Eleições para o Parlamento Europeu
Socialistas perdem maioria
Esquerda Unitária reforça posições



Pela primeira vez na história do Parlamento Europeu, o grupo dos cristãos-democratas (PPE), que reúne os partidos de direita e seus aliados na assembleia de Estrasburgo, conseguiu um clara vantagem face ao grupo dos socialistas (PSE). O PPE obteve 224 deputados num total de 626, contra 180 do PSE, que perdeu nestas eleições 34 lugares, em grande parte devido aos maus resultados obtidos pelos Trabalhistas britânicos de Tony Blair e pelo SPD de Gerhard Schroder (ver artigos nestas páginas).

Recorde-se que 11 dos 15 governos da União Europeia são liderados pelos socialistas e que agora vão ter de coabitar com uma maioria de direita num Parlamento Europeu que viu reforçados os seus poderes, desde o Tratado de Amesterdão, podendo propor alguns textos legislativos e bloquear as propostas do Conselho de Ministros.
Contrariando a subida da direita, o Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica, em que se integram os deputados comunistas portugueses, foi reforçado com mais um deputado, passando para 35. O mesmo aconteceu com o grupo dos Verdes de passou de 27 para 36 deputados. Estas eleições registaram uma abstenção recorde de 52 por cento.

A CDU-CSU (União Cristã-Democrata e União Cristã-Social/Baviera) obteve 48,7% e 53 deputados, seguida pelo SPD (partido Social-Democrata), 30,7% e 33 deputados; Verdes, 6,4% e 7 deputados; PDS (comunistas), 5,8 % e 6 deputados. Os liberais do FDP e a extrema direita do Republikaner não elegeram deputados.
Em Junho de 1994, a CDU/CSU, obteve 38,8%, 47 lugares; o SPD, 32,2% e 40 lugares; e os Verdes 10,1% e 12 lugares.A Alemanha tem 82 milhões de habitantes, 66 milhões de eleitores e elege 99 deputados. O escrutínio é proporcional e os partidos podem apresentar listas quer ao nível federal quer regional. Só as listas que obtiverem um mínimo de 5% participam na repartição dos mandatos.

O SPO (sociais-democratas) obteve 31,7% e 7 deputados; o OVP (conservadores) 30,6% e 7 deputados; o FPO (extrema-direita), 23,5% e 5 deputados; e os Verdes 9,2% e 2 deputados. O LIF (liberais), não elegeu deputados
A Áustria tem 8 milhões de habitantes e 6,4 milhões de eleitores que elegem 21 deputados num sistema de representação proporcional à escala nacional. O eleitor vota por uma lista mas pode igualmente exprimir um voto preferencial por um ou outro candidato dessa lista. As listas que não recolherem pelo menos 4% dos votos são excluídas da repartição dos votos. Esta foi a primeira eleição para o Parlamento Europeu, uma vez que a Áustria só aderiu à União em 1 de Janeiro de 1995.

