U.S. do
Porto contesta
números do desemprego
A partir de Julho, as já deformadas estatísticas poderão reduzir ainda mais o número de desempregados, com a entrada em vigor do novo regime legal de protecção no desemprego, alerta a estrutura distrital da CGTP-IN.
Em conferência de
imprensa dada na semana passada, a União dos Sindicatos do Porto
contestou a taxa de desemprego do INE, preferida pelo Governo.
Segundo a USP, são mais correctos os números do IEFP, que
contabilizam os desempregados inscritos nos Centros de Emprego.
Nas contas dos sindicalistas portuenses, a taxa real de
desemprego situa-se 3 pontos acima da oficialmente anunciada.
As estatísticas do Ministério do Trabalho registam uma
população activa de 4779 mil pessoas, no Continente, no
último trimestre de 1998; em Dezembro, estavam registados nos
Centros de Emprego 370674 desempregados; logo, a taxa nacional de
desemprego será de 7,7 por cento e não de 4,9 por cento
(valor referido pelo INE, a partir dos Inquéritos ao Emprego).
Na Região Norte, para uma população activa de 1814 mil
pessoas, os Centros de Emprego registavam, em Dezembro de 1998,
um total de 135152 desempregados, a que corresponde uma taxa de
desemprego de 7,4 por cento (enquanto o INE refere 4,8).
A USP estudou ainda o Plano Regional de Emprego para a Área
Metropolitana do Porto, onde, no terceiro trimestre do ano
passado, é apontada uma população activa de 600 mil pessoas,
número que a União admite estar «um pouco acima da
realidade»; mesmo assim, os 57104 desempregados inscritos em
Dezembro nos Centros de Emprego da AMP representam uma taxa de
desemprego de 9,5 por cento, mais elevada do que os 6,3
por cento referidos no PREAMP (documento que, para a USP,
«prioritariamente tem objectivos políticos e, numa segunda
fase, objectivos meramente estatísticos».
Outros números permitem também concluir que «o desemprego pode
não estar a diminuir»: registaram-se mais novos
requerimentos de subsídio de desemprego em 1998 do que em
1997, enquanto os subsídios de desemprego atribuídos
abrangiam, em Fevereiro passado, 170200 pessoas (deixando de fora
mais de metade dos desempregados), quando a média verificada em
1998 fora de 165 mil.
Aos dados estatísticos, a USP soma ainda a acusação de que «a
apregoada redução do número de desempregados tem sido feita,
essencialmente, à custa dos chamados Programas Ocupacionais e de
formação, e não resulta da criação de emprego estável e de
qualidade, mas sim emprego precário e de curta duração».
Novo regime
Na ocasião, a USP
comentou também o novo regime de protecção no desemprego, que
entra em vigor a 1 de Julho, baseado no Decreto-Lei 119/99, de 14
de Abril, e no DL 186-B/99, de 31 de Maio). Ao passar a
considerar também os anos de contribuições do beneficiário no
cálculo da duração do subsídio de desemprego, o diploma vai
ao encontro de algumas reivindicações da CGTP. «No entanto,
este diploma insere-se na política do Governo de aumento da
precarização do emprego», ressalva a União dos Sindicatos do
Porto, apontando dois motivos: a criação do subsídio de
desemprego parcial, como incentivo ao trabalho a tempo parcial, e
vai «permitir ao patronato ver-se livre de mão-de-obra efectiva
e substituí-la por emprego com custos menores e, em muitos
casos, subsidiado».
O Governo vai, com este novo regime, «estimular as entidades
patronais a empurrarem trabalhadores mais velhos para fora das
empresas», adoptando uma filosofia que «contraria todas as
recomendações sobre o emprego», protesta a USP, citando
documentos da OCDE e da União Europeia, que chamam a atenção
para os custos sociais e económicos (designadamente, para a
Segurança Social) dos esquemas de saída precoce do mercado de
trabalho.