Lay off e
trabalho temporário
Mais
benesses para o patronato
Com a proposta de lei que materializa um conjunto de alterações ao regime jurídico do chamado «lay off», aprovada faz hoje oito dias no Parlamento, com os votos favoráveis do PS e do PSD, o Governo consumou mais uma peça do «pacote laboral». Para a bancada do PCP, que se opôs firmemente ao diploma, votando contra (tal como o PEV), esta é mais uma maneira de o Governo «dar mais benesses às entidades patronais, transferindo custos de erros e dificuldades de gestão, ou mesmo má gestão, para a Segurança Social».
O deputado
Alexandrino Saldanha sintetizou a questão numa fórmula que
ajuda a entender o essencial das orientações que animam o
Governo em matéria de política laboral: «para os patrões,
menos descontos e mais benefícios, sobretudo à custa da
descapitalização da Segurança Social; para os trabalhadores,
mais incógnitas sobre as reformas futuras, mais precariedade,
mais desregulação e mais insegurança».
Bem se pode dizer, pois, que não faltaram fundadas razões para
as duras críticas oriundas da bancada comunista. Reacções de
contestação ao diploma fizeram-se ainda ouvir dos sindicalistas
presentes nas galerias, que acabaram por ser expulsos às ordens
do Presidente da Assembleia da República, Almeida Santos.
No articulado do diploma, a alteração mais gravosa prende-se
com a mudança do modo como vão ser distribuídos os custos
salariais dos trabalhadores em caso de redução ou suspensão da
prestação de trabalho, anteriormente suportados em partes
iguais pela entidade empregadora e a Segurança Social.
Esta percentagem é agora alterada para 70 por cento a ser
suportada pelo orçamento da Segurança Social e os restantes 30
por cento pelas empresas, podendo no entanto esta percentagem ser
ainda menor se as empresas aderirem à formação profissional
dos trabalhadores, ou seja, atingir, no máximo, 15 por cento
para as empresas.
Para o secretário de Estado das Relações Laborais, Fernando
Ribeiro Mendes, tais alterações têm em vista a viabilização
e recuperação das empresas através do aumento desta
compensação.
Discordando frontalmente, para a Alexandrino Saldanha, a questão
é outra e reside numa política que visa dar «cada vez mais
benesses às entidades patronais». Opondo-se a que seja a
Segurança Social a financiar a crise ou a má gestão
empresarial, a bancada comunista acusou ainda o Governo de não
se preocupar em definir critérios objectivos que pudessem
determinar quando se aplica a suspensão da prestação e
trabalho, nem de obrigar as empresas a fundamentá-la no sentido
da salvaguarda dos interesses da empresa e trabalhadores.
Trabalho temporário
Em debate na semana
transacta esteve ainda uma outra proposta de lei sobre matéria
laboral. Trata-se de um diploma que introduz alterações ao
regime de trabalho temporário. Foi aprovado com os votos
favoráveis do PS e PSD, os votos contra do PCP e do PEV e a
abstenção do CDS/PP.
Entendendo que a venda da força de trabalho através de empresas
de trabalho temporário constitui «mais uma forma de
precarização laboral e de feroz exploração», para a bancada
comunista a atitude correcta deste ou de qualquer outro Governo
deveria ser no sentido da proibição desta «forma de
precarização».
Não o sendo, como referiu Alexandrino Saldanha, então, no
mínimo, o que se esperaria é que fossem respeitadas as normas
internacionais que regulamentam a actividades deste tipo de
empresas.
Nesse sentido, importaria, entre outras, que as alterações ao
diploma contemplassem a exclusão do «âmbito de aplicação do
regime de trabalho temporário sectores de actividade ou
categorias profissionais particularmente perigosas para a saúde
e segurança dos trabalhadores».
Outro aspecto que mereceu a oposição da bancada comunista diz
respeito ao facto de o diploma não estabelecer «medidas de
protecção acrescidas para os trabalhadores migrantes», do
mesmo modo que não prevê a «partilha solidária de
responsabilidades entre empresas de trabalho temporário e as
empresas utilizadoras».