PCP contra «negócio Champalimaud»


A proibição pelo Governo da operação de venda por António Champalimaud de 40% da sua holding pessoal aos espanhóis do Banco Santander Central Hispano, é considerada pelo PCP como «o mínimo que o Governo teria de fazer face ao comportamento que o próprio Governo e o Partido Socialista assumiram em todo este processo.»

De facto, diz o PCP relativamente à decisão anunciada na sexta-feira pelo ministro das Finanças, «foi o próprio Governo e o PS que favoreceram decisivamente a realização deste negócio que transfere para Espanha o controlo de uma parte importante do sistema financeiro e da economia portuguesa» porque, conhecendo-o, juntaram os votos socialistas aos do PSD e do PP e impediram a aprovação do relatório da Comissão de Inquérito Parlamentar. Um relatório que concluía que «o Governo PSD, prejudicando os interesses patrimoniais do Estado e de terceiros favoreceu António Champalimaud, pondo à sua disposição os meios necessários para adquirir empresas do Estado em processo de privatização».
Mas, segundo o PCP, o Governo e o PS favoreceram também este negócio ao entregarem a António Champalimaud, em Novembro de 1996, «os 13% que restavam do capital do Banco Totta e Açores nas mãos do Estado abdicando da última posição do Estado como accionista que lhe teria permitido alguma intervenção neste processo em tempo útil.»
Aliás, «toda a história da reconstituição do império Champalimaud e do tratamento de favor que lhe foi concedido pelos Governos do PSD e do PS configura o exemplo mais paradigmático do que tem sido o saque do património público ao longo do processo de privatizações que tem conduzido progressivamente à transferência para grandes grupos económicos privados e para centros de decisão no estrangeiro de parcelas estratégicas da economia portuguesa.»
Daí que o PCP espere que a decisão anunciada se torne efectiva «em defesa de uma parcela de reserva estratégica da soberania nacional e do interesse público». E, considerando que todo o processo «está fragilizado face à política de privatizações que tem sido seguida e que o Governo PS prossegue, nomeadamente com a privatização de mais 13,5% do capital da Portugal Telecom no próximo mês de Julho», reclama que este exemplo sirva para «o governo pôr termo de vez ao irracional processo de privatizações que tem prejudicado seriamente o interesse nacional.»


«Avante!» Nº 1334 - 24.Junho.1999