Por uma viragem à esquerda na política nacional


O líder parlamentar comunista reiterou o empenhamento do PCP em contribuir «para uma política diferente em Portugal» - «nos actos, e não apenas nas palavras», frisou - «uma política virada para a esquerda, uma política mais justa, de progresso económico e social, e mais solidária».

Na sessão plenária que retomou os trabalhos parlamentares, após as eleições europeias, foram ainda estas a dominar a declaração política proferida por Octávio Teixeira. Todos os partidos, aliás, se pronunciaram sobre o tema. Tendo no horizonte as próximas legislativas, o PS reclamou vitória, mas a sua leitura dos resultados não foi acompanhada pelos partidos da oposição. Ninguém, de resto, assumiu qualquer derrota.
Mas a verdade é que, como tratou de demonstrar o presidente da formação comunista, nuns casos (PSD e CDS/PP), houve mesmo derrotas e, noutro (PS), o «bom resultado» não esconde o fracasso de uma estratégia. Vamos por partes. Quanto ao PSD, lembrou Octávio Teixeira, a luta renhida pela obtenção do 25º mandato entre aquele partido e a CDU (no momento da intervenção a diferença situava-se em 1383 votos, isto é 43 milésimas) veio reeditar a situação ocorrida em 1994. Só que com uma diferença. É que então, assinalou, a disputa era «entre a obtenção do terceiro mandato da CDU e o décimo mandato do PSD. Hoje, o que está em causa para a CDU é, de novo a obtenção do terceiro mandato. Mas para o PSD não é já o 10º, mas apenas o 9º mandato».
No que se refere ao CDS/PP, como assinalou Octávio Teixeira, foi a única força política a perder votos relativamente a 1994 – quase 100.000 votos - , perdendo igualmente o lugar de terceiro partido mais votado. Mesmo assim consegue afirmar «que este resultado significa o seu renascimento», ironizou o presidente da formação comunista, antes de lembrar que o PP foi, aliás, o único que fez as «comparações dos resultados obtidos não com resultados anteriormente conseguidos mas, apenas e quixotescamente, com as sondagens...»
Sem deixar de reconhecer que em comparação às eleições de 1994 o PS obteve «um bom resultado», Octávio Teixeira evidenciou ser do mesmo modo inequívoco que o «grande e principal objectivo» perseguido – a obtenção de uma maioria absoluta assente no prestígio de Mário Soares – «se saldou por uma enorme desilusão para as hostes rosa». «O elemento central e prioritário da estratégia definida pelo PS e pelo Governo fracassou. Ainda por cima, nem sequer conseguiu a percentagem de votos que o PS obteve em 1995», sustentou Octávio Teixeira.
Não esquecendo a diminuição verificada na percentagem de votos, os resultados obtidos pela CDU, no entender da bancada comunista, foram «positivos», concorrendo para esta leitura o facto de a Coligação ter mantido a sua percentagem nos dois dígitos, ter aumentado o número de votantes relativamente a 1994 e ter reconquistado o lugar de terceira força política portuguesa que havia perdido, precisamente, há cinco anos atrás.
Neste contexto, a quatro meses das legislativas, há dois «elementos políticos» que importa reter, segundo Octávio Teixeira. O primeiro, é o de que «é perfeitamente possível impedir que o PS possa obter a maioria absoluta que tão fortemente ambiciona». O segundo, prende-se com as votações agora obtidas, as quais, anotou, «vieram retirar qualquer credibilidade ao pré-definido apelo do PS ao "voto útil" do eleitorado de esquerda, com o espantalho do perigo de a direita regressar ao poder». Com efeito, observou, «o que agora foi patente é que nem com o pleno do voto da direita o PSD está em condições de lutar pelo lugar de partido mais votado nas próximas eleições legislativas».


«Avante!» Nº 1334 - 24.Junho.1999