No Colégio Eleitoral flamengo, o CVP (Partido Social-Cristão) obteve a maior votação, com 13,8% dos votos e 2 deputados. Por seu lado, o PVV (liberais-flamengos) com apenas 13,5% dos votos conseguir eleger 3 deputados. Seguem-se o Vlaams Blok (Extrema direita Flamenga), com 9,2% e 2 deputados; o SP (Partido Socialista Flamengo) com 8,9% e 2 deputados; Agalev (ecologistas flamegos) com 7,4% e 2 deputados.
No colégio francófono, o PRL (Partido Reformador Liberal) obteve 10% e 3 deputados; o PS (Partido Socialista francófono), 9,6% e 3 deputados; Ecolo (verdes), 8,4% e 3 deputados; PSC (Partido Social-Cristão francófono) 5% e 1 deputado. No colégio germanófono, o CSP-EVP (sociais-cristãos) obteve 0,2% e 1 deputado.
Em Junho de 1994, os resultados foram os seguintes: Colégio flamengo – CVP, 27,4%, 4 mandatos; PVV 18,4%, 3 mandatos; SP 17,6%, 3 mandatos; Vlaams Blok 12,6%, 3 mandatos; Agalev, 10,7%, 1 mandato; Volksunie (federalistas flamengos) 7,1%, 1 mandato. No colégio francófono – PS 30,4%, 3 mandatos; PRL-FDF (Liberais e Frente dos Francófonos), 24%, 3 mandatos; PSC (sociais-cristãos), 18,8%, 2 mandatos; Ecolo (Verts), 13%, 1 mandato; FN (extrema direita) 7,9%, 1 mandato. No colégio germanófono - CSP (sociais-cristãos) 31,1%, 1 mandato.
A Bélgica tem 10,3 milhões de habitantes e 8 milhões de eleitores. A representação é proporcional com um sistema de «votos de preferência», permitindo aos eleitores modificar a ordem dos eleitos nas listas estabelecida pelos partidos. Existem quatro circunscrições e três colégios eleitorais (Flandres e Bruxelas; Valónia e Bruxelas; e o colégio germanófono). O voto é obrigatório.

O Venstre (liberais) venceu com 22,7% e 5 deputados. Seguiu-se o SOC (sociais-democratas), 16%, 3 deputados; Juni-B (antieuropeus), 15,7%, 3 deputados; RV (liberais-radicais), 8,9%, 1 deputado; Konservative (conservadores); 8,2%, 1 deputado; Folk.B (esquerda antieuropeia), 7,1%, 1 deputado; SF (ex-comunistas), 6,9%, 1 deputado; DF (extrema direita), 5,6%, 1 deputado.
Em Junho de 1994, o Venstre obteve 19%, 4 mandatos; Konservative, 17,7%, 3 mandatos; SD (sociais-democratas), 15,8%, 3 mandatos; Movimento de Junho (anti-Maastricht), 15,2%, 2 mandatos; Movimento Popular contra a União, 10,3%, 2 mandatos; SF, 8,6%, 1 mandato; e Radicais, 8,5%, 1 mandatos.
A Dinamarca elege 16 deputados, tem uma população de 5,1 milhões e 4,1 milhões de eleitores. A representação é proporcional à escala nacional. O eleitor pode votar por uma lista completa ou indicar a sua preferência a favor de candidatos individuais.

O PP (Partido Popular) obteve 39,4% e 27 deputados, seguido pelo PSOE com 35,3 e 4 lugares. A Esquerda Unida (forças de esquerda com os comunistas) reuniu 5,8% e 4 deputados; a CIU, CDC (centro direita catalão), 4,49% e 3 deputados; CE (nacionalistas moderados), 3,1% e 2 deputados; a Coligação Nacionalista, 3% e 2 deputados; o Bloco Nacionalista da Galiza, 1,67% e 1 deputado; e o Euskal Herritarrak, 1,49% e 1 deputado. Os verdes com 1,44 não elegeram deputados.
Em Junho de 1984, o PP teve 40,2% e 28 mandatos; o PSOE, 30,8% e 22 mandatos; a Esquerda Unida 13,4% e 9 mandatos, CIU 4,6% e 3 mandatos; Coligação Nacionalista, 2,8% e 2 mandatos. A Espanha tem 39,4 milhões de habitantes, 31,8 milhões de eleitores, e elege 64 deputados, segundo um sistema de representação proporcional a nível nacional.

O KOK (conservadores) obteve 25,3%, 4 deputados; KeKSK (centristas), 21,3%, 4 deputados; SDP (sociais-democratas), 17,8%, 3 deputados; VIHK (Verdes), 13,4%, 2 deputados; VAS (ex-comunistas), 9,1%, 1 deputado. SFP (liberais) 6,8%, 1 deputado; Federação Cristã 2,4%, 1 deputado.
A Finlândia tem 5,1 milhões de habitantes e 4 milhões de eleitores que elegem 16 deputados segundo representação proporcional à escala nacional com voto de preferência. A adesão à UE efectuou-se em 1 de Janeiro de 1995.

