mais digno de registo quanto, como sabemos, as previsões, sondagens e desejos veículados pela generalidade da comunicação social dominante apontavam num sentido oposto.

O PS traçou para estas eleições objectivos ambiciosos, nomeadamente o de obter uma votação esmagadora que lhe assegurasse a eleição da maioria absoluta dos deputados e lhe abrisse caminhos para a obtenção de igual maioria nas próximas legislativas. Para esses objectivos recorreu ao maior trunfo de que dispunha: o ex-Presidente da República. E fê-lo na base de um escandaloso embuste: Soares foi apresentado como candidato a presidente do PE e envolvido em slogans de óbvio conteúdo mistificatório. Ora, conhecida como é a longa e vasta experiência quer do PS quer de Soares neste tipo de práticas, é legítimo admitir que o embuste tenha atraído para o PS bastantes mais votos do que o conseguiria uma campanha séria, limpa e de respeito pelas pessoas – além de que, a acrescentar a tudo isto, há ainda o facto de o PS ter usado e abusado na sua campanha, de forma escandalosa e condenável, do poder político e de meios do Estado.
O PS obteve, em comparação com as anteriores eleições para o PE, um bom resultado. Mas é muito positivo que a operação mais ambiciosa acima referida tenha fracassado no essencial.

O resultado do PSD – que se fartou de cantar vitória na noite das eleições – ficou abaixo dos resultados obtidos por este partido em todas as eleições efectuadas nos últimos catorze anos.
Quanto ao CDS/PP – cujo líder, ridiculamente, se autoproclamou como o grande vencedor das eleições – basta dizer que perdeu um terço dos seus votos, desceu de 12,4% para 8,2%, passou de terceira para quarta força eleitoral e perdeu um deputado.
No que respeita aos pequenos partidos, todos ficaram, como se esperava, muito, muito distantes da possibilidade de eleição. Importará, por isso, reflectir sobre as razões que levaram vários comentadores a anunciar e comentar a possibilidade de eleição de um deputado do Bloco de Esquerda, mesmo quando, contados os primeiros votos, tal hipótese estava absolutamente excluída. Apesar de todas as facilidades de que beneficiou, o BE limitou-se a obter mais duas décimas do que a soma das votações, em 1994, dos três partidos que o geraram – votação que poderá vir a ter, objectivamente, como único efeito assinalável o seu contributo para que o 25º deputado que falta eleger seja, não um deputado da CDU mas um deputado do PSD. Surpreendente no caso do BE foi apenas a forma como a UDP – sem dúvida o mais organizado e activo dos três partidos que compõem o BE e aquele cujos militantes mais trabalharam na campanha – foi remetida, na mediática exibição de líderes, para uma apagada última fila.

Agora, naturalmente, para o PCP e para a CDU, a luta continua: contra a política de direita, desmascarando-a e ao seu conteúdo de classe, e por uma viragem à esquerda na política nacional; dando continuidade e intensificando a solidariedade internacionalista e a luta pela paz; prosseguindo o esforço com vista ao reforço orgânico e interventivo do Partido; arrancando com entusiasmo para a construção da Festa do Avante; intensificando a campanha de fundos, essencial para fazer face ao financiamento da actividade partidária e da próxima campanha eleitoral; enfim, criando as condições para a concretização de uma grande e forte campanha eleitoral para a Assembleia da República, de modo a reforçar a expressão eleitoral da CDU e a aumentar o número dos seus deputados.


«Avante!» Nº 1333 - 17.Junho.1999