Sector
científico e tecnológico
Governo
não revitaliza sector da investigação
O Grupo Parlamentar do PCP apresentou várias propostas de alteração a dois diplomas respeitantes ao sector científico e tecnológico nacional. Trata-se, concretamente, de dois decretos-lei, um, sobre o Estatuto da Carreira de Investigação Científica, o outro, relativo ao quadro normativo aplicável às instituições que se dedicam à investigação científica e desenvolvimento tecnológico.
Em qualquer dos
casos, como referiu a deputada comunista Luísa Mesquita no
debate que procedeu à ratificação dos diplomas, realizado por
iniciativa da sua bancada, está em causa o facto de o Governo
ter ignorado a «efectiva participação dos trabalhadores»
neste processo legislativo, a que se associa a inexistência de
qualquer objectivo dirigido para a «revitalização do sector
público do Estado».
«Estes dois decretos-lei foram repetidamente anunciados,
sucessivamente protelados e agora, sem discussão e à pressa,
foram aprovados em Conselho de Ministros», lembrou Luísa
Mesquita, que considerou ter sido negado à comunidade
científica, aos laboratórios e às universidades e às
próprias organizações sindicais «um mínimo de tempo para
poderem debatê-los e pronunciarem-se sobre eles».
E bem necessária teria sido essa auscultação. É que, frisou,
há fundados motivos para preocupação face ao panorama hoje
existente no sector, o que, em sua opinião, justificaria
«medidas urgentes e não reformas virtuais no papel».
A testemunhar esse estado de coisas está, por exemplo, a
circunstância de a despesa per capita de investigador em
Portugal corresponder a 37,5 por cento da média europeia, ao
mesmo tempo que se agrava em termos de financiamento a situação
dos grandes laboratórios do Estado. Neste capítulo, segundo
Luísa Mesquita, «há laboratórios com défices acumulados de
muitas centenas de milhar de contos», havendo ainda a registar
os «impedimentos de recrutamento de novos técnicos e
investigadores», para não falar da existência de «património
em risco por incúria e irresponsabilidade»
E perante este quadro de fundo, o que fez o Governo ? No que se
refere ao diploma relativo às instituições de cariz
científico e tecnológico, opta pela «concorrência desleal
entre o sector público e privado, confundindo intencionalmente
os dois sectores», como fez notar Luísa Mesquita, quando
«seria lícito esperar uma política de clarificação da
situação», isto é, como preconiza o PCP, a «clarificação
do que é público e do que não é, e de ser regulado o que é
público, consagrando-o com a vocação e o destino que esse
carácter público lhe confere». Daí a proposta da bancada
comunista de «imediata cessação de vigência» do diploma.
«Erros de concepção e deficiências» marcam, por outro lado,
o diploma referente à carreira de investigação, podendo vir a
agravar as dificuldades sentidas nas instituições. Luísa
Mesquita assinalou sobretudo o facto de o decreto-lei «ignorar a
natureza dos objectivos, missões e necessidades de funcionamento
das unidades de investigação», razão pela qual, sustentou, as
propostas de alteração da sua bancada vão no sentido de
«repor, minimamente, as opiniões da comunidade científica que
se viu impedida de participar na construção do seu próprio
estatuto de carreira».