Ferreira de Castro
Autodidacta e precursor do neorealismo


Ferreira de Castro, precursor do neorealismo em Portugal e o mais traduzido dos escritores do nosso país antes do 25 de Abril, morreu há 25 anos.

José Maria Ferreira de Castro, nascido a 24 de Maio de 1898, em Salgueiros, freguesia de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis, foi um autodidacta. As suas habilitações literárias não ultrapassaram o segundo grau da instrução primária.
Filho de uma família pobre, Ferreira de Castro emigrou em Janeiro de 1911 para o Brasil, regressando a Portugal em Setembro de 1919. Viveu em plena selva amazónica, ali escrevendo o seu primeiro romance: Criminosos por ambição. Foi também no Brasil que o escritor se tornou jornalista.
Toda a sua biografia até à consagração, como se assinala na «História da Literatura Portuguesa» de Saraiva e Oscar Lopes, equivale a «um romance de infância pobre, engajamento para o Brasil, exploração desumana, miséria, luta autodidáctica pela cultura, ascensão desde a literatura popular em fascículos (distribuída às portas pelo próprio autor) até ao jornalismo local, deste até ao jornalismo defensor do imigrante, regresso à Pátria, jornalismo combativo em Lisboa, novelística folhetinesca (depois publicada em volumes) e finalmente o êxito nacional e internacional».
A vivência na emigração no Brasil e em especial na Amazónia, por vezes em condições de grande miséria, serviu-lhe de tema para dois romances, que viriam a consagrá-lo no país e a nível internacional: Emigrantes (1928) e A Selva (1930).
O romance Emigrantes assinala mesmo a consagração pública de um realismo novo, de que Ferreira de Castro se afirma como o mais importante precursor. O romance A Selva, baseia-se na sua dura experiência no Brasil, para onde emigrou aos 12 anos, trabalhando durante quatro anos num seringal da Amazónia.
A sua iniciação ao jornalismo começa em Belém do Pará, com colaborações nos periódicos »Jornal dos Novos» e «A cruzada». Em 1917 chegou mesmo a fundar um jornal, o semanário «Portugal».
Em 1919 regressou a Lisboa. Fundou a revista «A Hora» (1922) e o magazine «Civilização» (1928) e acumulou funções nas publicações «O Século», «ABC» e «O Diabo».
De regresso a Portugal , não foi fácil o recomeço da sua vida profissional. Sobreviveu em condições de extrema miséria, até começar a colaborar com o jornal «Imprensa Livre», em 1922, data em que inicia também a publicação de novelas.
Com regularidade, entre 1923 e 1927, já escritor reconhecido, trabalha para dezenas de jornais e revistas.
Em 1934 abandona o jornalismo profissional, quando trabalhava como redactor no jornal «O Século». Este jornal, já desaparecido, publicou em folhetins um dos seus romances, Terra Fria, que recebeu o prémio Ricardo Malheiros, da Academia de Ciências de Lisboa.
Com uma situação material mais equilibrada, produto dos direitos de autor internacionais, Ferreira de Castro empreende uma viagem ao Mediterrâneo Oriental, que lhe serviu para escrever o seu livro Pequenos mundos e velhas civilizações.
Nos finais dos anos 30 as suas principais obras estão já traduzidas em numerosos idiomas. Na década seguinte escreve vários títulos, com destaque para A lá e a neve, que foca os conflitos relacionados com a pastorícia e tecelagem na Beira Baixa e, na apreciação dos autores da «História da Literatura Portuguesa», contém algumas das situações mais emotivas do novo realismo social».
Nos anos 50/60 edita, entre outros, os romances A curva da estrada, A missão, O instinto supremo e o conjunto de comentários intitulado As maravilhas artísticas do mundo sobre as grandes obras de arte.
O seu último romance, Os fragmentos, data de 1974.


«Avante!» Nº 1336 - 8.Julho.1999