Michael Jackson
- do ‘Domingo Sangrento’
ao Kosovo


Irlanda do Norte, 30 de Janeiro de 1972. Um dia que ficou na história com o nome de Bloody Sunday (Domingo Sangrento).

Cerca de 15 mil pessoas, católicos republicanos e nacionalistas, habitantes do ghetto de Derry, participam numa marcha pacífica pela democracia, contra a discriminação de que são alvo por parte das autoridades de Londres e dos seus representantes locais (protestantes), contra a repressão da RUC (polícia norte-irlandesa, fanaticamente unionista).
Quando o cortejo chega à praça Free Derry Corner, onde se devia realizar um comício, eram já cerca de 30.000 os manifestantes. Bernadett Devlin, dirigente da Associação para os Direitos Civis que convocara a marcha, prepara-se para intervir, mas não chega a usar da palavra. Quem intervém, de forma brutal, é o exército. O resultado é conhecido: 14 mortos, 16 feridos. Um banho de sangue que enluta a Irlanda, envergonha o Reino Unido, faz estremecer o mundo.
O que muitos não sabem é que um dos oficiais responsáveis por esta carnificina foi Michael Jackson, o agora general inglês e comandante da NATO no Kosovo.
«Não se podia ter escolhido melhor para levar a paz e a reconciliação aos Balcãs», escreve o jornalista italiano Fulvio Grimaldi em artigo recentemente publicado no Liberazione.
Grimaldi testemunhou o massacre e registou-o com a sua câmara para a posteridade. As imagens correram mundo, mas foram proibidas na Grã-Bretanha. Só há dois anos o bloqueio foi rompido por uma televisão independente, Channel 4.
Vinte e sete anos depois, Grimaldi prepara-se para ir a Derby dar o seu testemunho dos acontecimentos, no âmbito da investigação que está a ser levada a cabo, mas não acredita que Jackson - para quem o Domingo Sangrento foi «uma brilhante operação militar» - possa vir a ser condenado.
Em vez de ser incriminado, Jackson foi promovido. Comanda as forças da NATO no Kosovo, com o saber da experiência adquirida ao longo da sua carreira, em que se incluem, entre outras coisas, os seis anos que passou na Irlanda do Norte, os serviços de segurança em Berlim durante os tempos da ‘Guerra Fria’ e o comando das forças britânicas na Bósnia.


«Avante!» Nº 1336 - 8.Julho.1999