EPC, PS, BE a mesma luta
Tiremos o chapéu à forma notável como
Eduardo Prado Coelho gere o tempo e o modo de exibir o seu comum
amor a si próprio, ao PS de Guterres e ao Bloco de Rosas,
Louçã e Portas. Tanto no período pré e pós eleições
europeias como neste tempo de pré legislativas, EPC sempre soube
escolher o momento e o registo adequados para falar dos seus
actuais dois amores político-partidários e para desnudar a
profunda coerência em que assenta essa dupla filiação
partidária. Fá-lo, de facto, sem deixar dúvidas de que, nesta
sua dúplice relação amorosa, não há a mínima sombra de
traição, adultério, bigamia ou coisa assim.
É certo que qualquer cidadão distraído se não levar a
distracção ao ponto de não se aperceber sequer dessa
duplicidade verá nesta postura de ECP uma contradição e
perguntar-se-á como consegue ele aplaudir um partido que, no
Governo, faz o que o PS está a fazer e, simultâneamente, bater
palmas a outro partido acabadinho de chegar da Europa e
impecávelmente traduzido, é certo, mas que é suposto
constituir o último grito em matéria de oposição de esquerda
à política governamental. Ora, por mais incrível que pareça,
não há qualquer contradição nesta plural relação de EPC:
colocando-se estratégicamente de braços dados com o PS e com o
BE, EPC posiciona-se no ancestral centro gerador do conteúdo
político-ideológico que alimenta esses dois partidos e lhes
confere essenciais objectivos comuns, nomeadamente o de procurar
enfraquecer o PCP diminuindo a sua influência social, eleitoral
e política.
Por tudo isto, EPC foi convocado para a Convenção do Partido
Socialista. Não porque alguém estivesse interessado em vê-lo
actuar no Coliseu mas para que escrevesse posteriormente o que
lhe competia escrever. E EPC cumpriu: regressou do Coliseu como
que em estado de graça, extasiado pelos dotes de super
comunicador do Engenheiro, coisa que o fez pataratar de tal jeito
e com tal despropósito que só lido, contado ninguém acredita.
Tal como, segundo EPC, aconteceu aos presentes no espectáculo,
também ao pobre de mim se rasaram os olhos de lágrimas ao ler,
na câmara lenta que EPC quis que o seu texto fosse, a gutérrica
»...E se falésias são, como suponho, rochas altas e íngremes,
estou em crer que nisso está a razão de tantas lágrimas, na
medida em que a imagem projectada por Guterres e glorificada por
EPC nos relata não, como diz o panegirista, a mas uma horrorosa
tragédia, uma espécie de segunda cruzada das crianças.
Amanhã EPC voltará aos seus rapazes do Bloco: incitando-os a
insistirem em apresentar-se e, especialmente, a cavarem tanto
quanto puderem nas . E assim fazendo estará a dizer, à sua
maneira, que a obtenção da maioria absoluta pelo PS é tão
necessária e importante como a obtenção pelo BE de um bom
resultado eleitoral - desde que, especialmente neste caso,
conseguido à custa do enfraquecimento da CDU.
E é nesta suave harmonia, neste assumido e, certamente,
gratificante ménage à trois que EPC vive os seus dias
presentes. Mais tarde, quando a democraticíssima alternância
impuser a substituição do PS pelo PSD na execução da
política de direita comum aos dois, EPC mudará a agulha... das
conveniências. Mas essa será outra história. Para já, e por
enquanto, o seu slogan é este: EPC, PS, BE a mesma luta.
José Casanova