O Partido Socialista atingiu 22%, 22 deputados; seguiu-se a lista União pela França e Independência da Europa (ultradireita), com 13% e 13 eleitos; o RPR-DL (direita), 12,8%, 12 deputados; UDF, 9.3%, 9 deputados (centristas); Verdes, 9,7%, 9 deputados; PCF (comunistas), 6,9%, 6 deputados; lista Caça, Pesca, Natureza e Tradições (caçadores), 6,8%, 6 deputados; Frente Nacional (ultradireita), 5,7%, 5 deputados; LO-LCR (extrema-esquerda).
Em Junho de 1994, o RPR-DL teve 25,6%, 28 deputados; o PS, 14,5%, 15 mandatos; a lista União pela França e Independência da Europa, 12.3% e 13 mandatos; a Frente Nacional, 10,5%, 11 mandatos; PCF 6,9%, 7 deputados.

O ND (conservadores) obteve 36,1% e 9 deputados, batendo o PASOK, com 32,9% e 9 deputados. Seguiram-se o KKE (partido comunista), com 8,7% e 3 deputados; o Dikki (esquerda populista) com 6,9% e 2 deputados; SYN (comunistas pró-europeus) 5,1% e 2 deputados.
Em Junho de 1994, o PASOK obteve 37,6% e 10 mandatos; o ND 32,7% e 9 mandatos; A Primavera Política (nacionalistas) 8,7% e 2 mandatos; o Partido Comunista, 6,3% e 2 mandatos; a Coligação de Esquerda, 6,3% e 2 mandatos.
A Grécia tem 10 milhões de habitantes e 8,9 milhões de eleitores. A representação é proporcional à escala nacional. Só os partidos que obtiverem um mínimo de 3% podem participar na repartição dos mandatos, em número de 25 para o Parlamento Europeu.

O CDA venceu com 26,9%, 9 deputados, seguido pelo PvdA (socialistas) 20,1%,6 deputados; VVD (liberais), 19,7%,6 deputados; Esquerda Verde, 11,9%, 4 deputados; SGP,RPF,GPV (protestantes), 8,7%, 3 deputados; Democraten 66 (centro-esquerda), 5,8%, 2 deputados, SP (extrema-esquerda), 5%, 1 deputado.
Em Junho de 1994, o CDA obteve 30,8%, 10 mandatos; PvdA, 22,9%, 8 mandatos; VVD, 17,9%, 6 mandatos; Democraten 66, 11,7%, 4 mandatos; SGP, RPF, GPV, 7,8%, 2 mandatos; e Arco-íris (ecologistas), 3,7%, 1 mandato.
A Holanda tem 15,7 milhões de habitantes e 12,milhões de eleitores que elegem 31 deputados. Existem 19 circunscrições administrativas, mas os votos são contabilizados a nível nacional. representação proporcional com a possibilidade de um voto preferencial nas listas.

O partido mais votado foi o FF (Fianna Fail, nacionalistas), com 38,6 % e seis deputados. Seguiram-se FG (Fine Gael, centro direita) com 24,6% e 4 deputados; os Independentes, com 15% e 2 deputados; os Trabalhistas, com 8,7% e um deputado; e por últimos os Verdes com 6,7% e 2 deputados. O Sinn Fein obteve 6,3% dos votos, mas não conseguiu eleger nenhum deputado.
Em Junho de 1994, o FF tinha obtido 35% e 7 mandatos; FG, 24,6% e 4; Trabalhistas, 11% e 1 mandato; Verdes 7,9% e 2 mandatos; Independentes, 6,9%, 1 mandato. O Sinn Fein recolheu apenas 3% dos votos, em 1994.
Com uma população de 3,7 milhões e 2,7 milhões de eleitores, a Irlanda elege 15 deputados distribuídos por quatro circunscrições segundo um sistema semi-proporcional.

