Graves
acusações ao secretário de Estado e ao Governo
Sindicatos
contestam
demissões no IDICT
O Sindicato da Construção Civil do Norte e Viseu expressou «sérias dúvidas» acerca da actuação futura da Inspecção Geral do Trabalho e decidiu solicitar ao ministro Ferro Rodrigues, com urgência, uma audiência para analisar a situação «dramática» no sector.
Na passada
sexta-feira, no Porto, o sindicato tomou posição relativamente
a «recentes acontecimentos no Instituto do Desenvolvimento e
Inspecção das Condições do Trabalho, que culminaram com a
exoneração do seu presidente e vice-presidente». Para a
estrutura da CGTP naquele sector e região, «se o IDICT e a IGT
não estavam a funcionar eficazmente, o primeiro a ser exonerado
deveria ser o Inspector Geral do Trabalho, que tem pautado a sua
actuação pelo mediatismo e não pela eficácia».
As dúvidas dos sindicalistas da construção do Norte e Viseu
prendem-se com o que irá suceder ao interrompido «projecto do
Dr. Fernando Cabral» e à forma como irá doravante funcionar a
IGT. Com o ministro do Trabalho, o sindicato quer analisar «o
aumento desregrado da sinistralidade e da clandestinidade,
principalmente durante esta governação», bem como apresentar
propostas.
Recordando que «a clandestinidade no sector prejudica a
Segurança Social em mais de 30 milhões de contos», o sindicato
entende que, «se o ministro do Trabalho foi implacável contra
as baixas fraudulentas, deverá agora sê-lo contra esta
chaga da construção civil que é a clandestinidade». Na nota
divulgada aos jornalistas, o sindicato adianta que, mantendo-se a
falta de garantia de tomada de medidas concretas, «iremos
realizar uma jornada de luta contra a clandestinidade, a
precariedade, bem com pelo pagamento das contribuições de todos
os trabalhadores para a Segurança Social e contra a vergonha da
sinistralidade».
Fundadas críticas
«A crise que
eclodiu no IDICT e originou a exoneração do seu presidente e
doutros membros da direcção veio mostrar como eram fundadas as
críticas e as reservas oportunamente formuladas pela CGTP-IN
acerca do modelo orgânico que o Governo decidiu atribuir àquele
instituto», afirmou a central, no comunicado que emitiu, no
início de Junho, a propósito das demissões.
Para a Inter, na raiz dos problemas actuais está, «em
primeiro lugar, o facto de se ter retirado autonomia à
Inspecção do Trabalho, diluindo-a num organismo profundamente
governamentalizado, como é o caso do IDICT», o que «só podia
ter um de dois resultados: ou a inoperância ou a sua
utilização para acções de efeito meramente
propagandístico». Afinal, lamenta a nota do Departamento de
Informação da CGTP, «tem-se verificado uma coisa e outra».
A central coloca ainda, na base da crise, «a incompetência e o
partidarismo de que o secretário de Estado tem dado provas»,
já que «o Governo não resolveu nenhum dos dossiers
importantes que tinha ou lhe chegaram às mãos».
Por um lado, foi congelada a aplicação de medidas como a
regulamentação da eleição dos representantes dos
trabalhadores, a organização dos serviços (designadamente o
processo de autorização de funcionamento das empresas de
serviços de Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho, a
certificação dos técnicos de SHST, a revisão do Estatuto da
Inspecção do Trabalho, referidos pela CGTP como «instrumentos
sem os quais não se resolverá tão cedo, no nosso país, o
gravíssimo problema dos acidentes de trabalho, nem os
sistemáticos atropelos patronais às leis».
Por outro lado, notava-se no comunicado de dia 4, «o secretário
de Estado tem revelado uma estranha apetência para intervir onde
não lhe compete, como aconteceu com a autorização a empresas
prestadoras de serviços de SHST ligadas à TAP e à Portugal
Telecom, numa clara atitude de compadrio político, já que há
várias centenas de pedidos de autorização à espera de serem
despachados».
Quanto às exonerações, são vistas pela Intersindical Nacional
como «uma nova manifestação de prepotência por parte do
secretário de Estado das Relações Laborais», que «só podem
contribuir para emperrar ainda mais o funcionamento e a
actividade do próprio instituto e, em especial, da Inspecção
do Trabalho», situação que «torna premente a necessidade de
repensar o modelo e a estrutura orgânica do IDICT, situação em
que o Governo se tem mostrado verdadeiramente inoperante».