Irlanda
Uma semana para sair do impasse


O impasse total em que há um ano se encontram as negociações de paz para a Irlanda do Norte continua por desbloquear. Após cinco dia de um diálogo de surdos em Stormont, os primeiros-ministros de Londres e de Dublin decidiram sexta-feira dar «uma última hipótese» a nacionalistas e unionistas para formarem um governo norte-irlandês até 15 de Julho.

De acordo com a proposta apresentada, os membros do novo executivo deverão ser nomeados na próxima quinta-feira, cabendo ao Parlamento britânico proceder à transferência dos seus poderes administrativos para a Irlanda do Norte até 18 de Julho. O desarmamento do IRA - cavalo de batalha dos protestantes que tem provocado o impasse nas negociações -, bem como dos restantes grupos paramilitares, deverá começar «nos dias seguintes», ficando o processo concluído em Maio de 2000.
O plano foi apresentado por Tony Blair e Bertie Ahern como sendo «a maior ocasião histórica de há  anos a esta parte», pelo que cabe aos representantes das duas comunidades «aproveitar» a oportunidade, de forma a que os habitantes da Irlanda do Norte possam encarar «o futuro com confiança».
O plano estipula que em caso de não cumprimento de uma ou outra das partes, o edifício constitucional previsto pelo acordo será «suspenso».
As primeiras reacções dos unionistas estão no entanto longe de ser animadoras. «Continuamos sem receber os compromissos que poderiam ser aceites pelos protestantes unionistas (...) as garantias são fracas. (...) Precisamos de mais pormenores», disse David Trimble, dirigente dos Unionistas do Ulster.
Mais optimista mostrou-se Gerry Adams, líder do Sinn Fein, a ala política do IRA, para quem o projecto de acordo só pode ser acolhido com «um enorme suspiro de alívio no mundo inteiro», pois é «o melhor acordo» para todos os partidos.
Optimista está também o general John de Chastelain, que preside a uma comissão sobre o desarmamento das milícias, e foi encarregado de iniciar quanto antes negociações com todos os grupos envolvidos. Chastelain considera que o processo de desarmamento pode começar «praticamente dois dias depois da transferência dos poderes de Londres para Belfast. E as primeiras armas podem ser entregues logo semanas depois do início deste processo».

Contradições

O facto é que, de imediato, todos os unionistas do Ulster, quer os que se dizem a favor como os que são contra o Acordo de Paz de Sexta-feira Santa, rejeitaram as novas propostas, reafirmando que não participariam num governo com os republicanos antes de ter principiado a entrega das armas pelo IRA.
Os deputados Unionistas do Ulster afirmam que as propostas não são suficientes para garantir que o IRA vai  esvaziar os seus depósitos secretos de armamento. Por seu turno, Ken Maginnis, um dos responsáveis do UUP, o principal partido protestante, considera que Tony Blair «traiu à última hora» os unionistas.
Fortemente pressionado pelos protestantes, Blair manifesta a sua incapacidade para controlar o processo desdobrando-se em atitudes contraditórias. Paradigmática é a sua ameaça de expulsar o Sinn Fein do futuro executivo norte-irlandês caso o IRA não aceda em desarmar-se. Como Gerry Adams prontamente recordou, uma tal medida não consta do acordo de paz de Stormont. «Está fora de questão o governo britânico introduzir uma legislação para expulsar o Sinn Fein», disse Adams, reafirmando a posição do partido de que a questão do desarmamento dos diferentes grupos paramilitares deverá ser tratada independentemente da formação do governo e que, em caso de desrespeito pelo acordado, este deverá ser dissolvido e não, como pretendem os protestantes, que apenas o Sinn Fein seja afastado.
Foi neste contexto que se iniciaram, no passado domingo, as polémicas marchas da Ordem de Orange, sob forte vigilância policial e com proibição de atravessarem os bairros católicos. Durante o dia não se registaram incidentes, mas a noite foi de violência. Seis polícias ficaram feridos e dois manifestantes protestantes foram detidos em confrontos registados em Portadown, sudoeste de Belfast.


«Avante!» Nº 1336 - 8.Julho.1999