Com 25,2% a Força Itália (democratas cristãos) elegeu 22 deputados, os DS (Democratas de Esquerda) obtiveram 17,3% e 15 deputados; Aliança Nacional (direita conservadora) 10,3% e 9 deputados; a Lista de Emma Bonino 8,5% e 7 deputados; Os Democratas (movimento de Romano Prodi), 7,7% e 7 deputados. A Liga do Norte, 4,5% e 7 deputados; a Refundação Comunista, 4,3% e 4 deputados; o Partido Popular Italiano, 4,2% e 4 deputados.
Seguem-se com dois deputados eleitos, o CCD (democratas cristãos), com 2,5%; o SDI (sociais-democratas), com 2,2%; a CDU (democratas-cristãos), com 2,2%; o Partido dos Comunistas Italianos, com 2,0%; e os Verdes com 1,8%. Por fim, com apenas um deputado eleito, estão a União dos Democratas pela Europa, com 1,6%; O Movimento Socialista Tricolor, com 1,6%; o Rinnovamento Italiano (democratas-cristãos), com 1,1 %; o Partido dos Reformados, com 0,7% e o Partido Republicano Liberal (centro-direita) com 0,5%.
Em Junho de 1994, a Força Itália obteve 20,6%, 27 mandatos; PDS, Partido Democrático de Esquerda, 19,1% e 16 mandatos; Aliança Nacional 12,5% e 11 mandatos; PPI, 10% e 9 mandatos; Liga do Norte, 6,6% e 6 mandatos; Refundação Comunista, 6,1% e 5 mandatos; Pacte Segni, 3,3% e 3 mandatos; Federação dos Verdes, 3,2% e 3 mandatos; Reformadores de Marco Pannela, 2,1% e 2 mandatos; Partido Socialista 1,8% e 2 mandatos; Rete, 1,1% e 1 mandato; Partido Republicano, 0,7% e 1 mandato; Partido Social-Democrata 0,7% e um mandato.
A Itália tem uma população de 57,6 milhões de habitantes, 47,4 milhões de eleitores que elegem 87 deputados, em cinco circunscrições, segundo um sistema de representação proporcional.

O PCS (cristãos-democratas) ganhou com 31,2% e 2 deputados; o POSL (socialistas) obtiveram 23,6% e 2 deputados, o DP (liberais) 20,5% e 1 deputado; e os Verdes, 10,7% e 1 deputado.
Em Junho de 1994, o PCS teve 31,5%, 2 mandatos; POSL, 24,8%, 2 mandatos; DP, 18,8%, 1 mandato; verdes, 10,9%, 1 mandato.
O Luxemburgo tem 429 mil habitantes e 333.900 eleitores. Elege 6 deputados, num sistema de representação proporcional, com a particularidade de permitir que o eleitor elimine nomes de uma lista e os substitua por candidatos de uma outra lista. O voto é obrigatório.

Na Inglaterra, Escócia e País de Gales os Conservadores ganharam com 35,77% e 36 deputados; seguem-se os trabalhistas 28,3%, 29 deputados; Liberais-Democratas, 12,7%, 10 deputados; Independence Party, 7% e 3 deputados; Verdes, 6,3%, 2 deputados; SNP (nacionalistas escoceses), 2,68%, 2 deputados; Plaid Cymru (País de Gales), 1,85%, 2 deputados. Na Irlanda do Norte, venceu o DUP (unionistas protestantes), 28,4%, 1 deputado; SDLP (partido social-democrata e trabalhista), 28,1%, 1 deputado; UUP (unionistas protestantes), 17,6, 1 deputado; e o Sinn Fein (nacionalistas católicos) que com 17,3% não conseguiu eleger nenhum deputado.
Em Junho de 1994, na Grã Bretanha, os Trabalhistas obtiveram 42% e 62 mandatos; os Conservadores, 26,8% e 18 mandatos; os Liberais-democratas, 16,2% e 2 mandatos; SNP, 3,1% e 2 mandatos; Verdes, (3%); e Plaid Cymru (1%) não elegeram deputados. Na Irlanda do Norte: Partido Unionista Democrático, 29,2 %, 1 mandato; Partido Social-Democrático e Trabalhista, 28,9, 1 mandato; Partido Unionista Oficial, 23,8% e 1 mandato; Sinn Fein, 9,7%.
O Reino Unido tem 59,2 milhões de habitantes e 45,6 milhões de eleitores que elegem 87 deputados. A nova leia aprovada em Janeiro de 1999 substituiu o escrutínio por maioritário pela representação proporcional em Inglaterra, Escócia e País de Gales.

O partido S (sociais-democratas) venceu com 26,1%, 6 deputados; o M (conservador) 20, 6%, 5 deputados; V (ex-comunistas), 15,%, 3 deputados; FP (liberais), 13,8%, 3 deputados; MP (verdes), 9,4%, 2 deputados; KD (cristãos-democratas), 7,7%, 2 deputados; C (centro), 6%, 1 deputado.
A Suécia tem 8,8 milhões de habitantes e 6,9 milhões de eleitores. Representação proporcional à escala nacional com voto preferencial. Para eleger deputados é necessário um mínimo de 4%.

_____

Na Grã-Bretanha
Voto contra o euro e Maastricht


As eleições recentes para o Parlamento Europeu produziram resultados que podem considerar-se como derrotas significativas para o governo do «New Labour» e para Tony Blair.

Apesar da enorme percentagem de abstencionistas, os euro-cépticos conservadores conseguiram ser o partido mais votado: viram a sua política contra a adesão ao euro e contra os crescentes poderes daquilo a que se chama «a Europa» sancionada por uma maioria de eleitores. Simultaneamente, o leader conservador, William Hague, consolidou a sua posição à frente do partido e partiu já para a realização de mudanças no «gabinete sombra», rejuvenescendo-o, dando lugar a uma geração de parlamentares mais novos, cheios de ideias mais adequadas aos tempos de agora, na maior parte descomprometidos com as desastrosas administrações de Margaret Thatcher e John Major.
Tony Blair vive na certeza de que a Grã-Bretanha está a seus pés e de que o velho leão decrépito e doente se lhe teria entregue, incondicionalmente. Quantas vezes, porém, já vimos o Partido Conservador ressurgir de derrotas devastadoras quando se esperava que definhasse e morresse? As vitórias históricas dos chefes trabalhistas, Clemen Attlee, Harold Wilson (por duas vezes), a posição que James Callaghan herdou deste e, agora, o aparecimento de Blair a dar resposta (assim parecia) às ansiedades do povo da Grã-Bretanha, pareceram sempre produzir a abertura a novos caminhos para o país e relegar os conservadores para o estudo do passado e para os caixotes do lixo da História. Mas a aplicação de políticas direitistas e a subjugação ao capitalismo deitaram sempre os chefes trabalhistas a perder. E Tony Blair, no entender do povo destas Ilhas, é o melhor exemplo de como um político que o país abraçara para a construção de um futuro diferente pode revelar-se tão decepcionante como todos os outros e fazer-se de dirigente imperial quando se aguardava que inovasse e conduzisse a Grã-Bretanha em direcção às terras férteis do progresso para todo o seu povo.
Com Blair, Margaret Beckett, a organizadora das eleições europeias no seio dos trabalhistas, sofreu, também, uma séria derrota e poderá ser substituída nos cargos que ocupa. Aproximam-se tempos, todavia, em que a situação do próprio Blair poderá ter de ser considerada se o «Labour Part» quiser enfrentar com dignidade e algumas esperanças as próximas eleições gerais.

Desconfiança e hostilidade

Nas melhores tradições britânicas, o povo declarou, ao votar para o Parlamento de Estrasburgo, que não quer aderir ao euro, que deseja manter a sua independência nos terrenos da economia e das finanças, que pretende unir-se na defesa da libra como moeda nacional. Começaram a surgir clamores contra o facto de os comissários que funcionam em nome da Grã-Bretanha na chamada Comissão Europeia serem políticos comprometidos com o euro. Exige-se que William Hague, em nome do partido britânico mais votado, o Conservador, trabalhe para que Chris Patten e o antigo chefe trabalhista, Kinnock (Neil), sejam afastados.
A baixa média de votantes (23 por cento) nestas eleições representa, além da tradicional apatia do eleitorado britânico para com as coisas «europeias», um claro ressentimento contra o estafado processo «democrático» dos políticos oportunistas que, praticamente, exigem que as pessoas adiram, cegamente, ao sistema de votações constantes, com pouco significado, e abdiquem dos seus lazeres para se deslocarem às assembleias de voto. Ninguém pode ser obrigado a votar em candidatos em que não acredita. A desconfiança dos eleitores britânicos face aos manipuladores do sistema para fazerem vingar as suas ambições pessoais e os seus malignos esquemas (como se verificou em Portugal), é cada vez maior. A sua hostilidade, visível.
O povo britânico já tinha demonstrado em ocasiões diversas não morrer de amores pelo Tratado de Maastricht. Desta vez, disse de maneira clara e fascinante, até, que não deseja continuar ligado ao crescimento de uma Europa sobre a qual tem dúvidas, que não aceita a abolição da libra esterlina, que não se deixará submeter aos poderes remotos, incontroláveis, de um «governo europeu» criado por políticos. — Manoel de Lencastre

_____


Eleições para o Parlamento Europeu em Portugal
Boicotes repetiram-se


No passado domingo, 10 das 43 assembleias de voto mantiveram o boicote que abrangeu um universo de 14.379 eleitores. Nine (Vila Nova de Famalicão), Carvalhais (Mirandela), Tourais (Seia), Rio de Moinhos (Penafiel), Sanda, Paços de Gaiolo, Várzea do Douro e Ariz Marco de Canavezes) Canas de Senhorim (Nelas) e Lazarim (Lamego) foram as freguesias onde as urnas não abriram.

Nas restantes onde o boicote foi levantado, registou-se uma taxa de participação de apenas 7,2 por cento, tendo o PS obtido vantagem em 22 freguesias, o PSD em sete e o PCP/PEV em uma. Numa outra freguesia um único eleitor votou em branco e noutras duas ninguém votou.
O PS ganhou em Torres (Trancoso), Aveiras de Cima (Azambuja), Alferrede (Abrantes), Sedielos (Peso da Régua), Nespereira (Cinfães), Raiva (Castelo de Paiva), Miranda do Douro, Constantim, Duas Igrejas, Genísío, Ifanes, Malhadas, Palaçoulo, Paradela, Picote, S. Martinho da Angueira, Sedim, Silva e Vila Chã (Miranda do Douro), Lavos e Marinha das Ondas (Figueira da Foz).
O PSD ganhou em Vilar (Cadaval), nas secções de voto em que houve repetição da eleição, mantendo-se no entanto o primeiro lugar do PS. Ganhou ainda em Alpendurada e Matos (Marco de Canavezes, Dornelas (Boticas), Vilarouco (S. João da Pesqueira), Vermil (Guimarães) e Atenor, Cicouro e Póvoa (Miranda do Douro).
No lugar de Adofreire, freguesia de Pedrógão, concelho de Torres Novas, um único eleitor votou na Lista do PCP/PEV.
Nas freguesias de Bigorne (Lamego) e Faial da Terra (povoação ninguém votou e na Gandera (Paredes) foi registado um único voto em branco.


«Avante!» Nº 1334 - 24.Junho.1999